O desemprego no Algarve aumentou 232% em junho. O apelo que fiz
para que o GRM incentive a criação de - sem ter receio de chamar as coisas
pelos seus nomes - dedicado a acompanhar este assunto, e outros, a antecipar
outros cenários mais catastróficos e verificar o efeito real das medidas
anunciadas, no mercado e nas empresas, vai cair no lixo. Eu sei disso. Mas para
memória futura a recomendação aqui fica bem como ao nosso parlamento regional
para que tenha uma estrutura dedicada em permanência apenas a acompanhar este
assunto do impacto social e económico da pandemia, ou estando ficando acima de
comissões especializadas. Duvidam que na RAM isto vai chegar bem dentro de
todos nós, e que vai doer mesmo, demasiado? Oxalá esteja enganado, mas em breve
nadas será mais importante nem prioritário que fazer tudo isto, centrar as
atenções nestes assuntos. E quem não fizer estará a cometer um erro clamoroso e
a tomar uma decisão desastrada. E estes tempos não são para iluminados,
sabichões ou donos da verdade. Ninguém nestes tempos de incerteza é dono da
razão. A RAM, tal como todas as demais regiões insulares e periféricas, vão
sofrer. E pragmaticamente: nada pode ficar como antes, desde a estrutura
empresarial regional, ao tipo de negócio a autorizar porque a pandemia exige
mudanças e selecção. Sem esquecer as especificidades de apoios que eram
concedidos na normalidade a negócios que mostraram a sua fragilidade absoluta e
total até na retoma, passando pelo tipo de actividades que devem ser
prioritárias e como devem ser desenvolvidas, às mudanças no trabalho, e não
apenas na questão do teletrabalho, sem esquecer uma selecção qualitativa e
quantitativa de negócios e empresas para que nada disto se volte a repetir.
Desculpem, mas tasca ao lado de tasca, restaurante à frente de restaurante,
numa terra pequena como a nossa, que depende dos turistas e de mais nada, são
realidades questionáveis, em toda a linha. Diversificação, aposta forte no
digital, cada vez mais no digital, pressão das novas atitudes dos consumidores,
exigência de novas respostas da oferta, uma nova lógica comunicacional, etc, um
sem fim de mudanças de paradigmas sectoriais que precisam ser acompanhadas
quanto antes, em vez de estarem todos sentados de cadeirão à espera de 2021 e
de tudo o que de mau ele vai trazer.
Estes tempos são para tremendos e desafiam os políticos mais preparados e mais
competentes, inovadores e arrojados, corajosos e pragmáticos, em relação aos
quais nunca as exigências das pessoas e das empresas e da economia em geral,
foram tão altas. Mas são tempos também desafiantes das instituições, públicas e
privadas, para que elas alargarem e vão rapidamente ao encontro de uma nova
realidade social onde se inserem, e que até pouco tempo não passaria de utopia
de sonhadores sem os pés assentes na terra. Veio a pandemia e viu-se, bastaram
4 meses, 4 simples meses, para que tudo tenha ido esgoto abaixo. O pior crime
agora cometido seria o desvalorizar da realidade, o acomodamento, o cruzar de
braços, a tentativa do "deixa andar" ou a tese idiota do "logo
se vê". Até o poder deixou de importar. A política tem que mudar, os
partidos, as campanhas eleitorais, o discurso, os dirigentes, etc, tudo vai ser
obrigado a mudar, imposição incontornável da realidade social que os esmagará,
se nada disto for feito. O povo sabe que os desafios que se seguem são de
sobrevivência colectiva. A pior traição que a política e os políticos
podem fazer às pessoas, será falharem quando elas mais pedem deles. (LFM)
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