sexta-feira, julho 24, 2020

Os primeiros resultados da corrida mundial à vacina

Vacinas da Universidade de Oxford e da americana Moderna terminam última fase de ensaios clínicos no outono. Eficácia está a ser estudada e ainda falta saber qual a duração da imunidade que conferem. Duas das mais de 140 equipas de todo o mundo que estão a desenvolver vacinas para o novo coronavírus anunciaram esta semana estar já nas últimas fases dos ensaios clínicos e com resultados positivos. Apontam as datas de conclusão dos estudos já para este outono, coincidindo com a fase em que os epidemiologistas em vários países receiam um novo aumento significativo do número de infeções. Ainda assim, são reduzidas as expectativas de que uma vacina eficaz esteja pronta para ser produzida em larga escala antes de 2021. A equipa da Universidade de Oxford é uma das poucas que estão já na terceira e última fase de ensaios clínicos. Esta semana, os cientistas vieram divulgar “resultados promissores” nos testes em humanos que começaram em abril e devem terminar em setembro, envolvendo milhares de pessoas no Brasil, África do Sul e Reino Unido. Com a produção de dois milhões de doses já garantida pela farmacêutica britânica AstraZeneca, a equipa de Oxford garante que a vacina está a desencadear a resposta imunitária pretendida, através da produção de anticorpos e imunidade celular. Citada pela “Bloomberg”, a cientista que lidera a investigação, Sarah Gilbert, acredita que a vacina terá 80% de eficácia a evitar que as pessoas expostas ao vírus fiquem doentes. Elogiando os esforços mas refreando expectativas, o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, admitiu que o mais provável é que a vacina só chegue em 2021.

Também a empresa de biotecnologia americana Moderna anunciou que vai entrar na terceira fase de ensaios clínicos este mês, devendo terminar em outubro. Num artigo publicado em julho, citado pela “Time”, os cientistas apresentaram os resultados do primeiro teste com 45 voluntários, concluindo que todos os participantes produziram anticorpos com capacidade de neutralização do vírus idêntica à dos doentes infetados com SARS-CoV-2 que recuperaram. Prevê-se que esta vacina venha a ser dada em duas doses. “É o que se espera deste tipo de vacina contra um vírus emergente que não está presente na população. O sistema imunológico precisa de ser configurado pela primeira dose para responder mais vigorosamente à segunda”, explicou à “Time” Lisa Jackson, autora principal do artigo científico.
DURAÇÃO DA PROTEÇÃO
Além de ser preciso provar a eficácia destas vacinas na proteção da população, falta também saber qual a duração da imunidade que irão conferir, para perceber se será suficientemente duradoura ou irá obrigar a reforços muito frequentes. É aí que reside um dos grandes desafios do desenvolvimento de uma vacina para o novo coronavírus, uma vez que já se sabe que a imunidade natural é baixa e que o nível de anticorpos sofre uma grande redução ao fim de alguns meses (ver também “Imunes sem o vírus”). “Não sabemos se as vacinas vão dar uma proteção de longa duração e total. Mas mesmo que não seja muito duradoura, será um avanço significativo. Nem que seja para reduzir a mortalidade durante, por exemplo, um ano”, defende Paulo Paixão, virologista da Nova Medical School.
Das mais de 140 equipas de cientistas que estão a desenvolver vacinas a nível mundial, há três na última etapa de ensaios clínicos (fase III), 11 na segunda fase, 19 na primeira e mais de cem ainda num período pré-clínico, segundo o balanço feito esta semana pelo “The Guardian”. Sabe-se que, em condições normais, uma vacina leva, em média, dez anos para ser desenvolvida, em parte porque uma das condições para ser aprovada é a existência de dados sólidos e prolongados no tempo em relação à sua segurança e eficácia. Face à emergência vivida a nível global, a dúvida é se os reguladores irão aligeirar os critérios de aprovação para que seja possível, de forma segura, acelerar o processo. A autoridade reguladora nos Estados Unidos já admitiu aceitar uma vacina que proteja ou diminua a severidade da doença em pelo menos 50% das pessoas (Expresso, texto da jornalista RAQUEL ALBUQUERQUE)

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