sexta-feira, março 04, 2016

PS-Coimbra: a guerra dos militantes fantasma que dura há mais de cinco anos...

As eleições para a distrital do PS em Coimbra estavam marcadas para o próximo sábado, mas foram suspensas. A direção nacional do PS decidiu envolver-se numa polémica que dura há mais de cinco anos relacionada com a inscrição de militantes falsos. O assunto vai ser analisado na próxima reunião da Comissão Nacional do PS. O caso foi denunciado em 2011 pela militante socialista Cristina Martins, que veio a Lisboa alertar a direção de António José Seguro para as irregularidades.
“De 2010 para cá tem havido uma filiação com claras irregularidades. Acredito que sejam para cima de mil os militantes falsos que estão nos cadernos eleitorais. O atual presidente da federação do PS de Coimbra Pedro Coimbra meteu centenas de fichas falsas com muitas irregularidades. Há fichas que têm três ou quatro irregularidades”, diz ao i a professora de Matemática. A denúncia não teve, nessa altura, consequências e levou à expulsão de Cristina Martins do PS por ter tornado o caso público. Dirigentes com peso como Manuel Alegre manifestaram desconforto com “a expulsão de Cristina Martins, militante socialista exemplar”. Mas o afastamento não foi a única consequência para a professora universitária. “O meu carro sofreu algumas porradas e algumas bem graves e que me custaram bem caro. Foi complicado. Expulsaram-me, perseguiram-me, tentaram tudo, mas tiveram azar porque não sou pessoa de ter medo”.
“Não faço a mínima ideia” O caso chegou à justiça e o Ministério Público apurou que existiam, pelo menos, 261 fichas de militantes “em situação ilícita” com dados falsificados por 18 arguidos. Há, porém, referência no processo a mais de 600 fichas falsas, em que não se apurou a responsabilidade. Pedro Coimbra, actual presidente da distrital e recandidato ao cargo, é acusado de estar envolvido na inscrição de militantes fantasma. Confrontado com esta acusação, Pedro Coimbra diz ao i que não faz a “mínima ideia” se existem militantes falsos nos cadernos eleitorais. “Julgo que não. O caderno eleitoral de Coimbra parece-me o mais rigoroso do país inteiro. Foi passado a pente fino pelas autoridades. Mas os cadernos vão ser limpos e vamos a eleições”.
Atirar lama
Pedro Coimbra é o único candidato à distrital e numa declaração escrita enviada á agência Lusa reagiu às acusações manifestando o “mais veemente repúdio pelo comportamento de alguns,­ poucos felizmente, que, deturpando os factos e a realidade, vão tentando atirar lama para cima de outros, como forma de descarregar as suas próprias frustrações pela simples razão de serem incapazes de nas urnas recolherem o reconhecimento que procuram obter de outras formas”.
Uma guerra antiga
A guerra entre os socialistas de Coimbra tornou-se pública em 2010, quando a luta pela distrital era entre Vítor Batista e Mário Ruivo. O ex-deputado socialista Vítor Baptista denunciou, nessa altura, que André Figueiredo, homem de confiança de José Sócrates, lhe ofereceu “um qualquer lugar de gestor público, desde o metro em Lisboa, à CP, ou Refer” com um ordenado à volta dos 15 mil euros. Em troca, Vítor Baptista desistia da corrida. O ex-deputado socialista falava em situações irregulares como o “pagamento coletivo” de quotas. Uns anos depois, em 2014,  foi a vez de Mário Ruivo, apoiante desde a primeira hora de António Costa, denunciar “irregularidades” no confronto com Pedro Coimbra, que ganhou as eleições e continua à frente da federação. Mário Ruivo garantia, nessa altura, que “nos cadernos eleitorais há militantes que não deviam constar, porque não estão em condições de votar”. Ao fim de seis anos, o PS promete avançar com a limpeza dos cadernos eleitorais, mas o partido volta a dividir-se sobre a dimensão das irregularidades. Cristina Martins fala em mais de mil, mas o presidente da Comissão Organizadora do Congresso, Luís Marinho, está convencido que são cerca de 200 militantes num universo de dez mil. “Essas pessoas estão numa situação irregular e serão retiradas”, acrescenta Marinho. A polémica vai ser discutida já na próxima reunião da Comissão Nacional do PS, que irá marcar uma nova data para as eleições (pelo jornalista Luís Claro, Jornal I)

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