quinta-feira, junho 04, 2015

Opinião: coligação (na Madeira) para quê e porquê?



Não percebo que contas farão o PSD e CDS na Madeira para concluírem (ou não) que uma coligação na Região é uma mais-valia eleitoral, ainda-por-cima quando é sabido que nos Açores, onde os dois partidos estão ambos na oposição, a coligação foi rejeitada. Tenho dificuldade em entender, o mal deve ser meu, como é que um partido que está no poder (PSD) pode encontrar - mesmo ressalvando que se trata de eleições nacionais - com um partido que está na oposição regional (CDS) e que lá vai continuar, mesmo depois das legislativas de Setembro deste ano, a combater politicamente o PSD madeirense e a sua governação. Como aliás é compreensível e normal que o faça.

Uma coisa é um novo ciclo político, com novos protagonistas e novas ideias, que têm da política uma ideia diferente, porventura mais dialogante e menos fundamentalista em termos ideológicos e de princípios e valores. Nalguns casos recomendo a leitura do programa do PSD e alguns manuais de teoria política. Mas isso não se pode confundir com promiscuidade ideológica, com desfiguração dos partidos. O PSD não é um partido de direita, não defende valores e princípios de direita, por vezes radicais. A nível nacional é mais do que evidente que o PSD pode ser tudo menos um partido social-democrata. Sá Carneiro nunca de reveria num partido destes para quem é mais importante empobrecer sempre e cada vez mais, facilitar desemprego, convidar à emigração, roubar pensionistas e reformados, atacar o estado social – pedra essencial de uma sociedade social-democrata na verdadeira aceção da palavra. Mas isso pouco importa. Sá Carneiro está morto e o PSD nacional permanece refém de interesses obscuros, depois de ter sido assaltado por um grupelho de oportunistas.

Vem nos livros, mesmo que eu perceba que isso também pouco importa. Pelo menos até ver: uma coligação ou é construída por partidos que estão no poder e que querem sobreviver a todo o custo no poder, jogando com a expectativa de benefícios com o método de Hondt, ou então junta partidos que estão na oposição e querem chegar ao poder. Não há volta a dar a isto. Nunca vi uma coligação juntando partidos no poder e na oposição. Ninguém consegue perceber essa confluência de interesses tão díspares entre partidos que rapidamente voltarão a estar em frentes de combate político antagónicas.

O PSD elegeu na Madeira, nas legislativas de Junho de 2011, quatro deputados contra 1 do CDS e 1 do PS. A realidade é essa. Nas eleições regionais o PSD somou nova maioria absoluta por apenas um deputado, e apesar de ter alcançado o seu pior resultado de sempre em regionais, quer em termos absolutos, quer em termos percentuais. Obviamente que ninguém responsabiliza por isso os novos dirigentes e particularmente Miguel Albuquerque. Seria idiotice e desonesto. O PSD na Madeira tem sido penalizado pela crescente abstenção, pela frustração das pessoas, pela deceção dos nossos jovens, etc.

Os quatro anos de austeridade estarão em cima da mesa. Os funcionários públicos não vão esquecer-se o que lhe fizeram. Os reformados e pensionistas não vão esquecer os roubos de que foram vítimas, nem ignorar as ameaças recentes de novos cortes nas pensões e reformas que apenas são escondidos pela coligação nacional por mero oportunismo e por temer que essa proposta acabe definitivamente com a réstia de esperança (mais para a propaganda do que um ato de sinceridade) que possa ainda existir. E que se fica a dever ao demérito do PS, à desastrosa liderança de Costa, às banalidades, contradições, facilitismo e demagogia barata do seu discurso, à fragilidade por vezes patética da liderança socialista na Assembleia da República, à presença fantasmagórica de José Sócrates nesta campanha e no discurso da coligação PSD/CDS, enfim à conjugação de fatores políticos que acabam por penalizar mais o PS do que propriamente a coligação que certamente tem a noção do que vale eleitoralmente.

A única coligação que tivemos na Madeira foi para Europeias de 2014 e os resultados na Região foram catastróficos: 31% dos votos expressos, 27.079 votos, participação eleitoral inferior a 34% (87.340 votantes dos 257.919 eleitores inscritos) contra 19.713 votos do PS, 22,6%. Estas eleições europeias de 2014 foram ganhas, em termos nacionais, pelos socialistas (de Seguro) que elegeram apenas mais um deputado que PSD/CDS: 1.033.158 votos, 8 deputados eleitos, 31,5% para o PS contra 909.932 votos, 27,7% e 7 deputados para a coligação. Os socialistas foram claramente penalizados pela surpresa do MPT de Marinho e Pinto que foi o 4º partido mais votado com 234.603 votos, 7,1% e 2 deputados eleitos. Recordo, no caso da Madeira, que nestas europeias de 2014 o CDS regional “amuou” e oficialmente não participou na campanha eleitoral, não esteve presente em nenhum ato público nem veio para a rua em campanha e apelar ao voto.

Obviamente que nestas eleições legislativas deste ano as coisas mudam de figura e essa peregrina teoria de José Manuel Rodrigues de que a decisão dependerá da possibilidade de ajudarem (na Madeira) a coligação a nível nacional nos seus propósitos eleitorais de travar os socialistas, é demagógica, caricata mesmo.

Acho que uma eventual coligação na RAM terá reflexos contrários aos desejados. O facto de os cidadãos verem José Manuel Rodrigues e Miguel Albuquerque lado-a-lado em ações de campanha, mais do que acelerar a confusão entre oposição e poder que afinal até andam de braço-dado, isso reavivará uma coligação nacional que apesar de tudo o que possam dizer sobre ela, não tem junto do eleitorado, pelo contrário, uma imagem positiva ou mobilizadora. Ou seja, numa situação extrema, tal cenário até pode constituir uma opção desastrosa. Mas, repito e insisto, a minha opinião vale o que vale e nem sou parte no processo decisório. Quem sabe se não serei eu quem já não percebe patavina de política.

Sou militante do PSD há mais de 40 anos, desde que foi criado. Portanto, não recebo lições de ninguém quanto a isso. Muito menos sou cristão-novo. A única coisa que refiro neste momento é que estando obviamente contra a coligação com o CDS, nestas circunstâncias (mistura promíscua entre poder e oposição, para engano dos eleitores), temo ser obrigado a reivindicar o direito de eleitoralmente tomar pela primeira vez, e de lamentar, uma opção que nunca julguei possível. Mas uma coisa é o que eu penso e tenho o direito de defender, outra coisa é ter a consciência do que isso vale, rigorosamente nada, já que caberá sempre ao PSD-Madeira e aos seus órgãos regionais, quando confrontados com essa decisão, tomarem a melhor opção” (LFM)

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