Uma das coisas
que mais me incomodaram e entristeceram - mas não vamos falar nessa
infelicidade - foi quando no local menos adequado e quando nem sequer estava
presente, catalogaram daquela forma habitualmente tão simplista como todos se
recordarão um meu texto de opinião sobre a TAP, no qual defendia a companhia
aérea portuguesa (sobretudo na lógica da Madeira), como uma espécie de "deambulação
corporativista" (de jornalistas) pelo simples facto da TAP oferecer -
imagine-se - "viagens de borla" aos profissionais da comunicação
social. O que se passou foi indigno, sobretudo para quem teceu tais comentários
despropositados e injustos e totalmente falsos, provavelmente esquecendo-se que
se havia pessoas que viajavam à borla na TAP essas não eram certamente os
jornalistas...
Acresce que,
mesmo que tal insinuação fosse verdadeira, que não é, nunca um jornalista com
carteira profissional legalmente depositada na entidade competente, poderia
alguma vez beneficiar desse "favorzinho" da TAP para depois ficar à
espera de referências elogiosas por parte dos viajadeiros. Um enredo absolutamente platónico mas percetível...
Não me esqueci dessa desconsideração e não me sinto obrigado a esquecê-la. E
isto para quê? Porque vou falar da TAP, da venda de uma companhia, num processo
com contornos ainda obscuros.
Aparentemente
retive e fiquei até hoje com a sensação de que o governo de coligação de Passos
e do CDS de Portas, tudo fez para se livrar da companhia aérea de bandeira
rapidamente (pareciam mais que aquele rato atómico dos desenhos animados...),
alegadamente porque representava um encargo anual da ordem dos 100 milhões de
euros, implicava apoios financeiros que a Comissão Europeia proibia, tinha um
passivo a rondar os 2 mil milhões de euros - para não falar nas necessidades de
tesouraria da ordem dos 250 milhões de euros imediatos e das próprias
necessidades de investimento, sobretudo em novos equipamentos, que as estimativas
mais contidas estimavam que, numa fase inicial, chegassem aos 500 milhões de
euros. Percebe-se, a ser verdade tudo isto, o pesadelo que pairava sobre
aquelas cabeças pensadoras…
Basicamente a narrativa
da propaganda foi esta: ou a TAP era vendida ou pura e simplesmente fechava e
falia. Mais ou menos o que aconteceu com outras companhias de bandeira que
foram "engolidas" por estranhos processos de aquisição e/ou fusão que
se revelaram catastróficos para a companhia estatal. Sempre.
Como ninguém
teve acesso ao processo da venda da companhia - o que não deixa de ser curioso,
por se tratar "só" da venda da TAP... - não podemos confirmar se as
prerrogativas inerentes ao concurso público e á decisão de venda foram ou não
as mais acertadas. Se não queimarem esse processo e os respetivos documentos,
só um governo futuro, sem PSD e CDS é que pode desvendar os contornos obscuros
do que alguns chamam de negociata estranha.
Para além da
greve desastrosa dos pilotos - 10 dias! - que não lhes propiciou nada de concreto,
antes acelerou a privatização da companhia e reforçou um certo sentimento de
vingança contra a "elite" da empresa por parte do poder político -
dizem-me que a TAP tem uma dívida remunerada de 1,1 mil milhões de euros
(quase), que os prejuízos passaram de 5,9 para 85,1 milhões de euros entre 2013
e 2014, que os ativos desceram entre aqueles dois anos de 1,695 para 1,660 mil
milhões de euros e que o passivo rondará de facto os 2,072 mil milhões de
euros. Mais. Com cerca de 2.500 voos semanais, distribuídos por 82 rotas em 35
países e usado 77 aviões (em 2014), a TAP tem hoje 10.461 trabalhadores (939
pilotos, 2.588 tripulantes e 975 pessoal em terra, entre outros) e transportou
10,6 milhões de passageiros em 2013 que aumentaram para 11,4 milhões em 2014.
Fiquei com a
sensação de que o governo de coligação de Passos e do CDS de Portas, sentiu um
alívio quando despachou a TAP. Não fiquei com tanta certeza que a companhia,
agora nas mãos de privados, está obrigada a cumprir o chamado "serviço
público" para as duas regiões autónomas como antes estava obrigada, nem
sei se isso sequer ficou plasmado no acordo assinado pelo governo de Lisboa tal
como não sei o que vai a nova TAP querer fazer com o turismo da Madeira num
mercado aéreo liberalizado. Ou seja, e basicamente era isto que pretendia
concluir e transmitir às pessoas: estamos perante uma potencial golpada de
gabinete, porventura com contornos políticos carecidos de lisura e de rigor,
quiçá de uma tão falada uma negociata de bastidores com contornos obscuros -
devido ao secretismo que até agora vigorou e que impediu o acesso aos
documentos para cabal esclarecimento da verdade e dissipação de dúvidas. E viva
o liberalismo selvagem de quem já anda na caça ao voto e para quem o dinheiro é
descaradamente a alma de todos os negócios... (LFM)
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