Gostaria de deixar bem claro que ninguém contrata a
minha consciência tal como ninguém condiciona, manipula ou manda na minha
liberdade de pensamento e de opinião. Quando se tenta subverter tudo, confundindo
deliberadamente tudo, perde-se a razão, pior do que isso, perde-se a dignidade
para fazermos jornalismo com princípios deontológicos e isenção. Alguma vez
tolerarei que alguém, seja lá quem for, questione os pagamentos de meios de
comunicação, feitos a jornalistas e não jornalistas, sempre que participam em
programas de debate? Alguma vez tolerarei que alguém, seja lá quem for,
questione a liberdade de opinião desses contratados ou a sua dignidade e
valores? Alguma vez tolerarei que alguém, seja lá quem for, questione a
liberdade de opinião e a dignidade de articulistas contratados por jornais, só
porque lhes pagam uns tantos milhares de euros mensais? Alguma vez tolerarei
que alguém, seja lá quem for, questione a liberdade de opinião e a dignidade
dos opinadores na RTP ou noutras televisões privadas, só porque são contratados
para o efeito e a quem são pagos milhares de euros mensais? Alguma vez tolerarei
que alguém, seja lá quem for, questione ou critique os salários pagos aos
cargos de chefia de jornais privados e/ou outros meios de comunicação (incluindo
outras regalias para além de salários), só porque escrevem regularmente contra
o poder ou contra a oposição, tudo depende de quem os analisa?
Reconheço, e respeito esse primado essencial da nossa
sociedade, haver plena liberdade de concordar ou discordar com estas situações,
que há quem ache que deve ser feito assim enquanto outros argumentarão que não,
que não é essa a melhor solução. Mas isso são opiniões que valem isso mesmo,
uma opinião. Mas quando se misturam as coisas, se insulta, em certa medida de
forma libertina e desonesta, se duvida da dignidade e da seriedade das pessoas,
por causa de interesses de grupos ou outros fins corporativistas, então tudo
muda de figura.
Escreveu Eça de Queiroz que “nas nossas democracias a ânsia da maioria
dos mortais é alcançar em sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem
essas sete linhas benditas, os homens praticam todas as acções - mesmo as boas”.
Provavelmente é isso mesmo.
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