O PS da Madeira
está a atravessar uma fase de renovação, quer da sua liderança - Carlos Pereira
já foi eleito - quer da sua estratégia, quer do próprio discurso político,
neste caso impulsionado pela nova conjuntura política regional e pela
necessidade de refrescar os argumentos usados durante mais de 20 anos e que
hoje se revelam ultrapassados, desacreditados e caducos.
Parece-me
evidente que depois da copiosa derrota nas regionais de Março, que se ficou a
dever a uma certa teimosia aliancista de
Vítor Freitas -quer não foi capaz de analisar o que estava eleitoralmente em
cima da mesa, estabelecendo a diferença óbvia entre as eleições autárquicas no
Funchal e as eleições regionais contra um PSD como uma nova liderança e um novo
discurso - o PS entrou num período de hibernação, motivada pela demissão de Freitas,
na própria noite eleitoral.
Com a eleição
de Carlos Pereira - inevitável, diga-se em abono da verdade - parece-me
evidente que alguma coisa vai mudar, terá que mudar, no PS regional,
provavelmente seguindo o exemplo de António Costa que deu claramente a entender
no discurso de sábado na Convenção socialista que a lista de candidatos terá
novos protagonistas, novas ideias, novos políticos.
Quero dizer com
isto que a postura do PS, enquanto partido na oposição, e politicamente
diminuído por ser hoje a quarta força política regional (!) - ultrapassado nas
regionais deste ano pelo PSD, CDS e JPP - vai ser diferente. Os socialistas vão
procurar reocupar o seu espaço perdido, vão abrir espaço a diálogo e alguma
concertação, incluindo com o PSD, mas sem abdicarem da sua identidade própria e
da sua liberdade, inclusive de cometerem erros e tomarem decisões polémicas.
Isso faz parte da política onde nada (nem ninguém) é perfeito. (LFM)
Não é fácil a empreitada
do PS e de Carlos Pereira. Confesso que não vejo como vai conseguir reganhar
num espaço de tempo tão curto (até as legislativas desde ano) os eleitores
perdidos - os resultados das regionais deste ano foram os piores de sempre,
desde 1976 - pressionado como está à esquerda (PCP e Bloco) em clara
recuperação eleitoral e pelo novo fenómeno eleitoral (JPP) que em grande medida
foi uma fabricação que emergiu do próprio PS.
Julgo que uma
certa acalmia política, percetível no parlamento regional, vai agudizar-se já
por influência das legislativas nacionais, mas tenderá a manter-se a esse
nível, porque os socialistas, claramente enfraquecidos, temem, mesmo com uma
nova liderança, que os efeitos de uma série de erros políticos e eleitorais
possam deixar marcas ainda mais profundas.
Dificilmente
Pereira deixará de encabeçar a candidatura socialista madeirense à Assembleia
da República. Penso também que dificilmente deixará de levar consigo Bernardo
Trindade - ambos lideraram a facção socialista que na Madeira apoiou António
Costa, contra o grupo de apoiantes de Seguro que foi liderado por Vítor Fretas
- até porque se trata de um dirigente nacional do PS (membro do secretariado).
Independentemente de pensar que o novo líder regional do PS, mesmo que seja
eleito, opte por continuar na Madeira (e na Assembleia Legislativa),
focalizando-se no combate político local, centrando as suas atenções nas
regionais de 2019.
Julgo que tanto
o PSD como sobretudo o CDS - que continuou, depois das regionais deste ano, a
manter o estatuto de partido líder da oposição, apesar de ter perdido votos e
mandatos - e a própria JPP estarão atentos às movimentações do PS regional.
Acredito que
Carlos Pereira vai insistir no argumento - que ainda timidamente já começou a
agitar - depois de quarto anos de austeridade violenta e abjeta que deixaram
marcas sociais absolutamente inimagináveis, de que foram os governos
socialistas os que mais ajudaram a Madeira. Mas não será uma opção fácil. Para
além de Guterres (e do seu perdão da dívida regional) absolutamente pacífico, o
novo líder socialista terá que decidir se vai ou não lembrar Sócrates
("metendo-o" na campanha, com todos os riscos inerentes) para falar
da Lei de Meios ao mesmo tempo que "esquecerá" o impacto negativo -
cerca de 800 milhões de euros só em transferências diretas do OE - da Lei de
Finanças Regionais de 2007 e que acabou por estar na origem das eleições
regionais antecipadas desse ano. Opções claramente pantanosas e longe de constituírem
garantia de mais-valias eleitorais.
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