terça-feira, junho 09, 2015

Opinião: INCÓGNITA (PS)



O PS da Madeira está a atravessar uma fase de renovação, quer da sua liderança - Carlos Pereira já foi eleito - quer da sua estratégia, quer do próprio discurso político, neste caso impulsionado pela nova conjuntura política regional e pela necessidade de refrescar os argumentos usados durante mais de 20 anos e que hoje se revelam ultrapassados, desacreditados e caducos.
Parece-me evidente que depois da copiosa derrota nas regionais de Março, que se ficou a dever a uma certa teimosia aliancista de Vítor Freitas -quer não foi capaz de analisar o que estava eleitoralmente em cima da mesa, estabelecendo a diferença óbvia entre as eleições autárquicas no Funchal e as eleições regionais contra um PSD como uma nova liderança e um novo discurso - o PS entrou num período de hibernação, motivada pela demissão de Freitas, na própria noite eleitoral.
Com a eleição de Carlos Pereira - inevitável, diga-se em abono da verdade - parece-me evidente que alguma coisa vai mudar, terá que mudar, no PS regional, provavelmente seguindo o exemplo de António Costa que deu claramente a entender no discurso de sábado na Convenção socialista que a lista de candidatos terá novos protagonistas, novas ideias, novos políticos.
Quero dizer com isto que a postura do PS, enquanto partido na oposição, e politicamente diminuído por ser hoje a quarta força política regional (!) - ultrapassado nas regionais deste ano pelo PSD, CDS e JPP - vai ser diferente. Os socialistas vão procurar reocupar o seu espaço perdido, vão abrir espaço a diálogo e alguma concertação, incluindo com o PSD, mas sem abdicarem da sua identidade própria e da sua liberdade, inclusive de cometerem erros e tomarem decisões polémicas. Isso faz parte da política onde nada (nem ninguém) é perfeito. (LFM)
Não é fácil a empreitada do PS e de Carlos Pereira. Confesso que não vejo como vai conseguir reganhar num espaço de tempo tão curto (até as legislativas desde ano) os eleitores perdidos - os resultados das regionais deste ano foram os piores de sempre, desde 1976 - pressionado como está à esquerda (PCP e Bloco) em clara recuperação eleitoral e pelo novo fenómeno eleitoral (JPP) que em grande medida foi uma fabricação que emergiu do próprio PS.
Julgo que uma certa acalmia política, percetível no parlamento regional, vai agudizar-se já por influência das legislativas nacionais, mas tenderá a manter-se a esse nível, porque os socialistas, claramente enfraquecidos, temem, mesmo com uma nova liderança, que os efeitos de uma série de erros políticos e eleitorais possam deixar marcas ainda mais profundas.
Dificilmente Pereira deixará de encabeçar a candidatura socialista madeirense à Assembleia da República. Penso também que dificilmente deixará de levar consigo Bernardo Trindade - ambos lideraram a facção socialista que na Madeira apoiou António Costa, contra o grupo de apoiantes de Seguro que foi liderado por Vítor Fretas - até porque se trata de um dirigente nacional do PS (membro do secretariado). Independentemente de pensar que o novo líder regional do PS, mesmo que seja eleito, opte por continuar na Madeira (e na Assembleia Legislativa), focalizando-se no combate político local, centrando as suas atenções nas regionais de 2019.
Julgo que tanto o PSD como sobretudo o CDS - que continuou, depois das regionais deste ano, a manter o estatuto de partido líder da oposição, apesar de ter perdido votos e mandatos - e a própria JPP estarão atentos às movimentações do PS regional.
Acredito que Carlos Pereira vai insistir no argumento - que ainda timidamente já começou a agitar - depois de quarto anos de austeridade violenta e abjeta que deixaram marcas sociais absolutamente inimagináveis, de que foram os governos socialistas os que mais ajudaram a Madeira. Mas não será uma opção fácil. Para além de Guterres (e do seu perdão da dívida regional) absolutamente pacífico, o novo líder socialista terá que decidir se vai ou não lembrar Sócrates ("metendo-o" na campanha, com todos os riscos inerentes) para falar da Lei de Meios ao mesmo tempo que "esquecerá" o impacto negativo - cerca de 800 milhões de euros só em transferências diretas do OE - da Lei de Finanças Regionais de 2007 e que acabou por estar na origem das eleições regionais antecipadas desse ano. Opções claramente pantanosas e longe de constituírem garantia de mais-valias eleitorais.

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