Li no Observador que “no seu comentário semanal na
SIC, Marques Mendes criticou a demissão da administração do Novo Banco, mas
também a atuação do Governo, que acusa de estar a pensar nas eleições e a
proteger-se no governador do Banco de Portugal. “O Governo está a ter uma
posição de hipocrisia que, a prazo, pode ser muito negativa para o interesse
nacional”, disse este sábado, lembrando que foi o Governo que viabilizou a
criação do Novo Banco, a operação do empréstimo total de 4.900 milhões de euros
(incluindo as verbas vinda da banca) e a nomeação da administração
demissionária. “Acho muito feio o que o Governo está a fazer. Estão a deixar o
governador do Banco de Portugal a tratar disto sozinho, estão a pensar em
eleições. É muito feio!”, afirmou, defendendo depois que “só o Presidente da
República pode por ordem na casa”. O ex-líder do PSD recordou ainda as
declarações de Cavaco Silva, que no passado domingo disse esperar que o Governo
lhe tenha comunicado logo os factos relevantes sobre o BES. “Acho que se estava
a dirigir a este assunto. Tipo a dizer, há aqui um alerta”, disse o comentador.
Marques Mendes disse não ter ficado totalmente surpreendido com a demissão de
Vítor Bento, Moreira Rato e José Honório, já que “desde 20, 22 de agosto que
havia rumores que estes três elementos tinham intenções de se demitir”. E
apesar de considerar que as demissões não são “o fim do mundo nem do banco“,
criticou duramente a opção da administração. “Acho que são pessoas sérias,
competentes, devem ter pensado em muita coisa. Acho é que não pensaram no país,
nem no banco, nem nos clientes do banco”. Marques Mendes considera que a razão
invocada por Vítor Bento para a demissão - a venda rápida do banco – não colhe.
“Custa-me admitir que tenham razão porque as autoridades europeias impuseram um
limite de dois anos para ser vendido. Mas vamos admitir que as circunstâncias
mudaram: nada justifica a sua demissão. O sentido de responsabilidade impunha
que eles ficassem“, disse, acusando que a saída não resolve problema nenhum,
pelo contrário. “O banco só vai piorar. Não podiam abandonar o barco num
momento difícil”. No entanto, Marques Mendes considera que há outras razões
para a demissão que não foram ditas, “nomeadamente problemas de rácios“. “Tanto
quanto eu sei, situações de papel comercial, obrigações, espera-se que o Banco
de Portugal decida estas questões” e, sobretudo, conflitos entre todos os
intervenientes no processo. “É preciso que haja ordem na casa. Entre Banco de
Portugal e a CMVM [Comissão do Mercado de Valores Mobiliários] há conflitos, e
estão na praça pública. KPMJ e Banco de Portugal, acusações na praça pública. A
ministra das Finanças dá posse aos novos administradores e o Governo tira o
corpinho da chuva, mas critica a supervisão. É um péssimo exemplo”. Apesar de
ter descrito os três administradores como “pessoas sérias, competentes”,
questionado sobre se sabe quem é a nova administração do Novo Banco, Marques
Mendes disse apenas que esta deverá ser nomeada “nas próximas horas, no máximo
domingo”, e que deseja uma equipa “que saiba de banca”. Segundo apurou o
Observador, o substituto de Vítor Bento está escolhido e é um banqueiro (ao
contrário de Vítor Bento, que não tinha experiência anterior em bancos). No
passado fim de semana, Marques Mendes tinha anunciado que o Novo Banco seria
vendido por inteiro, fora da bolsa, num prazo máximo de seis meses e elencou um
conjunto de potenciais interessados. Este sábado, defendeu que é necessário
antecipar ainda mais a venda do banco. “Em dois, três, quatro meses, o mais
tardar até ao final do ano, porque estes episódios fazem o banco perder valor”.
E deu o exemplo do BPN. “Só foi vendido três anos depois e foi vendido a preço
de saldo, ninguém o queria. E era um banquinho, não era como este. A ideia de
que quanto mais tempo melhor não se verificou”.