sábado, fevereiro 23, 2013

Opinião: "Tardam as boas notícias na Europa"

"Os mercados financeiros voltam a estar cautelosos, depois das expectativas positivas que o novo ano por estrear trouxe, fomentando uma primeira vaga de investimentos diversificados. Em consequência, os principais índices bolsistas alcançaram valores máximos dos últimos meses, as yields das dívidas soberanas europeias (sobretudo dos países sob monitorização) acentuaram a tendência de queda, e estreitaram o spread para o benchmark, e o euro recuperou valor face às moedas rivais. Contudo, surgiram presentemente algumas dúvidas e receios com a divulgação de algumas informações relevantes, levando à retracção dos investidores que preferiram encaixar para já alguns proveitos e esperar por novas oportunidades. Assim o momento é de correcção de preços nos principais activos.
A Comissão Europeia divulgou as previsões da Primavera prevendo que, ao contrário do anunciado há uns meses atrás, a recessão na Zona Euro não terminará este ano, indicando as dificuldades ao nível da passagem de liquidez dos bancos para a economia e as altas taxas de desemprego. Assim, na UEM deverá manter-se em contracção, -0.3% em 2013, depois de -0.6% em 2012, e a União Europeia deverá crescer somente 0.1%, quando em 2012 também verificou uma recessão de 0.3%. Este valores indicam uma revisão em baixa dos anunciados no Outono, respectivamente +0.1% e +0.4%, para UEM e UE. Só em 2014, o crescimento ganhará expressão com taxas de 1.4% e 1.6%.
A Alemanha, a principal economia do euro, não fugirá à tendência e crescerá somente 0.5% em 2013, após a expansão de 0.7% em 2012. A França manter-se-á estagnada, +0.1% em 2013 depois de 0.0% em 2012. Estas previsões estão em linha com os últimos dados económicos divulgados a nível europeu. Por exemplo, os índices PMI na Zona Euro mostraram um recuo da indústria e dos serviços em Fevereiro. O índice dos serviços desceu de 48.6 para 47.3 pontos de Janeiro para Fevereiro. Já o índice referente à indústria passou de 47.9 para 47.8 pontos no mesmo período.
Segundo as novas previsões da Comissão, Espanha e Portugal terão contracções de 1.4% e 1.9% em 2013, respectivamente, depois de quebras da actividade de 1.4% e de 3.2% em 2012. Em 2014 está previsto um crescimento idêntico de +0.8% para os países ibéricos. Quanto ao desemprego, Espanha e Portugal deverão em 2013 verificar taxas de 26.9% e 17.3%, respectivamente (25.0% e 16.9% em 2012).
Entretanto, tanto Espanha como Portugal tiveram sucesso recentemente na emissão de dívida de curto prazo. Espanha colocou 4 mil milhões de euros (MME) em Bilhetes do Tesouro (BT) a 3 e 9 meses, tendo a procura superado os 12.3 MME. O juro médio pago pela emissão a 3 meses foi de 0.421%, abaixo de 0.441% relativo à emissão comparável realizada a 22 de Janeiro. Na emissão a 9 meses, o Tesouro espanhol pagou uma taxa média de 1.144%, sendo a primeira realizada com esta maturidade. Relativamente aos montantes, a Espanha financiou-se em 885.7 milhões de euros (ME) em BT a 3 meses e 3115.2 ME em BT a 9 meses. Os rácios bid-to-cover foram de 5.8 e 2.3 vezes, respectivamente.
Portugal colocou o montante máximo previsto de 1.500 ME em BT a 3 e 12 meses, mantendo-se a forte procura, enquanto a taxa média da maturidade mais longa sofreu uma expressiva descida dada a recente descida da percepção de risco do país. A repartição foi de 345 ME em BT a 3 meses e 1.155 ME em BT a 6 meses. A taxa média ponderada da colocação de BT a 3 meses subiu para 0.737%, que compara com 0.667% registado no leilão de 16 de Janeiro, enquanto que a taxa dos BT a 12 meses recuou para 1.277% face a 1.609% verificados anteriormente. A procura de BT a 3 meses excedeu a oferta em 2.4 vezes face a 3.8 vezes no leilão anterior, tendo a colocação de BT a 12 meses registado um rácio bid-to-cover idêntico ao anterior de 2.3 vezes.
Ao nível dos mercados, para os próximos dias será necessário seguir com atenção as eleições em Itália e as medidas monetárias e orçamentais seguidas nos EUA. Quanto às eleições legislativas em Itália (já este fim-de-semana), há receios que os resultados não tragam a estabilidade política necessária para que o país prossiga com as reformas em curso, gerando-se turbulência adicional nos meios financeiros. Nos EUA, as minutas da reunião da Fed de 29-30 de Janeiro apontam para a necessidade de alteração no ritmo dos estímulos à economia norte-americana, pois há preocupação com o aumento considerável do balanço do banco central (já ascende aos 3 biliões de dólares). Será essencial avaliar a evolução do terceiro programa (Q3). Por outro lado, aguarda-se com grande interesse as novas contingências orçamentais a acordar entre Democratas e Republicanos para o resto do corrente ano” (texto de Agostinho Leal Alves, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI, publicado no Económico, com a devida vénia)