segunda-feira, fevereiro 25, 2013

CONTESTAÇÕES & PATETICES

"As pessoas não podem ter ilusões. Todas estas manifestações de hostilidade a membros do governo são organizadas por forças políticas e sindicais de esquerda. Não vale a pena andarmos a esconder o "sol com a peneira" nem andaremos armados em "patos" porque é assim que tudo isto funciona. A política tem destas coisas, porque a política sem oportunismo e sem manipulação não é política. Há, repito, uma manipulação partidária descarada que conseguiu a proeza de levar os meios de comunicação a reboque, o que, diga-se em abono da verdade, não é muito difícil de conseguir em Portugal. Perdoem-me a expressão mas qualquer "arroto" é logo notícia e alvo de tratamento em direto nos noticiários. Salvo a palermice do ministro Relvas (numa falhada tentativa de vitimização quando deveria ter esperado e usado da palavra em vez daquela imagem de fuga rodeado por seguranças agressivos e com alguma cobardia à mistura), todos os demais ministros "contestados" ou não ligam patavina ao facto ou esperam que falte o fôlego aos cantadores e continuam a cerimónia usando da palavra.
Tanto o PCP, como o Bloco de Esquerda, sem espaço de afirmação política no quadro do parlamento e da própria sociedade, e com uma representatividade eleitoral insignificante, optam claramente por alargar essa intervenção, aproveitando-se oportunisticamente destes episódios que para as pessoas pouco ou nada significam em termos de melhoria da suja vida e resolução dos seus problemas.
A própria Intersindical, enfraquecida pelas suas posições políticas sintonizadas com o PCP, de quem se comporta como braço-armado, não só banalizou o recurso a graves, cujo impacto real hoje se discute, como está claramente apostada em agarrar-se a estas oportunidades que não a envolvem diretamente mas que procura depois controlar.
No fundo estamos perante uma numa contestação organizada por sectores afetos ao PCP e Bloco de Esquerda, que não representa, pelo menos até hoje, a sociedade portuguesa - e nisso Passos Coelho tem razão, até ver... - que tem um impacto meramente folclórico e efémero e que é fácil de manter por tempo indeterminado: basta arranjar meia dúzia de "contestatários" a martelo, conhecer a agenda dos membros do governo e manter a presença nos locais com cantoria e tudo. A comunicação social encarrega-se depois de transformar um episódio num acontecimento transcende, quase à escala nacional!
O problema da contestação - vem nos manuais! - é que não é assim que se mobilizam as pessoas, que se organizam e concentram esforços. Há uma diferença enorme entre o sentimento de revolta, de ódio nalguns casos, de frustração que sentimos existir a todos os níveis da sociedade portuguesa, e este oportunismo idiota de alguns partidos de esquerda que depois levam para a Assembleia da República a contestação que eles próprios promovem e organizam, para tentarem dar-lhes um significado político que não tem.

Isto não vai com cantorias, muito menos com atos mais radicais onde a liberdade do outro não é respeitada. A democracia não é um cardápio que funciona a gosto do "freguês".

E se dúvidas existissem bastaria recordar uma notícia do Correio da Manhã, segundo a qual. "duas ex-assessoras dos grupos parlamentares do PCP e do Bloco de Esquerda (BE) marcaram presença nos protestos contra Miguel Relvas. As duas militantes manifestaram-se contra o ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, que acabou por sair do local sob escolta da segurança pessoal. Lúcia Gomes deixou a assessoria dos comunistas na Assembleia da República no passado mês de agosto. Esteve no Parlamento durante três anos. Segundo fonte do PCP contactada pelo Correio da Manhã, a militante "não tem neste momento qualquer responsabilidade em nenhuma das estruturas do plano central do partido". A participação da militante comunista de Santa Maria da Feira foi, segundo a mesma fonte, "a título meramente individual", demarcando-se o PCP de qualquer apoio ou responsabilidade da iniciativa. Do lado do BE estava Margarida Santos, ex-assessora do partido. Contactado o grupo parlamentar, o BE garante que a militante saiu há uns meses do Parlamento, onde estava como assessora da deputada Ana Drago. Na mesma linha do que foi dito pelo PCP ao CM, a participação de Margarida Santos nos protestos contra o ministro Adjunto Miguel Relvas não decorreu de qualquer indicação dada pelo partido. A participação da militante bloquista nos protestos foi, segundo fonte do grupo parlamentar, "iniciativa própria", sem orientação partidária”.
Ressalvando os discursos e as “justificações” idiotas dos dois partidos, e relativizando a ideia de que não há uma concertação e que os partidos não estão envolvidos nestas ações – porque estão - o essencial é a confirmação desta presença dos dois partidos nos “protestos” contra membros do governo os quais não passam, para todos os efeitos, de atos políticos sem expressão e sem uma dimensão que mereça grande atenção.
Pelo menos até ver, ou seja, até que o polvo perceba a aldrabice com os duodécimos e os salários apenas para disfarçar a descarada roubalheira deste governo de coligação (os funcionários públicos já perceberam este mês de Fevereiro que há qualquer coisa que não bate certo), até que os portugueses percebam a treta do embuste da pretensa “reforma do estado” que não passa de um corte de milhares de milhões de euros que passarão da responsabilidade do Estado para o bolso dos cidadãos já no limite do tolerável. Quando isso acontecer penso que restará a este governo de coligação pouco espaço para bater em retirada.

Estas minhas considerações não têm nada a ver nem com a liberdade de contestação nem com a legitimidade do protesto. Considero que hoje como nunca existem razões para o protesto, para a contestação que será tanto maior na exata proporção em que este governo de coligação ladrão, mentiroso, ilegítimo e desacreditado decidir cortes orçamentais que vão penalizar ainda mais as pessoas, as famílias e as empresas.
Vivemos num país que já atingiu, repito e insisto, os limites do admissível. Vivemos num país que nunca teve tantos pobres; vivemos num pais que vai roubar milhões aos portugueses para pagar mais de 8 mil milhões de juros aos patifes que nos emprestam dinheiro e que depois nos exploram até ao tutano (veja-se quando ganhou o BCE com os programas de ajustamento financeiros na Europa); vivemos num país que rouba milhões dos contribuintes para depois espatifá-los na banca, obrigando-nos a pagar os encargos dessas operações em vez de atirar o ónus para quem o devia suportar, os próprios bancos; vivemos num país que nunca teve tantos pobres; vivemos num país que nunca teve tanta gente a passar fome; vivemos num país que nunca teve tantas falências; vivemos num país que nunca teve tantos desempregados; vivemos num país que nunca roubou tanto os salários, as pensões e as reformas; vivemos num país que nunca como hoje frustra as expetativas e os sonhos dos jovens obrigando-os a emigrar; vivermos num país onde os jovens são obrigados a abandonar as universidades devido à crise que atingiu o coração das suas famílias, algo nunca antes visto; vivemos num país onde as pessoas fogem da saúde porque não têm dinheiro para pagar, etc.
Assim sendo, se tudo isto é verdade, por que razão o protesto e a contestação não serão crescentes?! Por que razão este governo de coligação deverá manter-se no poleiro quando até hoje falhou todas as previsões – e nunca viu um ministro das finanças tão incompetente e impreparado com o este funcionário da banca que foram recrutar não sei onde – comportando-se como um desprezível serviçal do capitalismo europeu, dos mercados e da banca? Por que razão?" (LFM/JM)