sexta-feira, dezembro 28, 2012

Opinião: “O momento Américo Tomás de Passos Coelho”

“O antigo Presidente da República da ditadura, Américo Tomás, era conhecido por fazer discursos prosaicos, onde tudo era possível, a contagem meticulosa dos anos, dos meses e dos dias, as datas e as efemérides, o número de vezes que visitara uma localidade, o que não fora possível fazer no país e a esperança inabalável que iria ser feito... A mensagem que Passos Coelho colocou ontem no Facebook, dos presentes que não se deram e dos pratos da consoada que faltaram, lembra o melhor de Tomás. Passos diz, aliás, que "já aqui estivemos antes", quando a "a comida esticava para chegar a todos". Pois já. Recordem-se algumas mensagens de fim de ano de Américo Tomás. E uma diferença. Tomás tinha, pelo menos, a modernidade de não assinar Gertrudes (a mulher) e Américo...
1 de Janeiro de 1966
"Na realidade o muito que se fez põs talvez mais em evidência o que não foi possível fazer, se realizou imperfeitamente ou se deixou perder depois de praticamente realizado. E na nossa mente deve ter-se sempre a necessidade de fomentar constantemente e por todos os meios o aumento do nível de vida geral do povo português, de resolver, em todos os escalões, o problema ainda premente da habitação e de levar a educação e a instrução a todos os lares portugueses. Continua a haver, infelizmente, muita gente que vive mal e com dificuldades imensas: façamos tudo, mas tudo, para que a sua vida não continue a ser apenas um martírio. Com este apelo, que vem do mais intimo da minha alma , chego ao fim desta mensagem. Mas não quero terminá-la sem que antes exprima, mais uma vez, toda a minha fé e toda a minha esperança nos destinos de Portugal"
1 de Janeiro de 1967
"Pela acção incessantemente corrosiva do tempo e com uma rapidez que se afigura cada vez maior, mais um ano transitou para o passado e outro ocupou o seu lugar. Mas como infelizmente vem sucedendo, o ano que passa leva sempre consigo a maior, a grande parte das esperanças nele depositadas e pouco mais deixa do que desilusões, a somarem áquelas que os anteriores foram acumulando"
1 de Janeiro de 1969
"Mensagem em que lhes comunico o meu pensamento e a minha simpatia que naturalmente reflecte as tristezas do ano que passou e procura animar-se com as esperanças que o futuro tem sempre e felizmente o condão de criar mesmo nos espíritos mais desalentados pelas desgraças, pelas injustiças e pelas desilusões. Esperanças a que a humanidade cada vez mais ansiosa de melhores dias se agarra no raiar de cada ano tal como o náufrago o faz a tudo quanto passe ao seu alcance e possibilite a sua salvação"
1 de Janeiro de 1971
"Começa hoje a oitava década do século em que vivemos e essa circunstância leva-me a ambicionar que nela os portugueses possam ver realizadas todas as suas legítimas aspirações" (texto de Paulo Gaião no Expresso, com a devida vénia)