terça-feira, novembro 08, 2011

Opinião: "As SCUTs do nosso (des)contentamento"

"S. Miguel festejou a semana passada de forma exuberante a abertura de mais um troço das SCUTs, desta vez em direcção ao Nordeste. Se a festa foi arromba para uns, para outros foi com amargo de boca que receberam a obra, sobretudo aqueles que pretendiam que a estrada chegasse até à Vila. Aliás, o debate realizado na televisão sobre o assunto, com a participação dos telespectadores, foi uma amostra significativa da opinião que se sente na rua relativamente a esta obra. De um lado, os seus apoiantes incondicionais, inscrevendo José Contente na história dos Açores e prognosticando-lhe um futuro brilhante e, por outro lado, os que se queixavam amargamente da repartição dos custos ou dos prejuízos que a gigantesca obra trouxe para muitos.Não passou despercebido um detalhe: nos panegíricos que o Presidente da Câmara de Vila Franca teceu sobre as SCUTs, este realçou o seu azedume por aquilo que considerou uma megalomania, ou seja o facto da antiga capital da ilha passar a ser servida por 4 faixas, que ele entende serem desnecessárias face ao seu reduzido volume de tráfego. Pelos vistos, aquilo que se deu a mais a Vila Franca do Campo foi directamente proporcional àquilo que não se fez no Nordeste, com prejuízo para o mais longínquo Concelho da Ilha. Por outro lado, é de realçar o sentimento dos habitantes da Povoação que passaram a considerar-se como a “décima ilha”, retirando o título ao vizinho Nordeste. Ninguém tem dúvidas da importância deste colossal investimento para S. Miguel e que facilitará a vida e o acesso das populações e a redução dos custos para a vida das empresas e propiciará mais desenvolvimento e qualidade de vida, mas está ainda por se apurar os custos deste progresso, que desventrou a ilha e espalhou betão a mais no meio das nossas luxuriantes paisagens e afectando o ambiente ecologicamente equilibrado que nos rodeava e os impactos que o projecto poderá causar ao nível dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Outra grande dor de cabeça para os açorianos nos próximos anos diz respeito aos custos desta obra, que têm subido vertiginosamente. Em Maio de 2005, o Governo Regional adjudicou à Ferrovial por um valor de 300 milhões de euros. Um ano depois, o valor já estava em 325 milhões e agora concluído, já ascende aos 485 milhões de euros. São 94 quilómetros de estradas que integram três eixos viários, com a construção de estradas novas numa extensão de 49,5 quilómetros, a beneficiação de outras, num total de 32,1 quilómetros e a conservação de vias com 11,7 quilómetros. Até 15 de Dezembro estará concluída a variante de Água D’Alto, ficando assim todo este eixo sul, numa extensão de 30 quilómetros aberto à circulação, colocando-se um ponto final na construção. Mas será a partir de agora que os problemas irão começar, prevendo-se no Orçamento de 2012 o 1º pagamento, no montante de cerca de 23 milhões de euros, dinheiro para pagar o compromisso da construção e que não poderá ser utilizado na dinamização económica que tanta falta faz nesta altura de crise. As novas estradas aí estão e todos beneficiaremos delas (texto de António Pedro Costa, no Correio dos Açores, com a devida vénia)

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