sábado, novembro 12, 2011

Nível salarial dos portugueses vai recuar quase uma década

Segundo o Jornal I num texto do jornalista Bruno Faria Lopes, “os salários reais dos portugueses são os que mais vão cair em média na Europa ao longo dos próximos dois anos, revelam os dados ontem publicados no boletim das previsões do Outono da Comissão Europeia. O forte ajustamento nas remunerações levará a que em 2013 o salário médio real dos portugueses – que leva em conta a erosão da inflação – recue ao ponto em que estava em 2005, apontam as previsões europeias. Com o país a sair da maior recessão da sua democracia, o espaço para aumentar salários nos anos seguintes a 2013 será muito limitado, o que sugere um recuo de pelo menos uma década no nível salarial médio praticado. “Ninguém realista admite que esta situação será significativamente invertida nos anos seguintes, pelo menos à luz da informação que temos hoje”, aponta o economista José Reis, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. “O que está a ser feito é uma enorme compressão dos salários”. As previsões da Comissão Europeia apontam para uma quebra real dos salários de 5% em 2012 (a maior da União a 27) e de 1,1% em 2013, a que se soma ainda a perda de 3,3% este ano. Este aperto combinado – coincidente com o programa da troika – leva a evolução dos salários reais para o patamar mais baixo desde 2004, mostra a série longa da base de dados online da Comissão Europeia (Ameco). A perda nos próximos dois anos foi revista em alta desde o boletim da Primavera, reflectindo o efeito dos cortes nos subsídios de férias e de Natal na função pública – que a Comissão parece interpretar como uma situação permamente, falando em “eliminação” das duas prestações – e da pressão acrescida sobre os salários no sector privado. A perda em termos reais mais profunda em 2012 reflecte também a combinação do aperto nominal nos salários, com uma taxa de inflação ainda na casa dos 3%. Também o desemprego recorde contribui para a queda dos salários, uma relação directa bem estabelecida em relatórios da OCDE ou da Organização Internacional do Trabalho. A Comissão Europeia reviu em alta nas previsões do Outono as estimativas para o desemprego, de 13% para 13,6% em 2012, com subida ligeira para 13,7% no ano seguinte. Até pelo menos 2015 as previsões do governo e do FMI não abrem a porta a um cenário muito diferente deste. O problema seria mais profundo não fosse a vaga de emigração que dura há cerca de uma década e que deverá intensificar-se nos próximos anos. Num trabalho publicado quando ainda estava na universidade Simon Fraser, no Canadá, o agora ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, apontava a saída de 700 mil pessoas nos últimos dez anos como um factor que pressiona em alta os salários de quem fica no país. Portugal é acompanhado nas quedas salariais por outros países sob programas de ajustamento troika ou com problemas de competitividade externa no contexto de um euro forte. Contando o período desde o início da crise, em 2010, a Grécia apertará ainda mais que Portugal. Espanha, Irlanda, Itália e Chipre acumulam também (por esta ordem) perdas de salariais reais significativas. Esta tendência reflecte em primeiro lugar a estratégia seguida pelas autoridades europeias e pelo FMI, que perante a impossibilidade de desvalorização cambial para reconquistar competitividade – que o euro não permite – optam por desvalorizar os custos laborais. A ideia é tornar as exportações mais baratas e através da compressão do rendimento diminuir as importações, corrigindo a forte dependência externa portuguesa (medida por uma dívida externa superior a 100% do PIB).

RECESSÃO MAIOR

O colapso do consumo interno – devido à queda dos salários, ao desemprego e ao forte aperto orçamental e da banca – é o principal factor que explica o aprofundamento da recessão em 2012. A Comissão apontou ontem uma queda do PIB de 3% no próximo ano (em linha com a previsão do governo – ver tabela), apontando uma recuperação de 1,1% em 2013. Mas há riscos para este cenário, sublinha Bruxelas. Internamente, o maior está no facto dos bancos tentarem cumprir as metas de desendividamento apertando sobretudo no crédito. Do ponto de vista externo o receio é de um agravamento das condições na economia europeia, fruto da crise da dívida soberana na zona euro. Depois do Banco Central Europeu ter apontado um início de recessão ainda este ano, a Comissão cortou para em quase três quartos a previsão para 2012 (de 1,8% para 0,5%). A Europa absorve 80% das exportações portuguesas”.

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