terça-feira, novembro 08, 2011

Açores: Médicos de Medicina Familiar revoltados com contractação de estrangeiros...

Diz o Correio dos Açores que "um grupo de internos de Medicina Geral e Familiar e jovens Médicos de Família dos Açores insurgiu-se contra declarações do secretário da Saúde, Miguel Correia, e manifesta “preocupação com a contratação de médicos indiferenciados, que exercem actualmente funções nos Centros de Saúde de Ponta Delgada, Ribeira Grande e Angra do Heroísmo, uma vez que, com base no que foi dito, esta estratégia é para continuar”. Afirma este grupo de médicos que o facto dos médicos sul-americanos, “não especialistas, estarem a assumir funções para as quais não têm habilitação (assumir listas de utentes, por exemplo) compromete a idoneidade formativa dos Centros de Saúde em questão”. Acrescenta que, em troca de 8 clínicos não especialistas, 18 internos “poderão ser obrigados a abandonar a sua formação na região e terminá-la no Continente, comprometendo a funcionalidade do Serviço Regional de Saúde”. “Uma vez perdida a capacidade formativa, nenhum interno poderá ingressar no internato desta especialidade na Região Autónoma dos Açores, agravando progressivamente a actual carência de recursos humanos diferenciados nesta área”, referem. A falta de Médicos nos Açores, em seu entender, “é uma situação que preocupa”. No entanto, acrescenta o grupo de médicos, a solução “não passa pela contratação de médicos sem especialidade”. Cita o presidente da Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral (APMCG), Dr. João Sequeira Carlos, quando afirma que “sabemos que a tutela promove esta situação num contexto de excepcionalidade que tem por objectivo colmatar falhas graves na cobertura de cuidados de saúde à população”. No entanto, em Portugal, a um médico especialista em Medicina Geral e Familiar “é exigida” uma licenciatura de 6 anos acrescida de um ano de internato de ano comum e 4 anos de especialização, o que perfaz um total de 11 anos de trabalho e dedicação, que estes colegas indiferenciados não possuem. “Acresce a dificuldade de um jovem especialista se manter motivado no exercício das suas funções no Serviço Regional de Saúde, quando trabalha lado a lado com médicos com menor formação técnica a quem são oferecidas melhores condições de trabalho”, explicam. Parafraseiam o Dr. João Sequeira Carlos, quando afirmou que a população “pode ainda aplaudir a chegada destes novos médicos aos Centros de Saúde, mas perceberá um dia que apesar de ter um médico não tem o seu Médico de Família. Um especialista em Medicina Geral e Familiar não é substituível. Tal como um Cirurgião nunca poderá ser substituído por um médico sem formação específica nessa área, também não podemos esperar cuidados de saúde com qualidade quando um médico sem formação pós-graduada acompanha uma lista de utentes”. “Está em causa uma questão de especialidade e qualidade, não de nacionalidade e xenofobia”, acentuam os médicos. Perante este cenário levanta-se a questão: “Valerá a pena cumprir um internato de especialidade com 4 anos para no final não reconhecerem o nosso valor?” Em concordância com o Presidente do Colégio da Especialidade de Medicina Geral e Familiar, Dr. Silva Henriques, “não pretendemos desistir de lutar pela qualidade do exercício, investigação e ensino da Medicina Geral e Familiar nos Açores, pois a nossa população o exige e merece”. Acentuam que “existem outras soluções para colmatar a falta de Médicos de Família na região, nas quais nos propomos trabalhar. A constituição de Unidades de Saúde Familiar em que há alargamento de lista de utentes e extensão do horário de funcionamento, permitirá aos utentes não faltar ao trabalho e ver o seu problema de saúde resolvido pela equipa de saúde em 48h, entre outras vantagens. Com estas unidades também seria possível atrair mais colegas especialistas, que seguiriam uma comunidade e as famílias que a constituem com competência, seriedade e continuidade ao longo de anos, e até décadas, em vez de apenas 3 anos”.

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