segunda-feira, março 28, 2022

As viagens de avião vão ficar mais caras e a culpa é dos aviões cheios, não dos preços dos combustíveis


O preço dos combustíveis para a aviação está a subir juntamente com o dos outros combustíveis. Tal como o custo das passagens aéreas. Se pagar mais por um voo nesta primavera ou verão, a culpa é do regresso da procura por parte dos passageiros — e não dos preços dos combustíveis. Os principais executivos das companhias aéreas norte-americanas surgiram numa conferência de investidores organizada pela JPMorgan e todos aludiram a uma procura muito superior por viagens de avião ao que esperavam há apenas uns meses. A Delta (DAL) e American (AAL) afirmaram ter batido recordes de reservas de passageiros num só dia há duas semanas.

“Estamos a assistir a um aumento na procura que é realmente inaudito”, disse o presidente da Delta, Glen Hauenstein. “Nunca vi um aumento tão rápido na procura como aquele que tivemos após a Ómicron.” O aumento na procura está a fazer subir o preço dos bilhetes em cerca de 15 a 20 dólares num bilhete de 200 dólares no segundo trimestre deste ano. Isto representa um aumento de cerca de 8% a 10% acima daquilo que a Delta tinha planeado cobrar anteriormente pelas tarifas.

“Tem sido realmente a forte procura e uma melhor conjuntura de preços a permitir-nos mais do que compensar o custo com os combustíveis”, disse Hauenstein. O combustível é o segundo maior encargo para as companhias aéreas, depois dos custos com pessoal, perfazendo 20% a 25% das despesas operacionais. Com exceção da Southwest (LUV), a maioria das companhias não possui contratos de combustível de longo prazo, conhecidos como “fuel hedges”, para protegê-las das oscilações nos preços dos combustíveis.

As três maiores companhias aéreas dos Estados Unidos — American, United (UAL) e Delta — alertaram os investidores que o preço médio do galão de combustível de aviação terá um aumento entre 17% e 33% no trimestre atual, em comparação com os últimos três meses de 2021, e entre 47% e 72% em relação à mesma altura no ano passado.

Os últimos dois anos mostraram que as companhias aéreas não podem simplesmente aumentar as tarifas para cobrir os custos, tendo a indústria aérea dos EUA perdido coletivamente dezenas de milhares de milhões de dólares com a queda na procura por viagens de avião. Apesar da procura por viagens de lazer ter aumentado no verão passado, as companhias aéreas dos EUA registaram prejuízos no final do ano.

Este ano, a procura deverá ser suficiente para que a indústria volte aos lucros pela primeira vez desde 2019, já que o aumento dos passageiros permite às companhias aéreas elevarem os preços dos bilhetes. Ainda assim, o aumento nos custos do combustível de aviação irá colocar pressão nos resultados das companhias, segundo Philip Baggaley, analista-chefe de crédito para companhias aéreas na Standard & Poor's.

“Mesmo com esta intensidade de tráfego, as companhias aéreas não conseguem suprir todos os custos com o aumento dos combustíveis, principalmente se estes aumentarem rapidamente”, disse. As companhias aéreas começaram a aumentar as tarifas muito antes da guerra na Ucrânia fazer elevar os preços do petróleo. Tiveram um forte crescimento das reservas no início de 2022 numa altura em que a variante Ómicron abrandou e decidiram que havia procura suficiente para suportar um aumento nas tarifas.

“Quando se pensa na fixação de preços, há que ter em conta aquilo que os clientes irão pagar”, disse Tammy Romo, diretora financeira da Southwest. Apesar dos custos mais baixos decorrentes dos seus contratos de combustível de longo prazo, a Southwest instituiu um aumento generalizado de tarifas em 1 de fevereiro, semanas antes da invasão da Ucrânia pela Rússia fazer aumentar os preços dos combustíveis. As companhias aéreas também limitaram o número de lugares mais económicos no início do ano, antecipando um pico de reservas para o verão.

“Não fizemos uma pré-venda para o verão a preços mais baixos, guardámos os lugares e agora vendemo-los a preços muito mais altos e estamos felizes com isso”, disse Andrew Nocella, diretor comercial da United. A maioria das companhias aéreas continua a realizar menos voos em rotas domésticas do que antes da pandemia. A escassez de pessoal e alguns atrasos na entrega de novos aviões fazem com que as companhias aéreas tenham menos oferta do que aquela que o mercado conseguiria suportar noutras circunstâncias.

“Já temos aviões com uma lotação aos níveis de março de 2019”, disse Willis Orlando, especialista sénior em aviação da Scott's Cheap Flights, um site de reservas. O índice de preços ao consumidor mostra que as tarifas aéreas subiram cerca de 13% em fevereiro em comparação com o mesmo período do ano passado, mas ainda estão 16% abaixo face a fevereiro de 2020, antes de a pandemia ter dizimado a procura por viagens de avião. Parte da razão pela qual as tarifas não voltaram aos níveis pré-pandemia é que, embora as viagens domésticas de lazer estejam perto dos números de 2019, as viagens de negócios e grande parte das viagens internacionais, dois dos segmentos mais lucrativos, estão longe de uma recuperação completa.

“O entrave às viagens de negócios não é o medo da covid. O entrave às viagens de negócios é o facto de as pessoas não terem ainda voltado aos escritórios”, disse o presidente da American Airlines, Doug Parker. “À medida que as pessoas forem regressando aos escritórios, a procura vai aumentar rapidamente.” Com o recuo nas restrições associadas à covid, as viagens internacionais poderão estar perto dos níveis de 2019 até ao final deste ano, acrescentou.

“Há uma enorme procura reprimida por viagens internacionais”, disse Parker. “Quando é que cada país dirá que é possível viajar sem restrições por causa da covid? Não consigo dizer. Não será neste verão. Mas creio que certamente acontecerá até ao final do ano.” (CNN texto do jornalista Chris Isidore)

Sem comentários: