quinta-feira, junho 28, 2018

Opinião: como não gosto de pontas soltas nem de moralismos

Vamos lá a ver se nos entendemos porque não gosto nem de deixar pontas soltas, nem recebo lições seja de quem for. Muito menos na política e na coerência que a política exige.

1. Sou um parlamentarista a 1.000%, defendo o parlamento como epicentro da democracia.

2. A ALRAM é o epicentro da política madeirense e mesmo quando foi secundarizado, por razões que não vou agora transportar para aqui - e as culpas disso não são imputáveis a apenas um dos lados da bipolarização muito regional que incomodou muita gente (a mim nada) menos a um dos seus protagonistas, já que culpados houve e muitos e em todos os quadrantes - nunca deixei de pensar como continuo a pensar, lamentando tudo o que se passou em seu desabono.

3. Já agora, fui um crítico confesso e assumido da palhaçada populista promovida por alguns iluminados da política doméstica a propósito do financiamento dos partidos. Alguns iluminados chegaram a preconizar até remédios ainda piores. Eu até percebo as intenções subjacentes a tudo isso, mas não vou dizer agora, porque teria de explicar ligações, dependências face a grupos empresariais, etc. Portanto, considero patético o que foi feito aos partidos na Madeira sem que lhes fosse dado tempo para que encontrassem soluções que não colocassem em perigo o cumprimento das suas obrigações e acções constitucionais. Hoje temos partidos longe das pessoas, cada vez mais distantes da sociedade, a braço com abstenções vergonhosas que questionam a representatividade dos eleitos, partidos sem recursos para fazerem face às actividades que deviam estar obrigados a desenvolver. Tal como temos grupinhos insignificantes que se limitam a sobreviver para arrecadarem dinheiro que pague pelo menos as despesas essenciais, grupinhos esses que nunca saem da toca que não contactam com as pessoas no terreno, que vivem para os jornais e televisões, que não tem militantes, nem organismos dirigentes constituídos, nem estruturas estatutários funcionais, etc. Obviamente que esses grupinhos não precisam de recursos porque valem o que valem, apenas uma parcela residual e diminuta. E lamento que os partidos com maiores responsabilidades estejam cada vez mais fora do terreno porque ficaram privados de recursos essenciais para desenvolverem actividades que, repito, deviam ser obrigados a concretizar fora dos períodos eleitorais.

4. Quanto ao que escrevi sobre as TAP, retomando o assunto, e uma iniciativa do PSD de constituição de uma comissão parlamentar de inquérito, mantenho tudo o que escrevi. Não retiro uma vírgula que seja. Se as pessoas entendem de forma deficiente, lamento mas o problema é delas. Se são tendenciosas, então o problema transcende-me.

5. Os madeirenses sabem o que se passa com a TAP, não precisam dos partidos para lhes explicarem o que se passa. Aliás, basta olhar para o aumento da abstenção - recorde em 2015 - e para os últimos resultados eleitorais de certos partidos para se perceber que os eleitores prescindem dos moralismos e de populismos oportunistas de alguns políticos, muito menos se assentes apenas numa guerra surda por disputas mediáticas que tem a comunicação social como epicentro dos objectivos.

6. A proposta de constituição de comissões de inquérito é um direito legítimo dos partidos políticos regionais, que nem discuto. Nada disso está em causa nem e alguma vez coloquei isso em causa. Podemos questionar sim, e com legitimidade, a eficácia em termos concretos, dessas comissões de inquérito que regra geral funcionam em função de jogos partidários e cujas conclusões estão sempre longe - como voltarão a estar - de consensos. Aliás no caso da ALRAM, e nesta Legislatura, quantas das comissões de inquérito apresentaram conclusões totalmente consensuais? Isso ajuda alguma coisa, contribui para a felicidade das pessoas, ajuda a esclarecer a verdade?

7. O que eu questionei - e mantenho - é se no caso da TAP, uma comissão de inquérito com uma amplitude limitada, a funcionar no quadro da ALRAM apenas (estamos a falar de uma empresa pública nacional com capitais maioritariamente detidos pelo Estado mas que é sui generis no seu funcionamento e na farsa da reversão da privatização estranha e apressada promovida por Passos e Portas, e na qual a RAM não tem qualquer intervenção, ao contrário do que acontece com a SATA nos Açores e com o Governo Regional local, a ser constituída a 30 dias das férias parlamentares, será uma iniciativa eficaz. Os autores podem dizer que sim e respeito isso porque cada um tem a liberdade de pensar o que entender. Eu tenho experiência diária de parlamento, do seu funcionamento, se quiserem das catacumbas ao topo da pirâmide de quase 30 anos, quer como jornalista, quer depois dentro da instituição. Foi por isso que questionei - e não percebo certas irritações... - se a iniciativa não poderia ter sido feita em primeiro lugar na Assembleia da República, por proposta dos deputados do PSD-M junto do seu grupo parlamentar. Porquê? Porque se o problema é o mediatismo provavelmente em São Bento ele seria maior e ultrapassaria a banalização de um debate regional que poderá correr o risco de não trazer nada de novo aos cidadãos, porque quanto a nada resolver de concreto, disso tenho a certeza quase absoluta.

8. Alias, quando sugeri que fossem os deputados do PSD-M a desencadearem essa proposta ela tinha propósitos políticos que nem foram entendidos. Não tenho culpa.
Em primeiro lugar, porque ajudaria a perceber o posicionamento do PSD nacional nesta matéria, sobre o qual tenho muitas dúvidas, dados os interesses que se cruzam a começar pelos nomeados para funções na própria TAP, relações privilegiadas entre a companhia e o aeroporto do Porto e as operações aéreas com o norte, etc.
Em segundo lugar, porque era um desafio à geringonça que se recusassem perderiam o pio aos olhos dos cidadãos e facilmente seriam acusados de não estarem interessados em debater no local próprio um problema      que diz respeito ao país e penaliza fortemente uma região em concreto, região insular e turística.

9. Digam-me uma coisa sff: algum deputado regional sabe quantos voos para a Madeira foram cancelados em 2017 pela TAP e demais operadores privados low cost e quantos passageiros foram afectados? Quantos desses cancelamentos estiveram associados as condições meteorológicas limitativas da operacionalidade no aeroporto madeirense e quantas se ficou a dever a razões operacionais que nunca são devidamente desvendadas? O mesmo pergunto relativamente a 2018. E acrescento: quais as responsabilidades que o hiper-congestionado aeroporto de Lisboa tem tido nos atrasos de muitos voos de Lisboa para o Funchal sem que, neste caso, a responsabilidade possa ser imputada às companhias aéreas? Por que razão, caso tenham esses dados, esses valores não foram revelados no parlamento, de forma clara e verdadeira, não com generalizações ou chavões conhecidos e pouco credíveis?

10. Acham que precisamos lembrar o que foi a farsa política da reversão da privatização e o que isso significou em termos de garantia de poder ao PS? Essa reversão teve ou não a ver com pressões sindicais e com a necessidade de ser mantido um pé influente, pelo PCP e Bloco, na empresa? Já leram com olhos de ver, o relatório divulgado pelo Tribunal de Contas sobre a "Auditoria à reprivatização e recompra da TAP"? Acham que é preciso lembrar que a TAP teve 100 milhões de euros de lucros em 2017 e que o novo presidente da empresa - mais um brasileiro - já defendeu que para a TAP sobreviver precisa de multiplicar esse lucro por sete vezes?

Fiquemos por aqui (LFM)

Sem comentários: