Escreve o jornalista do Expresso, Jorge Nascimento Rodrigues que "nunca tinha ouvido falar do Banco Espírito Santo. Em Londres, durante um cocktail na Câmara de Comércio Franco-Britânica encontrei um dos dirigentes da filial desse banco na City. Estranhei o nome e perguntei se era algum banco católico. Que não, não era, disse-me o meu interlocutor. Que era o nome de família. Estranhei, depois, que um banco de família estivesse em bolsa. Isto foi alguns meses antes da queda do banco e a esta distância não fico admirado com este escândalo. Todos os ingredientes estavam lá para o desastre. Quando conheci os detalhes, tive o mesmo sentimento que quando me surpreendi com a falência do Lehman Brothers [em setembro de 2008]", diz-nos Marc Roche, autor de "Banksters - Uma Viagem ao Submundo dos Banqueiros", que esteve em Lisboa para apresentar a obra.Trata-se de uma tradução em português que acaba de ser lançada pela editora A Esfera dos Livros. Marc é um belga, de 64 anos, jornalista financeiro na City há mais de vinte anos. Anteriormente estivera radicado em Nova Iorque e acompanhara o dia a dia de Wall Street. Em 2007 publicou uma primeira biografia em francês da rainha britânica Isabel II, que classifica de "não é reformadora, muito menos rebelde. Isabel II é retrógrada e seguidista". "Em 20 anos estive com ela cinco vezes, um recorde, julgo, para um jornalista estrangeiro", disse, numa ocasião, a propósito do livro "Elisabeth II, la dernière reine".
Os seis pecados capitais dos Espírito Santo
Só que, com o caso BES, o correspondente em Londres em assuntos financeiros para os jornais "Le Point" e "Le Soir", e até há pouco tempo para o "Le Monde", já não ficou admirado. Na Introdução para a edição portuguesa escreve que, no caso BES, a família de banqueiros com apelidos tão católicos cometeu seis dos sete pecados capitais bíblicos da finança - "opacidade das contas, cupidez, evasão fiscal, subtração à regulamentação, impunidade e orgulho". O verdadeiro choque teve-o há sete anos, o que o tornou um "desiludido do capitalismo", um "liberal que duvida", um "prosélito do capitalismo em crise de fé", como escreve no livro. Na longa entrevista que concedeu ao Expresso, e que vai ser publicada na edição diária de terça-feira, Marc Roche lamenta que os banqueiros escapem sempre, só os traders, os "soldadinhos" nos computadores, ou os bodes expiatórios são julgados e encarcerados. Os reguladores também escapam ao juízo sobre o seu comportamento em toda esta crise. Todos eles saem por uma porta e entram por outra, reciclam-se. Confessa que o "segmento" mais opaco deste vasto complexo da finança que encontrou nos seus mais de 25 anos na Wall Street e na City são as auditoras, o oligopólio das Big Four que faz a auditoria e vive depois da consultoria em simultâneo, com o seu exército de "homens de cinzento invisiveis".
"Abridores de portas", a gente que mais o indigna
A gente que mais o "indigna" são os "abridores de portas", os políticos que passam pelo "túnel" para a finança ou os altos negócios, e à cabeça deles Tony Blair, o primeiro-ministro britânico que levou à prática a "terceira via" de fusão da social-democracia com a desregulamentação, com o financismo. "Mas ele não está só", logo acrescenta. Outro expoente é o ex-chanceler alemão Gerhard Schröder, muito ligado aos interesses russos, e que defendeu a anexação da Crimeia. Marc batiza-os, no livro, de "apóstolos do capitalismo de relações destinado a capturar os Estados". Apesar da crise da zona euro, Marc repete-nos que "o euro é um sucesso até nova ordem" e reage à "perfídia" do "Financial Times" (FT), a bíblia dos INVESTIDORES e o seu próprio diário preferido, que permite nas suas páginas uma campanha sistemática de colunistas contra o euro. "Os detratores da moeda única monopolizaram as páginas editoriais" do FT, escreve no livro.
Filme sobre os banksters em 2016
Na sequência da grande crise financeira, escreveu três livros sobre a alta finança. Em 2010 publicou um livro de choque sobre o poderoso Goldman Sachs (GS), intitulado "O Banco, como o Goldman Sachs dirige o mundo", uma "potência do capitalismo" com quem ele confessa manter uma "relação de amor-ódio". No ano seguinte, com um título ainda mais chocante, escreveu "O Capitalismo Fora da Lei". Agora, recorreu ao uso da contração inglesa banksters para banqueiros (bankers) e ganguesteres (gangsters), um termo dos anos 1930, para fazer "uma viagem aos seus amigos capitalistas" (como se refere no pós-título diferente na edição original francesa das Éditions Albin Michel). O termo foi usado em 1933 pelo temível juiz Ferdinand Pecora, conselheiro-chefe da Comissão sobre Banca e Moeda do Senado dos Estados Unidos, responsável pela investigação sobre as práticas de Wall Street que conduziram ao crash de 1929, e depois usado como propaganda contra a finança pelo fascista belga León Degrelle em 1937. Com esta mais recente grande crise financeira foi retirado da gaveta pela revista britânica "The Economist" em julho de 2012 que fez uma capa com a palavra e publicou um editorial muito duro. O livro "Banksters" vai passar a filme a partir do final do ano e deverá chegar ao ecrã em setembro de 2016 no canal francês Arte. A ideia é similar à longa-metragem sobre o GS realizada por Jérôme Fritel com base no livro. É um novo projeto comum. Como Marc Roche não para, o próximo livro é sobre um terreno ainda mais difícil e complexo, o do mercado das commodities"
Os seis pecados capitais dos Espírito Santo
Só que, com o caso BES, o correspondente em Londres em assuntos financeiros para os jornais "Le Point" e "Le Soir", e até há pouco tempo para o "Le Monde", já não ficou admirado. Na Introdução para a edição portuguesa escreve que, no caso BES, a família de banqueiros com apelidos tão católicos cometeu seis dos sete pecados capitais bíblicos da finança - "opacidade das contas, cupidez, evasão fiscal, subtração à regulamentação, impunidade e orgulho". O verdadeiro choque teve-o há sete anos, o que o tornou um "desiludido do capitalismo", um "liberal que duvida", um "prosélito do capitalismo em crise de fé", como escreve no livro. Na longa entrevista que concedeu ao Expresso, e que vai ser publicada na edição diária de terça-feira, Marc Roche lamenta que os banqueiros escapem sempre, só os traders, os "soldadinhos" nos computadores, ou os bodes expiatórios são julgados e encarcerados. Os reguladores também escapam ao juízo sobre o seu comportamento em toda esta crise. Todos eles saem por uma porta e entram por outra, reciclam-se. Confessa que o "segmento" mais opaco deste vasto complexo da finança que encontrou nos seus mais de 25 anos na Wall Street e na City são as auditoras, o oligopólio das Big Four que faz a auditoria e vive depois da consultoria em simultâneo, com o seu exército de "homens de cinzento invisiveis".
"Abridores de portas", a gente que mais o indigna
A gente que mais o "indigna" são os "abridores de portas", os políticos que passam pelo "túnel" para a finança ou os altos negócios, e à cabeça deles Tony Blair, o primeiro-ministro britânico que levou à prática a "terceira via" de fusão da social-democracia com a desregulamentação, com o financismo. "Mas ele não está só", logo acrescenta. Outro expoente é o ex-chanceler alemão Gerhard Schröder, muito ligado aos interesses russos, e que defendeu a anexação da Crimeia. Marc batiza-os, no livro, de "apóstolos do capitalismo de relações destinado a capturar os Estados". Apesar da crise da zona euro, Marc repete-nos que "o euro é um sucesso até nova ordem" e reage à "perfídia" do "Financial Times" (FT), a bíblia dos INVESTIDORES e o seu próprio diário preferido, que permite nas suas páginas uma campanha sistemática de colunistas contra o euro. "Os detratores da moeda única monopolizaram as páginas editoriais" do FT, escreve no livro.
Filme sobre os banksters em 2016
Na sequência da grande crise financeira, escreveu três livros sobre a alta finança. Em 2010 publicou um livro de choque sobre o poderoso Goldman Sachs (GS), intitulado "O Banco, como o Goldman Sachs dirige o mundo", uma "potência do capitalismo" com quem ele confessa manter uma "relação de amor-ódio". No ano seguinte, com um título ainda mais chocante, escreveu "O Capitalismo Fora da Lei". Agora, recorreu ao uso da contração inglesa banksters para banqueiros (bankers) e ganguesteres (gangsters), um termo dos anos 1930, para fazer "uma viagem aos seus amigos capitalistas" (como se refere no pós-título diferente na edição original francesa das Éditions Albin Michel). O termo foi usado em 1933 pelo temível juiz Ferdinand Pecora, conselheiro-chefe da Comissão sobre Banca e Moeda do Senado dos Estados Unidos, responsável pela investigação sobre as práticas de Wall Street que conduziram ao crash de 1929, e depois usado como propaganda contra a finança pelo fascista belga León Degrelle em 1937. Com esta mais recente grande crise financeira foi retirado da gaveta pela revista britânica "The Economist" em julho de 2012 que fez uma capa com a palavra e publicou um editorial muito duro. O livro "Banksters" vai passar a filme a partir do final do ano e deverá chegar ao ecrã em setembro de 2016 no canal francês Arte. A ideia é similar à longa-metragem sobre o GS realizada por Jérôme Fritel com base no livro. É um novo projeto comum. Como Marc Roche não para, o próximo livro é sobre um terreno ainda mais difícil e complexo, o do mercado das commodities"