Segundo
o jornalista do Público, SÉRGIO ANÍBAL, “Carla Clifton, analista da DBRS para
Portugal, diz que uma linha de crédito cautelar tem a vantagem de garantir
taxas de juro razoáveis durante o seu período de duração. Não é uma das três
maiores e mais conhecidas agências de rating do Mundo, mas é talvez aquela para
a qual os bancos da Europa periférica, e certamente agora os portugueses,
olham. Chama-se DBRS, é canadiana e pode vir a desempenhar um papel fundamental
na forma como Portugal irá conseguir sair do programa da troika a partir de Maio.
Mas como é que esta pequena agência, criada em 1974 e com sede em Toronto,
conseguiu ganhar um papel de tanto destaque?
Tudo
começou em 2008, quando o Banco Central Europeu (BCE) passou a incluir a DBRS
na lista de agências de ratings credenciadas para avaliarem os títulos que eram
entregues pelos bancos ao BCE como colateral para os seus pedidos de
empréstimos. Até aí, a autoridade monetária apenas considerava os ratings
atribuídos pelas três grandes: Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch.
Passados
quatro anos apenas, os holofotes do sector financeiro viraram-se todos para a
DBRS. Espanha e Itália estavam sob pressão dos mercados e a S&P, a Moody’s
e a Fitch colocaram os seus ratings para os dois países abaixo do nível A.
Apenas a DBRS resistiu, mantendo um nível A-.
Isso
fez toda a diferença para os bancos espanhóis e italianos. É que foi com base
nesse único rating que estes puderam continuar a usar da mesma forma que
anteriormente os títulos de dívida dos seus países como colateral. Se a DBRS
baixasse o rating, os bancos com dívida pública espanhola e italiana veriam
automaticamente o colateral que podiam usar ser cortado em 5%, tornando ainda
mais difícil a gestão da sua situação financeira, o que teria repercussões
graves para toda a crise do euro. Foi por isso que, num relatório publicado no
auge da crise do euro, um banco de investimento norte-americano escrevia que
“as mudanças de rating feitas pela DBRS são as mais importantes para os títulos
de dívida pública utilizados como colateral para o BCE”. Numa entrevista ao
jornal canadiano The Globe and Mail, o fundador da agência, Walter Schroeder,
defendia em 2012 a opinião mais benigna da DBRS em comparação com as suas
concorrentes. “Nós temos uma filosofia diferente da das outras agências”,
afirmava, desafiando: “Daqui a três anos vemos se somos bons ou não. Nessa
altura veremos como como é que estão os ratings. E veremos quem é que tem
razão”. Para já, passados dois anos, a situação mantém-se até hoje: a DBRS é a
única a atribuir um rating A à Espanha e à Itália. Mas os mercados, com taxas
de juro muito baixas para os dois países, parecem querer dar razão à DBRS.
As
vantagens do cautelar
Agora
a influência da DBRS chega a Portugal. Nos últimos três anos, o facto de
Portugal estar sob um programa da troika fez com que o BCE aplicasse um regime
de excepção e aceitasse todos os títulos de dívida portugueses como colateral,
independentemente do seu rating. Isso foi muito importante para os bancos
portugueses, que puderam continuar a usar as suas obrigações de tesouro
nacionais para obterem financiamento do BCE. Em Dezembro, os bancos tinham
45.785 milhões de euros de dívida pública portuguesa. No entanto, o BCE já
avisou que, a partir de Maio, se Portugal optar por uma saída limpa, perde esse
regime de excepção. Os ratings voltam a contar. E neste momento, a única das
quatro agências consideradas pelo BCE que atribui a Portugal um rating acima de
“lixo” – o nível mínimo para o BCE aceitar os títulos de dívida como colateral
- é a DBRS. A manter-se o actual cenário, será apenas o rating BBB- atribuído
pela agência canadiana que permitirá aos bancos portugueses poderem continuar a
obter financiamento junto do BCE como até aqui. O cenário é de risco elevado
porque o rating da DBRS está a apenas um nível de cair para “lixo” e apresenta
uma tendência “negativa”. É por isso que, mais do que nunca, interessa saber o
que pensa a DBRS de Portugal. Carla Clifton, nascida em Portugal mas fora do
país desde que entrou na universidade, é a analista da DBRS com a
responsabilidade de analisar a situação da economia e finanças públicas
portuguesas. Em declarações ao PÚBLICO, destaca “os desenvolvimentos muito
positivos a nível macroeconómico, nomeadamente os resultados conseguidos na
balança comercial”, mas assinala que quer ainda ver mais provas de que o país
está mesmo a proceder a uma mudança estrutural na sua economia. “Para que se
possa pensar numa melhoria do rating, é preciso confirmar a capacidade de
Portugal crescer a médio prazo. A actual recuperação tem uma componente cíclica
forte e temos de ver se a melhoria é também de carácter estrutural, se as
reformas que foram implementadas estão realmente a tornar o país mais competitivo”,
afirma Carla Clifton”.