“Estão anunciados para breve protestos que devem
marcar o mês de março nas polícias e nos militares. Não sendo a primeira vez
que tal acontece, também é, em meu entender, de assinalar que o simples facto
de um protesto se repetir não lhe retira qualquer importância. Muito pelo
contrário, deve - assim sendo - ser encarado como um sinal de mal-estar
permanente, de uma situação de degradação que se repete e que continua.
Todavia - e fazendo um pouco de história recente -,
vale a pena recordar que o atual Governo de coligação PSD-CDS tem tentado fazer
alguma demagogia com estes casos e, no entretanto, encomendou uma análise de
mercado a uma consultora. Desta resultaram alguns dados surpreendentes, como
sejam - e para citar um artigo do DN de março do ano passado - "(...) os
praças das Forças Armadas, os chefes e agentes da PSP e os sargentos e guardas
da GNR auferem acima do mercado. Segundo o estudo, um praça tem um ganho médio
mensal de 975 euros e um chefe e um agente da PSP, um salário-base de 1700 e
1250 euros, respetivamente. No caso do sargento e do guarda da GNR, o vencimento-base
ronda 1775 e 1200 euros, respetivamente." E ainda segundo o mesmo estudo
citado pelo DN "(...) a ganhar acima do mercado estão os polícias
municipais, com uma remuneração-base de 930 euros e um ganho médio de 1380
euros. O mesmo sucede com os bombeiros e os guardas prisionais, com um
salário-base de 1005 e 1015 euros, respetivamente." Numa conjuntura em que
interessava que os portugueses acreditassem que "viviam acima das suas
possibilidades" até se pode compreender que esta fosse (mais uma) tentativa
para colocar os diversos sectores da sociedade portuguesa uns contra os outros;
e num momento em que se adivinhava uma crise política, que terminou com a
demissão do ex-ministro de Estado e das Finanças Vítor Gaspar, esta bem que
poderia ser mais uma forma desesperada de implementar semelhante agenda de
redução de salários, de enfraquecimento do tecido social e do potencial de
protesto dos portugueses.
Contudo - e uma vez mais -, a realidade dos factos
impõe-se perante a demagogia do ex-ministro de Estado e das Finanças Vítor
Gaspar e dos que deram continuidade às suas opções políticas e muito pouco
patrióticas. Além dos polícias e militares que têm salários penhorados e que
são quase dez mil, há hoje milhares de situações de falta de dignidade nas condições
de trabalho e salariais desses profissionais. Ao promover a miséria destes
grupos ("estudos" à parte) o Governo do primeiro-ministro Pedro
Passos Coelho estimula a fraqueza nacional. A quem convém semelhante agenda? O
futuro - certamente – responderá” (texto de PAULO PEREIRA DE ALMEIDA, DN deLisboa, com a devida vénia)