sexta-feira, março 21, 2014

Opinião: "Imunes"




“Ao contrário do que se possa pensar a reunião de amanhã do Conselho regional do PSD da Madeira será pacífica, tem que ser pacífica, porque o momento não convida nem a aventuras, nem à apologia da conflitualidade interna que fragiliza. É urgente a pacificação partidária para que nos concentremos todos naquilo que são os desafios essenciais de nesta data de colocam à Região.
Dirão alguns, com alguma razão, que o PSD regional está fragilizado política e eleitoralmente e que tarde em resolver rapidamente essa situação emocional, remobilizando-se de cima abaixo. Porque aos resultados das regionais de 2011, que foram claramente os piores de sempre, em votos e mandatos, somou o resultado das autárquicas de Setembro do ano passado que representaram, de facto, um soco no estômago, do qual o PSD local parece não estar ainda coletivamente recuperado. Há que passar à fase seguinte, tal como fazem todos os partidos porque em democracia é a vontade soberana dos eleitores que determina tudo na política. Os madeirenses votaram no ano passado da forma que livremente entenderam a mais adequada. Ao PSD da Madeira o que se exige é que respeite essa vontade, da mesma forma que o fez sempre no passado, quando ganhou de forma clara, e exigiu respeito pelo veredicto dos eleitores, particularmente por alguns sectores da oposição que tanto criticaram e ridicularizaram no passado as opções dos "vilões" e "analfabetos" que agora são endeusados.
E porque é que digo que a reunião do Conselho Regional será porventura das mais fáceis, em termos de decisão, e politicamente tranquilas? Porque uma coisa é o que desejam todos aqueles que há muitos meses, contado com cumplicidades várias, procuram condicionar, deturpar, manipular os factos e direcionar o veredicto dos conselheiros - catalogados de "brigada do reumático", de "desnecessidades" ou de "papagaios" não sei de quem, entre outros atributos que esclarecem o carácter de quem promove e fomenta toda esta porcaria de fora para dentro - outra cosia é o que realmente está em jogo para o PSD. Em jogo de facto, não em função dos desejos dos candidatos à liderança já conhecidos.
Os conselheiros, refletindo o que eu acredito seja - embora não tenha obviamente a certeza - o sentimento generalizado, vão ler, ouvir e decidir em conformidade com a sua convicção, com a sua liberdade de pensamento e de escolha, mas nesta fase também em função do que melhor interessa do PSD. Não sou hipócrita e não vou andar aqui com falinhas mansas.
O que ali estará a ser votado é apenas uma proposta de antecipação do congresso regional com tudo o que isso pode implicar em termos de riscos eleitorais e políticos. E podem crer que se o PSD da Madeira um dia entrasse numa penosa travessia do deserto, fruto de todos estes tiros-nos-pés, provavelmente os causadores de tudo isso seriam os primeiros a abandonar o barco e rapidamente as bases do partido deixariam de os ver por perto. Não duvidem disso. É sempre assim, vem nos livros de ciência e de estratégia política.
Mas como não vamos discutir intencionalidades subjacentes a certas estranhas pressas de conquista (ou tomada) do poder, e como continuo a respeitar todos aqueles que se apresentam como candidatos à liderança do PSD-Madeira, processo aberto pelo próprio Alberto João Jardim quando anunciou que não se recanditaria, o que é que estará em cima da mesa?
Apenas e só - e não vale a pena alindar a discussão, agitar fantasmas, complicar o debate com argumentos absolutamente estranhos ou diabolizar protagonistas, inventando histórias da carochinha que não interessam para nada nem a ninguém - a realização, sim ou não, de um congresso eletivo antecipado.
Se for aprovada essa proposta, que riscos corre o PSD numa conjuntura que é claramente duplamente penalizadora? Provavelmente o risco maior, admitindo que ainda seria o partido mais votado, seria o de perder a maioria absoluta, obrigando os social-democratas regionais a ter que negociar com algum parceiro, que no pós-Alberto João Jardim, seria ou o CDS, no caso dos adversários de um entendimento à esquerda, ou com o PS, no caso dos adeptos do chamado "bloco central" e que olham para o CDS com comprovada desconfiança.
Não vale a pena esconder o sol com a peneira. O que estará em cima da mesa resume-se a saber se há ou não congresso antecipado. Neste contexto, o que os militantes do PSD precisam de saber, se é que não estão devidamente esclarecidos e atentos a todas as movimentações que por aí andam, são as implicações de uma ou de outra opção. Ou seja, identificar os prós e contras subjacentes a qualquer das opções a serem tomadas. Uma antecipação do congresso com a consequente antecipação das "diretas" para eleição de um novo líder ou a manutenção deste calendário até final do ano, respeitando o que foi aprovado em congresso e ratificado depois pela Comissão Política e pelo Conselho Regional.
Sei que existem várias teorias - admito, em termos pessoais, que algumas delas possam até ser pertinentes. Até porque desconfio muito, sempre desconfiei muito, de Cavaco Silva e não tenho por adquirido que o calendário político defendido por Alberto João Jardim - "diretas" em Dezembro, congresso e indicação de um novo presidente do governo regional em Janeiro de 2015 – seja aceite.
Temos todos que identificar, pragmaticamente, o que neste momento mais interessa ao PSD regional e saber se o partido está ou não em condições de ser penalizado. Acredito que o bom senso vai imperar. O recurso a eleições antecipadas, neste momento, acarreta riscos, não só para o PSD, mas para a própria oposição que bem vistas as coisas, precisa de mais tempo. Porque sabe que as regionais não se comparam às autárquicas e que as coligações viabilizadas em Setembro de 2013 dificilmente se repetem porque muita coisa está em jogo no ato eleitoral regional.
Por que razão os membros do Conselho Regional e os militantes e simpatizantes do PSD da Madeira em geral, independentemente de estarem ou não satisfeitos com tudo o que se passa na sua vida e na política em geral, de terem ou não razões de queixa, terão que fazer a vontade a quem está, esteve e estará sempre contra o PSD, ou a quem não é, nem alguma vez foi ou será, simpatizante, militante ou eleitor do PSD?" (JM)