O
cenário de eleições antecipadas parece ser, estranhamente, do agrado de algumas
pessoas, que apostam sobretudo - e não me pronuncio sobre isso - numa pretensa
mais-valia de imagens pessoais, uma espécie de culto da personalidade que
escamoteia o efeito devastador que estas situações de crise social e económica
exercem na política. Em conjunturas de normalidade a opinião pública limita-se
a viver o seu dia-a-dia sem perder tempo com pequenas situações políticas. Mas
em situações de crise social e económica agreste, como é o caso presente,
qualquer pequena coisa antes desvalorizada ou até ignorada, passa a ser
suficiente para ser transformada num caso e, regra geral, virando-se
perigosamente contra partidos e políticos de uma maneira geral, sem diferenciações
positivas ou negativas. Os ventos, para a política e os seus protagonistas,
decididamente não sopram favoráveis. E aqueles que de uma maneira ou de outra,
neste ou naquele cargo, nesta ou naquela função tiveram responsabilidades
executivas são os que mais fácil e frequentemente aparecem no "fio da
navalha", responsabilizados pelas consequências que hoje pagamos. E temos
que reconhecer que a austeridade deixou marcas graves na Madeira e que
dificilmente a Região parece ter condições para dar a volta a uma situação
deprimente que subsiste, e onde várias das suas componentes indiciam o risco de
serem realidades estruturais e não meramente conjunturais.
Costumo
dizer que em 1974 quando aderi ao PSD, graças a uma conjugação de vários fatores,
fi-lo por opção e porque havia obviamente uma identificação ideológica com
aquele partido em concreto. Não acredito, nunca acreditei, nos
"independentes" uma pomposa figura usada abusivamente na política,
atrás da qual se refugiam aqueles que não se querem comprometer com um partido
em concreto, mas que não se importam de estar a bem com vários deles ao mesmo
tempo. Há sim, aceito sem grande dificuldade, pessoas com uma opção ideológica
definida e com escolhas eleitorais consolidadas, que por razões várias, desde
logo pessoais, não têm militância partidária efetiva, achando, e bem, que para
pensarem como pensam e votarem como votam, não precisam de exibir qualquer
cartão de militância. Mas isso é diferente do que ser "independente".
Portanto,
não é agora, passados 40 anos depois de ter tomado uma opção, que vou mudar
essas minhas escolhas. Posso lamentar que o partido do qual faço parte esteja a
passar por um momento de desestabilização que o fragiliza. Mas sinto o dever,
diria mesmo a obrigação, tal como os demais militantes, de não deixar que o que
parece ser, por enquanto, uma discussão elitista - onde tudo parece jogar-se em
função do mediatismo nos meios de comunicação, particularmente na imprensa, ou
no espaço obtido nas redes sociais - possa destruir o que já em si mesmo não se
encontra numa situação vulnerável e pouco estimulante.
Tal
como referi, mas insisto, o PSD da Madeira é penalizado duplamente, quer por
via do impacto do PAEF, quer graças às consequências criminosas da austeridade
nacional, que visa insistentemente os reformados e os funcionários públicos -
que constituíram durante muitos anos uma parcela importante da base social e
eleitoral do PSD regional e que hoje, provavelmente devido ao facto de serem
cidadãos compreensivelmente frustrados, desiludidos e furiosos com tudo o que
se tem passado, obviamente se distanciaram ou pura e simplesmente não votam - é
mais do que provável que o PSD, enquanto partido de poder nos dois lados, não
saia favorecido.
Penso
que é importante que os militantes que são membros do Conselho Regional, e que
são pessoas livres e sérias, decidam em função das suas convicções e
consciência, não se deixando manipular nem sentir-se coagidos ou condicionados
pela proliferação de pressões, insinuações e tentativas de manipulação, feitas
de fora para dentro, geralmente associadas a interesses que se vão alinhando
com objetivos claros e propósitos políticos que são facilmente identificáveis.
Por
que razão os membros do Conselho Regional e os militantes e simpatizantes do
PSD da Madeira em geral, independentemente de estarem ou não satisfeitos com
tudo o que se passa na sua vida e na política em geral, de terem ou não razões
de queixa, terão que fazer a vontade a quem está, esteve e estará sempre contra
o PSD, ou a quem não é, nem alguma vez foi ou será, simpatizante, militante ou
eleitor do PSD? Por que razão o Conselho Regional de amanhã, pro exemplo, terá
que ceder a essas pressões e a esse jogo de interesses que por aí anda, por
enquanto dissimulado nos bastidores cada mais menos confiáveis, mas que não
tarda muito, identificaremos, nalguns casos com justificada surpresa ou
estupefação.
O
PSD da Madeira, com todos os seus defeitos e virtudes - não há partidos
perfeitos tal como não há políticos imaculados - foi sempre um partido pacificado
que viveu à sombra dos sucessos eleitorais e das virtudes e dos defeitos de uma
liderança carismática e forte que perdura há décadas.
Quando
é o próprio líder que protagonizou essa fase histórica anuncia que não se recandidata,
obviamente que o processo de disputa da liderança fica automaticamente aberto e
todos os militantes ficam livres de se candidatar. Não podemos por exemplo
sacrificar as eleições europeias, cuja campanha eleitoral está à porta, por
causa da disputa interna, desviando a atenção das pessoas daquilo que é o
essencial neste momento. Seria hipocrisia se assim fosse e demasiado grave. Mas
depois deste ato eleitoral, usem os argumentos que quiserem, terei sempre
alguma dificuldade em perceber que se pretenda impor regras num processo que
tem que se desenvolver de forma livre e democrática, num quadro de total
isenção e de respeito pelas pessoas, de respeito pelo PSD regional, cujo futuro
tem que ser preservado, custe o que custar e doa a quem doer.
Porque
há outra questão que se coloca com pertinência e acrescida acuidade, a de
sabermos se, no atual contexto, a antecipação de eleições como alguns
candidatos à liderança do PSD defendem, resolve ou não os nossos problemas e
abre caminho a soluções, quando é sabido
que o país no final deste ano entra numa complexa e agressiva campanha
eleitoral, a pensar mais nas legislativas de 2015 do que em qualquer outra
porcaria.
Na
política, repito, não há vedetas. Uma coisa é ganhar autárquicas, ou não ganhar
coisa nenhuma porque na realidade nunca personificaram qualquer candidatura
própria, outra coisa é ganhar eleições regionais, onde está em jogo muito mais
do que aquilo que está em cima da mesa num ato eleitoral de dimensão concelhia
ou de freguesia.
Repito
e insisto, o que antes eram questões menores e sem significado, hoje, devido à
crise e à austeridade, assumem uma outra dimensão e polémica, transformando-se
facilmente em notícias passíveis inclusivamente de se transformarem em matéria
suscetível de destruir carreiras e políticos. Tudo é valorizado, numa outra perspectiva
e numa outra escala que não existia no passado. As pessoas, por causa disso,
passam a ter que cumprir determinados requisitos e garantir exigências que
obviamente não serão os próprios a decidir sobre isso mas sim os cidadãos e os
eleitores. Um deles é exatamente a questão da popularidade.
Parece-me
incontestável que, subjacente a este reclamar de eleições existe a ideia de que
tudo passará, no futuro, por um entendimento com outro partido, no pressuposto
que o PSD será o mais votado das regionais, ganhando-as. Porque se isso não
acontecer o PSD da Madeira deixa de ter peso e deixa inclusivamente de
encabeçar o complexo processo de decisão política regional. O PSD, as suas
bases, os militantes e simpatizantes, precisam definir neste momento - e falo
deste momento e neste momento em concreto - se o recurso a eleições antecipadas
é ou não um sinal de aventureirismo que fará com que o PSD corra o risco de
pagar um elevado preço, caso acredite em "salvadores" ou
"milagreiros".
Temo
que as pessoas que eventualmente possam conduzir o PSD para uma situação dessas
- caso o desfecho seja mais grave do que aquele que perspectivamos - sejam os
primeiros a abandonar o barco deixando para traz toda a porcaria que eles
próprios gerariam. Acho estranho que alguns dos candidatos à liderança do PSD
achem no seu íntimo que isto até é positivo para eles quando não o será. O que
está em causa é o futuro do PSD da Madeira algo que nunca poderemos discutir ou
atender se nos confrontarmos com um partido esfrangalhado e dividido, nesse
caso um partido que não inspirará confiança a ninguém, incapaz de ser levado a
sério e de se apresentar aos eleitores com uma mensagem de confiança e
esperança suscetível de cativar os votos. As pessoas têm que perceber isso.
Os
militantes social-democratas, nesta fase complicada, não podem ceder a pressões
ou a insinuações. Não podem querer fazer a vontade a pessoas, interesses ou
grupos, que não têm rigorosamente nada a ver com o PSD da Madeira, nunca
tiveram e nunca alguma vez terão, simplesmente porque nunca se identificaram, e
estão no seu direito, com o PSD, nunca votaram no PSD, nunca tiveram qualquer
simpatia ou militância com o PSD. Julgo que tudo aquilo que esses setores
colocam cá fora, sobretudo nos últimos dois a três meses, acompanhados de
críticas e do lamentável enxovalho público e da inaceitável ridicularização dos
conselheiros regionais do PSD, é sintomático quanto ao que eles pretendem. Tudo
isso têm a ver com os interesses, incluindo os políticos e partidários, que
eles defendem.
O
que vai estar em causa no CR é apenas isto. E não vale a pena complicar aquilo
que é simples e demasiado fácil para se entendido, em toda a sua extensão. Quando
entram por justificações estapafúrdias, o que fazemos é complicar aos olhos dos
militantes, simpatizantes e dirigentes uma realidade que é fácil de ser encara
e percebida. Repito, o que estará sábado em causa no CR é apenas isto e só
isto. Mais nada. Há fatos trazidos a debate que não interessam rigorosamente
nada neste momento, ao PSD da Madeira e aos seus militantes. Podem até meter
Nosso Senhor Jesus Cristo ou o Papa na "guerra" das "diretas"
que nada muda, porque tudo o que aqui disse se aplica na mesma. Isto não tem
nada a ver com "diretas" nem com quem ambiciona ser líder do PSD
regional. Temos que respeitar essas pessoas, de ouvi-las, de conhecer as suas
ideias, de perceber as suas propostas, etc.
Não
vale a pena andarmos a esconder o sol com a peneira. Insisto: por muito que
queiram menosprezar e ridicularizar os membros do Conselho Regional são eles
que decidirão e não são certamente um grupo de mentecaptos. É este apelo à responsabilização
coletiva do partido no seu todo, que neste momento se coloca. Tanto mais quando
estamos reconhecidamente a atravessar uma das épocas mais difíceis da história
do PSD da Madeira.
O que se espera é que o Conselho Regional delibere imune ao que se passa
"lá fora", num quadro interno de respeito, de tolerância e não de
animosidade ou conflitualidades que nada resolvem, apenas degradam e complicam.