quinta-feira, março 20, 2014

O que está em causa no sábado é simples


O cenário de eleições antecipadas parece ser, estranhamente, do agrado de algumas pessoas, que apostam sobretudo - e não me pronuncio sobre isso - numa pretensa mais-valia de imagens pessoais, uma espécie de culto da personalidade que escamoteia o efeito devastador que estas situações de crise social e económica exercem na política. Em conjunturas de normalidade a opinião pública limita-se a viver o seu dia-a-dia sem perder tempo com pequenas situações políticas. Mas em situações de crise social e económica agreste, como é o caso presente, qualquer pequena coisa antes desvalorizada ou até ignorada, passa a ser suficiente para ser transformada num caso e, regra geral, virando-se perigosamente contra partidos e políticos de uma maneira geral, sem diferenciações positivas ou negativas. Os ventos, para a política e os seus protagonistas, decididamente não sopram favoráveis. E aqueles que de uma maneira ou de outra, neste ou naquele cargo, nesta ou naquela função tiveram responsabilidades executivas são os que mais fácil e frequentemente aparecem no "fio da navalha", responsabilizados pelas consequências que hoje pagamos. E temos que reconhecer que a austeridade deixou marcas graves na Madeira e que dificilmente a Região parece ter condições para dar a volta a uma situação deprimente que subsiste, e onde várias das suas componentes indiciam o risco de serem realidades estruturais e não meramente conjunturais.
Costumo dizer que em 1974 quando aderi ao PSD, graças a uma conjugação de vários fatores, fi-lo por opção e porque havia obviamente uma identificação ideológica com aquele partido em concreto. Não acredito, nunca acreditei, nos "independentes" uma pomposa figura usada abusivamente na política, atrás da qual se refugiam aqueles que não se querem comprometer com um partido em concreto, mas que não se importam de estar a bem com vários deles ao mesmo tempo. Há sim, aceito sem grande dificuldade, pessoas com uma opção ideológica definida e com escolhas eleitorais consolidadas, que por razões várias, desde logo pessoais, não têm militância partidária efetiva, achando, e bem, que para pensarem como pensam e votarem como votam, não precisam de exibir qualquer cartão de militância. Mas isso é diferente do que ser "independente".

Portanto, não é agora, passados 40 anos depois de ter tomado uma opção, que vou mudar essas minhas escolhas. Posso lamentar que o partido do qual faço parte esteja a passar por um momento de desestabilização que o fragiliza. Mas sinto o dever, diria mesmo a obrigação, tal como os demais militantes, de não deixar que o que parece ser, por enquanto, uma discussão elitista - onde tudo parece jogar-se em função do mediatismo nos meios de comunicação, particularmente na imprensa, ou no espaço obtido nas redes sociais - possa destruir o que já em si mesmo não se encontra numa situação vulnerável e pouco estimulante.

Tal como referi, mas insisto, o PSD da Madeira é penalizado duplamente, quer por via do impacto do PAEF, quer graças às consequências criminosas da austeridade nacional, que visa insistentemente os reformados e os funcionários públicos - que constituíram durante muitos anos uma parcela importante da base social e eleitoral do PSD regional e que hoje, provavelmente devido ao facto de serem cidadãos compreensivelmente frustrados, desiludidos e furiosos com tudo o que se tem passado, obviamente se distanciaram ou pura e simplesmente não votam - é mais do que provável que o PSD, enquanto partido de poder nos dois lados, não saia favorecido.

Penso que é importante que os militantes que são membros do Conselho Regional, e que são pessoas livres e sérias, decidam em função das suas convicções e consciência, não se deixando manipular nem sentir-se coagidos ou condicionados pela proliferação de pressões, insinuações e tentativas de manipulação, feitas de fora para dentro, geralmente associadas a interesses que se vão alinhando com objetivos claros e propósitos políticos que são facilmente identificáveis.

Por que razão os membros do Conselho Regional e os militantes e simpatizantes do PSD da Madeira em geral, independentemente de estarem ou não satisfeitos com tudo o que se passa na sua vida e na política em geral, de terem ou não razões de queixa, terão que fazer a vontade a quem está, esteve e estará sempre contra o PSD, ou a quem não é, nem alguma vez foi ou será, simpatizante, militante ou eleitor do PSD? Por que razão o Conselho Regional de amanhã, pro exemplo, terá que ceder a essas pressões e a esse jogo de interesses que por aí anda, por enquanto dissimulado nos bastidores cada mais menos confiáveis, mas que não tarda muito, identificaremos, nalguns casos com justificada surpresa ou estupefação.

O PSD da Madeira, com todos os seus defeitos e virtudes - não há partidos perfeitos tal como não há políticos imaculados - foi sempre um partido pacificado que viveu à sombra dos sucessos eleitorais e das virtudes e dos defeitos de uma liderança carismática e forte que perdura há décadas.

Quando é o próprio líder que protagonizou essa fase histórica anuncia que não se recandidata, obviamente que o processo de disputa da liderança fica automaticamente aberto e todos os militantes ficam livres de se candidatar. Não podemos por exemplo sacrificar as eleições europeias, cuja campanha eleitoral está à porta, por causa da disputa interna, desviando a atenção das pessoas daquilo que é o essencial neste momento. Seria hipocrisia se assim fosse e demasiado grave. Mas depois deste ato eleitoral, usem os argumentos que quiserem, terei sempre alguma dificuldade em perceber que se pretenda impor regras num processo que tem que se desenvolver de forma livre e democrática, num quadro de total isenção e de respeito pelas pessoas, de respeito pelo PSD regional, cujo futuro tem que ser preservado, custe o que custar e doa a quem doer.

Porque há outra questão que se coloca com pertinência e acrescida acuidade, a de sabermos se, no atual contexto, a antecipação de eleições como alguns candidatos à liderança do PSD defendem, resolve ou não os nossos problemas e abre caminho a  soluções, quando é sabido que o país no final deste ano entra numa complexa e agressiva campanha eleitoral, a pensar mais nas legislativas de 2015 do que em qualquer outra porcaria.

Na política, repito, não há vedetas. Uma coisa é ganhar autárquicas, ou não ganhar coisa nenhuma porque na realidade nunca personificaram qualquer candidatura própria, outra coisa é ganhar eleições regionais, onde está em jogo muito mais do que aquilo que está em cima da mesa num ato eleitoral de dimensão concelhia ou de freguesia.

Repito e insisto, o que antes eram questões menores e sem significado, hoje, devido à crise e à austeridade, assumem uma outra dimensão e polémica, transformando-se facilmente em notícias passíveis inclusivamente de se transformarem em matéria suscetível de destruir carreiras e políticos. Tudo é valorizado, numa outra perspectiva e numa outra escala que não existia no passado. As pessoas, por causa disso, passam a ter que cumprir determinados requisitos e garantir exigências que obviamente não serão os próprios a decidir sobre isso mas sim os cidadãos e os eleitores. Um deles é exatamente a questão da popularidade.

Parece-me incontestável que, subjacente a este reclamar de eleições existe a ideia de que tudo passará, no futuro, por um entendimento com outro partido, no pressuposto que o PSD será o mais votado das regionais, ganhando-as. Porque se isso não acontecer o PSD da Madeira deixa de ter peso e deixa inclusivamente de encabeçar o complexo processo de decisão política regional. O PSD, as suas bases, os militantes e simpatizantes, precisam definir neste momento - e falo deste momento e neste momento em concreto - se o recurso a eleições antecipadas é ou não um sinal de aventureirismo que fará com que o PSD corra o risco de pagar um elevado preço, caso acredite em "salvadores" ou "milagreiros".

Temo que as pessoas que eventualmente possam conduzir o PSD para uma situação dessas - caso o desfecho seja mais grave do que aquele que perspectivamos - sejam os primeiros a abandonar o barco deixando para traz toda a porcaria que eles próprios gerariam. Acho estranho que alguns dos candidatos à liderança do PSD achem no seu íntimo que isto até é positivo para eles quando não o será. O que está em causa é o futuro do PSD da Madeira algo que nunca poderemos discutir ou atender se nos confrontarmos com um partido esfrangalhado e dividido, nesse caso um partido que não inspirará confiança a ninguém, incapaz de ser levado a sério e de se apresentar aos eleitores com uma mensagem de confiança e esperança suscetível de cativar os votos. As pessoas têm que perceber isso.

Os militantes social-democratas, nesta fase complicada, não podem ceder a pressões ou a insinuações. Não podem querer fazer a vontade a pessoas, interesses ou grupos, que não têm rigorosamente nada a ver com o PSD da Madeira, nunca tiveram e nunca alguma vez terão, simplesmente porque nunca se identificaram, e estão no seu direito, com o PSD, nunca votaram no PSD, nunca tiveram qualquer simpatia ou militância com o PSD. Julgo que tudo aquilo que esses setores colocam cá fora, sobretudo nos últimos dois a três meses, acompanhados de críticas e do lamentável enxovalho público e da inaceitável ridicularização dos conselheiros regionais do PSD, é sintomático quanto ao que eles pretendem. Tudo isso têm a ver com os interesses, incluindo os políticos e partidários, que eles defendem.

O que vai estar em causa no CR é apenas isto. E não vale a pena complicar aquilo que é simples e demasiado fácil para se entendido, em toda a sua extensão. Quando entram por justificações estapafúrdias, o que fazemos é complicar aos olhos dos militantes, simpatizantes e dirigentes uma realidade que é fácil de ser encara e percebida. Repito, o que estará sábado em causa no CR é apenas isto e só isto. Mais nada. Há fatos trazidos a debate que não interessam rigorosamente nada neste momento, ao PSD da Madeira e aos seus militantes. Podem até meter Nosso Senhor Jesus Cristo ou o Papa na "guerra" das "diretas" que nada muda, porque tudo o que aqui disse se aplica na mesma. Isto não tem nada a ver com "diretas" nem com quem ambiciona ser líder do PSD regional. Temos que respeitar essas pessoas, de ouvi-las, de conhecer as suas ideias, de perceber as suas propostas, etc.

Não vale a pena andarmos a esconder o sol com a peneira. Insisto: por muito que queiram menosprezar e ridicularizar os membros do Conselho Regional são eles que decidirão e não são certamente um grupo de mentecaptos. É este apelo à responsabilização coletiva do partido no seu todo, que neste momento se coloca. Tanto mais quando estamos reconhecidamente a atravessar uma das épocas mais difíceis da história do PSD da Madeira. 
O que se espera é que o Conselho Regional delibere imune ao que se passa "lá fora", num quadro interno de respeito, de tolerância e não de animosidade ou conflitualidades que nada resolvem, apenas degradam e complicam.