segunda-feira, março 24, 2014

Entendam-se, façam um pacto e concentrem-se nas europeias de 25 de Maio. Depois façam o que entenderem

É muito importante que o PSD-Madeira a dois meses, menos até, das europeias, estabilize internamente e que os candidatos à liderança do partido - com toda a legitimidade para o serem, entenda-se - estabeleçam entre si um compromisso, se quiserem um pacto de silêncio estratégico até 25 de Maio, privilegiando assim o desafio eleitoral que se aproxima.
Não podemos, sobretudo depois das autárquicas de setembro do ano passado, andar a dar tiros-nos-pés ou a desviar a atenção das pessoas daquilo que é neste momento o essencial.
E neste momento a prioridade para o PSD da Madeira e para os seus militantes e simpatizantes são as europeias de 25 de Maio, que se realizam numa conjuntura adversa mas que não podem constituir, apesar da coligação com o CDS (que já anunciou que não fará campanha eleitoral na Madeira), mais um pesadelo que retire legitimidade ao PSD da Madeira para voltar a reivindicar em futuras eleições europeias, já com um novo líder, a inclusão de um candidato seu em posição elegível na lista nacional.
Depois do Conselho Regional de Março, outro apenas terá lugar em Junho, já agendado em devido tempo, depois das europeias. Nessa altura serão definidas, tal como foi consensualizado, as regras do jogo, leia-se o regulamento da disputa eleitoral pela liderança do PSD-Madeira.
Sou daqueles que respeito os candidatos já conhecidos e todos os que possam vir a juntar-se à corrida. Cada qual é livre de tomar as decisões e de se envolver nos desafios políticos que quiser e entender. A política é isso mesmo, uma expressão de opiniões livres e de liberdade.
O PSD da Madeira vai entrar irreversivelmente num novo ciclo. Não vale a pena pensarem o contrário. E quando isso acontece, seja em que partido for, tudo se deve processar num quadro de respeito, de equidade e de democraticidade e liberdade, sem manipulação ou condicionamento. E estou certo que assim será. Os militantes, porque são eles que vão escolher e decidir, exigirão que assim seja.
Tal como referi, dias antes do Conselho Regional - que os membros deste órgão partidário estavam imunes a pressões, insinuações ou manipulações externas, e que são tão respeitáveis como qualquer outro militante do PSD-Madeira - direi rigorosamente a mesma coisa no caso das "diretas". Os militantes terão sempre a última palavra, expressando-se pelo voto sem manipulações, condicionalismos ou pressões seja de quem for. Ninguém é dono da consciência e da liberdade de ninguém. O problema é que alguns erradamente pensam o contrário e depois são surpreendidos.
Sobre a disputa pela liderança do PSD-Madeira, a ter lugar em Dezembro deste ano, muita água vai correr debaixo das pontes, porque as pessoas precisam de saber o que vai estar em jogo, que propostas, projetos e diferenças estão em disputa. Os militantes precisam de refletir e de escolher com liberdade, sem condicionalismos ou paternalismos. Mas fá-lo-ão no momento próprio, não agora quando estamos a dois meses das eleições europeias. Precisamos na política de novos ciclos que tragam mais-valias, novas ideias, novas disponibilidades, novos protagonistas, mais juventude, novas conceções da própria política. Não há mal nenhum nisso. Não existem novos ciclos para que tudo continue na mesma, paralisado, acomodado.
É certo que os partidos são realidades complexas nas suas regras mais essenciais. Podem existir opiniões divergentes sobre os modelos de funcionamento, mas os partidos não são propriamente um supermercado onde todos entram e todos compram o que lhes apetece. Os partidos são instituições de interesse público, mas instituições com regras próprias. Quando um partido se abandalha, quando um partido prescinde ou recusa uma ideologia e valores próprios, quando um partido acha que quanto mais "salada russa" melhor, está a caminhar para o abismo. Lembram-se do PRD? Era uma espécie de frentismo teórico assente num alargado centro-esquerda demasiado ingénuo, ideologicamente uma nulidade absoluta, que por isso mesmo, e outra coisa não seria de esperar, durou enquanto durou e teve que durar. Hoje despareceu do mapa eleitoral nacional.
Há valores, regras, princípios e uma referência ideológica mínima que marca a diferença. O PSD não é comparável ao PS, tal como o PCP nada tem a ver com o CDS. São todos partidos, é certo, mas com espaço de afirmação próprio e áreas de militância definidas e opostas. Os partidos não podem assumir um carácter frentista, querendo que neles todos caibam, só porque convém vender à sociedade e aos eleitores a ideia demagógica e absurda de que o partido é uma espécie de "make love not war" do século XXI. Nada disso. Um partido não pode estar aberto a quem hoje vota nele mas amanhã muda de opinião e de opção eleitoral, exatamente porque se recusa envolver com partidos e ter qualquer vínculo militante efetivo. A demagogia tem que ter limites.
Afinal, e considerando a mesma área ideológica, qual é a diferença entre o militante, que se filia e paga quotas num partido e que por isso pode votar e ser eleito para os órgãos partidários, e o simpatizante, que alegadamente vota nesse partido mas que não se sente vinculado, um milímetro que seja, a regras partidárias mais ou menos rígidas, que não paga quotas, que não participa em reuniões ou outros processos de decisão e/ou escolha interna nos partidos com os quais supostamente se diz identificar?
Se um cidadão toma essa decisão e faz essa opção de distanciamento factual, fá-lo porque quer ser livre de escolher e de votar. Por outro lado, ninguém controla as opções livres dos cidadãos. Um partido, qualquer partido, pode promover debates abertos à sociedade. Não precisa é de recorrer à hipocrisia de o querer fazer nas sedes partidárias para dar uma ideia de "abertura" que não tem, nem deve ter. Confunde-se a militância e as regras plasmadas em todos os estatutos partidários, sem exceção, com a ligação do partido à sociedade civil, com a necessidade de ouvir as pessoas, trazendo-as a debate e à política. Mas não é isso que tenho ouvido falar, aliás, nem isso sequer constitui novidade, também no PSD-Madeira (os debates e/ou conferências abertas à sociedade civil). Estamos perante duas coisas diferentes.
Acredito, de resto, que um cidadão verdadeiramente independente, mesmo que se apresente como simpatizante partidário - porque, repito, recusa qualquer forma de militância partidária - nunca poderá refugiar-se sob a opa de um absurdo estatuto de "simpatizante" que dá para tudo e que ninguém sabe realmente definir. Seria uma hipocrisia levada o extremo.
Porventura um cidadão que se diz apenas simpatizante, apenas isso, alguma vez entrará numa sede partidária, sob pena dos próprios valores em que acredita serem postos em causa, quando confrontados com esta contradição e incoerência? Se um cidadão não se filia num partido, tem toda a liberdade para o fazer. Presumo que o faça por opção livre. Tão livre como a opção tomada pelos que se filiam nos partidos. Nada a dizer.
O que me parece absolutamente intolerável é que se pretenda plantar a ideia de que um partido pode ser uma manta de retalhos ou que nele cabem todos, só porque se trata de um "cliché" em moda ou porque é "chique" defender essa ideia. O simpatizante é um simpatizante, tão respeitável como um militante. Mas os dois são diferentes no vínculo que escolheram ter com o partido, diferentes nos deveres e nos direitos. Iguais quando comparecem numa secção eleitoral e fazem escolhas com um boletim de voto na mão. Que até podem ser escolhas comuns, apesar da diferença de estatuto ante o partido de que fazem parte ou do qual dizem simpatizar. O simpatizante é uma figura juridicamente dúbia, diria indefinida e inexistente, porque como não vinculado, vota em função de momentos, de circunstâncias, de fatores exógenos, que influenciam a sua escolha sem que lhes pese nada na consciência caso votem de forma desalinhada. Não vamos fragilizar e confundir mais o que me parece estar excessivamente confundido. O PSD da Madeira vai entrar num novo ciclo da sua longa vida, quase 40 anos, construída quase sempre com vitórias eleitorais, mas percorrendo um percurso alicerçado em decisões nem sempre obrigatoriamente as melhores ou as mais acertadas. Um partido é uma estrutura constituída por humanos, tendo por isso os defeitos e as virtudes inerentes. Todos cometemos erros. Não há perfecionismos idiotas na política. Todos cometemos excessos e caímos em contradição com frequência. Temos é que ter a inteligência e o engenho e a arte de reconhecer que erramos e dispor de tempo e capacidade para retificarmos e nos recolocarmos nos carris corretos e mais acertados à nossa caminhada.
A política portuguesa, provavelmente desde a crise política e orçamental, social e económica de 2011, está a viver uma espécie de lenta mudança geracional nos partidos, porventura não tão ampla quanto seria de esperar e desejável, mas uma mudança que vai certamente gerar transformações internas a prazo.
A sociedade portuguesa, os portugueses em geral, estão desiludidos com a política, responsabilizam partidos e políticos pela crise, pela austeridade, pelo programa de ajustamento negociado com a troika, pelos cortes salariais, pelo roubo das pensões e reformas, pelo desemprego vergonhoso que temos, pelos flagelos sociais, pelo empobrecimento, pela crise do chamado estado social, pelas ameaças constantes que pairam sobre todos nós. E quando as pessoas não sabem como será o dia seguinte, obviamente que não há exceções neste clima de hostilidade radicalizada, mesmo considerando aqueles que estiveram sempre na oposição. Ninguém escapa ao veredicto popular, embora uns sejam mais penalizados e rejeitados que outros.
É por isso que recomendo - não propondo porque não me acho autorizado para o fazer, nem tenho nada que o fazer - um pacto entre todos os candidatos à liderança do PSD-Madeira, para que a questão dessa disputa seja objeto de um intervalo até às europeias. Todos estariam a contribuir para que o tema mais importante seja colocado na agenda política e nas prioridades do PSD-M, ganhando-se também tempo para uma estabilização emocional e política interna, suscetível de acalmar tensões e viabilizar uma postura menos agressiva, com erros de todos os lados. Há coisas que pessoalmente acho que não deviam acontecer, não podiam acontecer, porque uma disputa pela liderança de um partido não tem que ser agreste nem se transformar um conflito pessoal ou num confronto entre pessoas livres onde vale tudo. As divergências existem em qualquer democracia, mas não podem alimentar conflitualidades que, de uma maneira geral, quando se radicalizam e roçam o irracional, desagradam os militantes e causam irritação generalizada nas pessoas. Ponderação, tranquilidade, pragmatismo e a necessidade de evitar que todos vão a reboque de acontecimentos geradores de descontrolo - acabando todos por ter culpas no cartório, quando se trata de perceber o que falhou e por que razão a tranquilidade interna, sobretudo em momentos eleitorais decisivos como este, não passa de uma triste miragem – é o que se reclama, por ser a prioridade mais urgente neste momento e neste contexto. Persistir numa subversão destas prioridades, relegar para um plano secundário as eleições europeias em detrimento de outras prioridades, será no mínimo estranho e passível de gerar mais controvérsia e legitimar alguma especulação, incómoda e polémica. (LFM)