É muito importante que o PSD-Madeira a dois
meses, menos até, das europeias, estabilize internamente e que os candidatos à
liderança do partido - com toda a legitimidade para o serem, entenda-se -
estabeleçam entre si um compromisso, se quiserem um pacto de silêncio
estratégico até 25 de Maio, privilegiando assim o desafio eleitoral que se
aproxima.
Não podemos, sobretudo depois das
autárquicas de setembro do ano passado, andar a dar tiros-nos-pés ou a desviar
a atenção das pessoas daquilo que é neste momento o essencial.
E neste momento a prioridade para o PSD da
Madeira e para os seus militantes e simpatizantes são as europeias de 25 de
Maio, que se realizam numa conjuntura adversa mas que não podem constituir,
apesar da coligação com o CDS (que já anunciou que não fará campanha eleitoral
na Madeira), mais um pesadelo que retire legitimidade ao PSD da Madeira para
voltar a reivindicar em futuras eleições europeias, já com um novo líder, a
inclusão de um candidato seu em posição elegível na lista nacional.
Depois do Conselho Regional de Março, outro
apenas terá lugar em Junho, já agendado em devido tempo, depois das europeias.
Nessa altura serão definidas, tal como foi consensualizado, as regras do jogo,
leia-se o regulamento da disputa eleitoral pela liderança do PSD-Madeira.
Sou daqueles que respeito os candidatos já
conhecidos e todos os que possam vir a juntar-se à corrida. Cada qual é livre
de tomar as decisões e de se envolver nos desafios políticos que quiser e
entender. A política é isso mesmo, uma expressão de opiniões livres e de
liberdade.
O PSD da Madeira vai entrar
irreversivelmente num novo ciclo. Não vale a pena pensarem o contrário. E
quando isso acontece, seja em que partido for, tudo se deve processar num
quadro de respeito, de equidade e de democraticidade e liberdade, sem
manipulação ou condicionamento. E estou certo que assim será. Os militantes,
porque são eles que vão escolher e decidir, exigirão que assim seja.
Tal como referi, dias antes do Conselho
Regional - que os membros deste órgão partidário estavam imunes a pressões,
insinuações ou manipulações externas, e que são tão respeitáveis como qualquer
outro militante do PSD-Madeira - direi rigorosamente a mesma coisa no caso das
"diretas". Os militantes terão sempre a última palavra,
expressando-se pelo voto sem manipulações, condicionalismos ou pressões seja de
quem for. Ninguém é dono da consciência e da liberdade de ninguém. O problema é
que alguns erradamente pensam o contrário e depois são surpreendidos.
Sobre a disputa pela liderança do
PSD-Madeira, a ter lugar em Dezembro deste ano, muita água vai correr debaixo
das pontes, porque as pessoas precisam de saber o que vai estar em jogo, que
propostas, projetos e diferenças estão em disputa. Os militantes precisam de refletir
e de escolher com liberdade, sem condicionalismos ou paternalismos. Mas
fá-lo-ão no momento próprio, não agora quando estamos a dois meses das eleições
europeias. Precisamos na política de novos ciclos que tragam mais-valias, novas
ideias, novas disponibilidades, novos protagonistas, mais juventude, novas conceções
da própria política. Não há mal nenhum nisso. Não existem novos ciclos para que
tudo continue na mesma, paralisado, acomodado.
É certo que os partidos são realidades
complexas nas suas regras mais essenciais. Podem existir opiniões divergentes
sobre os modelos de funcionamento, mas os partidos não são propriamente um supermercado
onde todos entram e todos compram o que lhes apetece. Os partidos são
instituições de interesse público, mas instituições com regras próprias. Quando
um partido se abandalha, quando um partido prescinde ou recusa uma ideologia e
valores próprios, quando um partido acha que quanto mais "salada
russa" melhor, está a caminhar para o abismo. Lembram-se do PRD? Era uma
espécie de frentismo teórico assente num alargado centro-esquerda demasiado
ingénuo, ideologicamente uma nulidade absoluta, que por isso mesmo, e outra
coisa não seria de esperar, durou enquanto durou e teve que durar. Hoje
despareceu do mapa eleitoral nacional.
Há valores, regras, princípios e uma
referência ideológica mínima que marca a diferença. O PSD não é comparável ao
PS, tal como o PCP nada tem a ver com o CDS. São todos partidos, é certo, mas
com espaço de afirmação próprio e áreas de militância definidas e opostas. Os
partidos não podem assumir um carácter frentista, querendo que neles todos
caibam, só porque convém vender à sociedade e aos eleitores a ideia demagógica
e absurda de que o partido é uma espécie de "make love not war" do
século XXI. Nada disso. Um partido não pode estar aberto a quem hoje vota nele
mas amanhã muda de opinião e de opção eleitoral, exatamente porque se recusa
envolver com partidos e ter qualquer vínculo militante efetivo. A demagogia tem
que ter limites.
Afinal, e considerando a mesma área
ideológica, qual é a diferença entre o militante, que se filia e paga quotas
num partido e que por isso pode votar e ser eleito para os órgãos partidários,
e o simpatizante, que alegadamente vota nesse partido mas que não se sente
vinculado, um milímetro que seja, a regras partidárias mais ou menos rígidas,
que não paga quotas, que não participa em reuniões ou outros processos de
decisão e/ou escolha interna nos partidos com os quais supostamente se diz
identificar?
Se um cidadão toma essa decisão e faz essa
opção de distanciamento factual, fá-lo porque quer ser livre de escolher e de
votar. Por outro lado, ninguém controla as opções livres dos cidadãos. Um
partido, qualquer partido, pode promover debates abertos à sociedade. Não
precisa é de recorrer à hipocrisia de o querer fazer nas sedes partidárias para
dar uma ideia de "abertura" que não tem, nem deve ter. Confunde-se a
militância e as regras plasmadas em todos os estatutos partidários, sem exceção,
com a ligação do partido à sociedade civil, com a necessidade de ouvir as
pessoas, trazendo-as a debate e à política. Mas não é isso que tenho ouvido
falar, aliás, nem isso sequer constitui novidade, também no PSD-Madeira (os
debates e/ou conferências abertas à sociedade civil). Estamos perante duas
coisas diferentes.
Acredito, de resto, que um cidadão
verdadeiramente independente, mesmo que se apresente como simpatizante
partidário - porque, repito, recusa qualquer forma de militância partidária -
nunca poderá refugiar-se sob a opa de um absurdo estatuto de
"simpatizante" que dá para tudo e que ninguém sabe realmente definir.
Seria uma hipocrisia levada o extremo.
Porventura um cidadão que se diz apenas
simpatizante, apenas isso, alguma vez entrará numa sede partidária, sob pena
dos próprios valores em que acredita serem postos em causa, quando confrontados
com esta contradição e incoerência? Se um cidadão não se filia num partido, tem
toda a liberdade para o fazer. Presumo que o faça por opção livre. Tão livre
como a opção tomada pelos que se filiam nos partidos. Nada a dizer.
O que me parece absolutamente intolerável é
que se pretenda plantar a ideia de que um partido pode ser uma manta de
retalhos ou que nele cabem todos, só porque se trata de um "cliché"
em moda ou porque é "chique" defender essa ideia. O simpatizante é um
simpatizante, tão respeitável como um militante. Mas os dois são diferentes no
vínculo que escolheram ter com o partido, diferentes nos deveres e nos direitos.
Iguais quando comparecem numa secção eleitoral e fazem escolhas com um boletim
de voto na mão. Que até podem ser escolhas comuns, apesar da diferença de
estatuto ante o partido de que fazem parte ou do qual dizem simpatizar. O
simpatizante é uma figura juridicamente dúbia, diria indefinida e inexistente,
porque como não vinculado, vota em função de momentos, de circunstâncias, de fatores
exógenos, que influenciam a sua escolha sem que lhes pese nada na consciência
caso votem de forma desalinhada. Não vamos fragilizar e confundir mais o que me
parece estar excessivamente confundido. O PSD da Madeira vai entrar num novo
ciclo da sua longa vida, quase 40 anos, construída quase sempre com vitórias
eleitorais, mas percorrendo um percurso alicerçado em decisões nem sempre
obrigatoriamente as melhores ou as mais acertadas. Um partido é uma estrutura
constituída por humanos, tendo por isso os defeitos e as virtudes inerentes.
Todos cometemos erros. Não há perfecionismos idiotas na política. Todos
cometemos excessos e caímos em contradição com frequência. Temos é que ter a
inteligência e o engenho e a arte de reconhecer que erramos e dispor de tempo e
capacidade para retificarmos e nos recolocarmos nos carris corretos e mais
acertados à nossa caminhada.
A política portuguesa, provavelmente desde
a crise política e orçamental, social e económica de 2011, está a viver uma
espécie de lenta mudança geracional nos partidos, porventura não tão ampla
quanto seria de esperar e desejável, mas uma mudança que vai certamente gerar
transformações internas a prazo.
A sociedade portuguesa, os portugueses em
geral, estão desiludidos com a política, responsabilizam partidos e políticos
pela crise, pela austeridade, pelo programa de ajustamento negociado com a
troika, pelos cortes salariais, pelo roubo das pensões e reformas, pelo desemprego
vergonhoso que temos, pelos flagelos sociais, pelo empobrecimento, pela crise
do chamado estado social, pelas ameaças constantes que pairam sobre todos nós.
E quando as pessoas não sabem como será o dia seguinte, obviamente que não há exceções
neste clima de hostilidade radicalizada, mesmo considerando aqueles que
estiveram sempre na oposição. Ninguém escapa ao veredicto popular, embora uns
sejam mais penalizados e rejeitados que outros.
É por isso que recomendo - não propondo
porque não me acho autorizado para o fazer, nem tenho nada que o fazer - um
pacto entre todos os candidatos à liderança do PSD-Madeira, para que a questão
dessa disputa seja objeto de um intervalo até às europeias. Todos estariam a
contribuir para que o tema mais importante seja colocado na agenda política e
nas prioridades do PSD-M, ganhando-se também tempo para uma estabilização
emocional e política interna, suscetível de acalmar tensões e viabilizar uma
postura menos agressiva, com erros de todos os lados. Há coisas que pessoalmente
acho que não deviam acontecer, não podiam acontecer, porque uma disputa pela
liderança de um partido não tem que ser agreste nem se transformar um conflito
pessoal ou num confronto entre pessoas livres onde vale tudo. As divergências
existem em qualquer democracia, mas não podem alimentar conflitualidades que,
de uma maneira geral, quando se radicalizam e roçam o irracional, desagradam os
militantes e causam irritação generalizada nas pessoas. Ponderação,
tranquilidade, pragmatismo e a necessidade de evitar que todos vão a reboque de
acontecimentos geradores de descontrolo - acabando todos por ter culpas no
cartório, quando se trata de perceber o que falhou e por que razão a
tranquilidade interna, sobretudo em momentos eleitorais decisivos como este, não
passa de uma triste miragem – é o
que se reclama, por ser a prioridade mais urgente neste momento e neste contexto.
Persistir numa subversão destas prioridades, relegar para um plano secundário
as eleições europeias em detrimento de outras prioridades, será no mínimo
estranho e passível de gerar mais controvérsia e legitimar alguma especulação, incómoda
e polémica. (LFM)