quinta-feira, março 06, 2014

Eleições: Coligação vai dar cabo de si mesma em Abril e conformar derrota copiosa? Ou vai adiar anúncio incómodo com cumplicidade de parceiros europeus?



Passos Coelho anunciou para Abril - quase um mês antes das eleições europeias de 25 de Maio, a divulgação das linhas essenciais do orçamento de estado para 2015 que como sabemos voltará a incluir medidas de mais austeridade e mais cortes na despesa pública. Funcionários públicos, pensionistas e reformados, famílias de uma maneira geral, voltam a ser as vitimas do costume, porque os que andam a mamar e a encher a pança, esses vão continuar a mamar e a encher a pança com a cumplicidade deste governo que se situa entre um liberalismo radical envergonhado mas convicto e um protofascismo de direitas do mais asqueroso que existe.
Penso muito sinceramente, conhecendo a "praxis" deste governo de coligação, que provavelmente a coligação poderá consolidar, com esse anúncio por parte do governo, uma previsível derrota nas europeias, que não sendo tão convictamente assumida por todos - pelo menos em termos da dimensão da derrota e consequência no apuramento dos mandatos - tenho para mim como adquirida.
Quer isto dizer que, caso a coligação queira correr o risco de acelerar uma previsível derrota eleitoral, ampliando a sua dimensão, fragilizando ainda mais a coligação PSD/CDS aos olhos da opinião pública e do Presidente Cavaco - caso este um dia resolver "acordar" do marasmo e do "quentinho" que tem sido este seu último mandato - poderão ser criadas condições políticas para a antecipação de eleições.
Cavaco teria argumentos mais do que consistentes para desafiar os portugueses em Setembro deste ano:
a) fim do programa de ajustamento, seja qual for a solução encontrada para o pós-troika;
b) fragilidade da coligação derrotada copiosamente nas autárquicas de Setembro de 2013 e derrotada, caso se confirme um desaire copioso também, nas europeias, o que questionaria, sem qualquer dúvida,  a legitimidade política de PSD e CDS para continuarem no poder;
c) recusar do PS, que desconfio seja irredutível, de qualquer entendimento político alargado, como é reclamado externamente, sem a realização de eleições que clarifiquem o país político e eleitoral real.
Penso por isso que PSD e CDS já terão mostrado que não querem correr riscos demasiado grandes nestas europeias, pelo que Coelho e Portas serão travados nas suas deambulações tontas. Ou seja, acredito que discretamente PSD e CDS possam negociar com parceiros europeus (PPE por exemplo) o adiantamento estratégico e oportunista do anúncio das orientações essenciais para a política orçamental em 2015, alertando a Europa, os mercados e os credores para os riscos de mais uma copiosa derrota eleitoral da coligação e para a possibilidade de, numa Europa que provavelmente virará mais à esquerda a 25 de Maio, Portugal ser confrontado com a inevitabilidade de convicção antecipada de eleições que propiciem ao PS uma posição política e eleitoral que hoje não tem e que possa não ir ao encontro das instituições europeias e internacionais e dos credores.
Por outro lado a Europa não está interessada na radicalização do discurso político contra a austeridade, não quer que por causa da crise social e económica se ponha em causa acordos em matéria de défices orçamentais na UE, adiando-os por mais alguns anos, nem quer sequer pensar numa situação de crise orçamental nos países do sul devido aos caos que isso traria à União Europeia. Aliás só isso explica a forma como a Grécia tem sido protegida ao longo destes anos e as facilidades que estão dispostos a conceder ao Portugal pós-troika, tal como já foi feito com a Irlanda. Até porque novos problemas, casos da Itália e da França (como foi esta semana referido pela Comissão Europeia) parecem despontar no horizonte europeu...
Recomendo que se aguarde a evolução deste tema, sem que altere um milímetro que seja os meus argumentos que aqui acabo de expor.