Passos Coelho anunciou para Abril - quase um mês
antes das eleições europeias de 25 de Maio, a divulgação das linhas essenciais
do orçamento de estado para 2015 que como sabemos voltará a incluir medidas de
mais austeridade e mais cortes na despesa pública. Funcionários públicos,
pensionistas e reformados, famílias de uma maneira geral, voltam a ser as vitimas
do costume, porque os que andam a mamar e a encher a pança, esses vão continuar
a mamar e a encher a pança com a cumplicidade deste governo que se situa entre
um liberalismo radical envergonhado mas convicto e um protofascismo de direitas
do mais asqueroso que existe.
Penso muito sinceramente, conhecendo a
"praxis" deste governo de coligação, que provavelmente a coligação
poderá consolidar, com esse anúncio por parte do governo, uma previsível
derrota nas europeias, que não sendo tão convictamente assumida por todos -
pelo menos em termos da dimensão da derrota e consequência no apuramento dos
mandatos - tenho para mim como adquirida.
Quer isto dizer que, caso a coligação queira correr
o risco de acelerar uma previsível derrota eleitoral, ampliando a sua dimensão,
fragilizando ainda mais a coligação PSD/CDS aos olhos da opinião pública e do
Presidente Cavaco - caso este um dia resolver "acordar" do marasmo e
do "quentinho" que tem sido este seu último mandato - poderão ser
criadas condições políticas para a antecipação de eleições.
Cavaco teria argumentos mais do que consistentes
para desafiar os portugueses em Setembro deste ano:
a) fim do programa de ajustamento, seja qual for a
solução encontrada para o pós-troika;
b) fragilidade da coligação derrotada copiosamente
nas autárquicas de Setembro de 2013 e derrotada, caso se confirme um desaire
copioso também, nas europeias, o que questionaria, sem qualquer dúvida, a legitimidade política de PSD e CDS para
continuarem no poder;
c) recusar do PS, que desconfio seja irredutível, de
qualquer entendimento político alargado, como é reclamado externamente, sem a
realização de eleições que clarifiquem o país político e eleitoral real.
Penso por isso que PSD e CDS já terão mostrado que
não querem correr riscos demasiado grandes nestas europeias, pelo que Coelho e
Portas serão travados nas suas deambulações tontas. Ou seja, acredito que
discretamente PSD e CDS possam negociar com parceiros europeus (PPE por
exemplo) o adiantamento estratégico e oportunista do anúncio das orientações
essenciais para a política orçamental em 2015, alertando a Europa, os mercados
e os credores para os riscos de mais uma copiosa derrota eleitoral da coligação
e para a possibilidade de, numa Europa que provavelmente virará mais à esquerda
a 25 de Maio, Portugal ser confrontado com a inevitabilidade de convicção
antecipada de eleições que propiciem ao PS uma posição política e eleitoral que
hoje não tem e que possa não ir ao encontro das instituições europeias e
internacionais e dos credores.
Por outro lado a Europa não está interessada na
radicalização do discurso político contra a austeridade, não quer que por causa
da crise social e económica se ponha em causa acordos em matéria de défices
orçamentais na UE, adiando-os por mais alguns anos, nem quer sequer pensar numa
situação de crise orçamental nos países do sul devido aos caos que isso traria
à União Europeia. Aliás só isso explica a forma como a Grécia tem sido
protegida ao longo destes anos e as facilidades que estão dispostos a conceder
ao Portugal pós-troika, tal como já foi feito com a Irlanda. Até porque novos
problemas, casos da Itália e da França (como foi esta semana referido pela
Comissão Europeia) parecem despontar no horizonte europeu...
Recomendo que se aguarde a evolução deste tema, sem
que altere um milímetro que seja os meus argumentos que aqui acabo de expor.