sexta-feira, outubro 15, 2021

Nota: A ilusão manipuladora das coligações...



Nunca deixei de pensar que,  para além das matemáticas eleitorais que frequentemente não batem certo e de me limitar a pensar apenas em ganhos eleitorais ou mandatos, as coligações servem para conquistar o poder, manter-se no poder ou esconder fragilidades nomeadamente dos partidos mais pequenos e insignificantes que não querem, perder espaço e tudo fazem para fugir a humilhações eleitorais que os tornem dispensáveis. As coligações também servem aos grandes porque acabam por arranjar umas bengalas - e quanto a isso o PCP é mestre, porque há anos que se refugia numa coligação que todos sabemos ser uma ficção (os Verdes) - que lhes permitem sucessos eleitorais, "porque muitas vezes, "por um voto se ganha e por um voto se perde". Os mais pequenos, temendo serem "engolidos" pelos partidos maiores nas respectivas áreas políticas, ganham espaço, visibilidade e alguma capacidade de pressão e de manipulação que nunca teriam caso concorressem sozinhos e obtivessem a sua real dimensão eleitoral. Ou seja as coligações eleitorais (pré ou pós) serão sempre uma negociata quando em causa está apenas e só o poder.

Acresce que neste pequeno mundo das negociatas coligacionistas – que nem sempre correm bem por que uma coisa é o que as lideranças partidárias decidem outra coisa é o que o pensam e decidem os eleitores dos protagonistas dessas coligações, o que faz muitas vezes que o 2 + 2 inicialmente perspectivado nem sempre seja igual a 4… - um propósito não menos importante é o de esconder fragilidades eleitorais e impedir leituras mais agrestes dos resultados (há sempre espaço para evitar especificidades que ajudam a esconder uma fragilidade eleitoral óbvia).

Dúvidas?

Em 2011 nas legislativas, PSD e CDS, concorrendo separados, totalizaram 50,4%, cerca de 2,750 milhões de votos e 132 mandatos eleitos. Em 2015, coligados (uma opção patética e derrotada porque insuficiente) PSD e CDS totalizaram cerca de 2,1 milhões de votos, 38,4% e 107 eleitos, o que originou a geringonça conforme promessa da esquerda ainda na campanha eleitoral. Finalmente em 2019, PSD e CDS separados não foram alem dos cerca de 1,7 milhões de votos, 32% e 84 deputados eleitos.

O que se passa com a pretensa crise política - ou ameaça de crise - em torno do OE-2022, é que tanto PCP como o Bloco, apesar de não serem parceiros de uma coligação formal com o PS mas antes protagonistas e parceiros de um entendimento parlamentar à esquerda, nunca permitirão aventureirismos que os prejudiquem, até porque os últimos resultados eleitorais foram derrotas e deixaram avisos, se dúvidas existissem, de que ambos estão em certa medida reféns do PS. Neste caso a coligação existe, de forma envergonhada, porque na realidade a geringonça, apesar ao "descaramento" da sua primeira versão em 2015, pomposamente assumida a três,  foi perdendo gás  com os anos, nomeadamente quando PCP e Bloco perceberam, quer nas autárquicas de 2017 e de 2021 (que foram desastrosas para eles) quer nas legislativas de 2019, que elas beneficiaram sobretudo o PS e penalizaram uma colagem excessiva, Quanto às coligações acho que PSD e o CDS têm motivos para perceber que já não enganam as pessoas com "matemáticas" tendenciosas e manipuladas (olhem o quadro anexo que mostra que entre 2011 e 2019 o somatório do PSD e do CDS, para as legislativas nacionais, é sempre a descer, em votos, percentagem e mandatos.) (LFM)

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