quarta-feira, julho 08, 2020

OCDE: Algarve tem mais de 40% dos empregos em risco

Principais destinos turísticos na Europa, onde se inclui o Algarve, têm mais de 40% dos seus postos de trabalho sob ameaça por causa da crise económica associada à Covid-19, calcula a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico no Employment Outlook 2020 publicado esta terça-feira. Os efeitos da crise económica associada a pandemia de Covid-19 vão sentir-se de forma diferente de região para região. E o Algarve poderá ser uma das mais penalizadas na Europa ao nível do emprego. O alerta é dado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), no Employment Outlook 2020, publicado esta terça-feira. Estão em causa mais de 40% dos postos de trabalho na região. A organização aponta dois tipos de regiões onde o impacto será maior na economia e no emprego: as regiões onde o surto se fez sentir de forma mais violenta (de que a Lombardia, em Italia, é o exemplo paradigmático) e as regiões com uma especialização sectorial marcada por atividades mais afetadas pelas medidas de confinamento ou por disrupções na cadeia de fornecimento, ou que são estruturalmente mais voláteis, já que dependem mais de trabalho temporário ou sazonal.

A OCDE constata que "estimativas oficiais de perda de emprego por sectores, regiões e grupos de trabalhadores ainda não estão disponíveis de forma consistente". Contudo, a organização aponta que "uma análise dos sectores mais diretamente afetados pelas medidas de confinamento, como os que envolvem viagens e contacto direto entre clientes e fornecedores de serviços, podem providenciar uma primeira estimativa dos efeitos heterogéneos entre regiões e grupos de trabalhadores".
Assim, as diferenças na parcela de emprego regional em risco "são muito grandes, variando entre menos de 15% e mais de 35% nas 314 regiões em 34 países da OCDE", lê-se no relatório. "Regiões em países do Norte e Leste europeu parecem menos afetadas, em média, do que as do Sul da Europa e América do Norte", frisa a OCDE.
Certo é que as regiões onde o turismo tem um elevado peso na economia deverão estar entre as mais penalizadas em termos de emprego. É o caso, em Portugal, do Algarve. "Locais turísticos mostram com frequência as parcelas mais elevadas de empregos em risco de disrupção", alerta a OCDE.
A organização chama a atenção que alguns dos principais destinos turísticos na Europa, como Creta e as ilhas no mar Egeu e Jónico, na Grécia, as ilhas Baleares e as Canárias, em Espanha, bem como o Algarve, em Portugal, "podem perder 40% ou mais dos empregos".
O Expresso contactou a OCDE procurando saber mais sobre este número. Andrea Garnero, economista do departamento de "Empregos e Rendimento" da organização, reforçou a ideia de que as regiões "serão afetadas de forma diferente consoante a sua especialização regional". As mais especializadas em sectores "que envolvem viagens e interação fisica direta, como o turismo, são mais afetadas".
O economista explicou ao Expresso que "olhámos para as regiões da OCDE onde estes sectores são mais importantes". Depois, foi contabilizado "o número de pessoas que estão em risco de perder o emprego". Dessa análise surge este valor de 40% ou mais de "empregos em risco" em regiões como o Algarve.
"Não é uma projeção de quanto esperamos que caia o emprego, é uma estimativa dos postos de trabalho que estão em risco, traduzindo a dimensão do desafio que essas regiões enfrentam", vinca Andrea Garnero.
ALGARVE JÁ SOFRE
A escalada do desemprego já se sente no Algarve. Segundo os dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), em maio, o Algarve foi a região de Portugal que registou o maior aumento no número de desempregados registados, com uma subida de mais de 200% em relação ao mesmo mês de 2019, atingindo perto de 28 mil pessoas.
Com o turismo a ressentir-se - e muito da pandemia, a taxa de ocupação global média/quarto no Algarve em junho foi de 10,3%, o que compara com 79,2% um ano antes, anunciou a Associação de Hotelaria e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA). Ao mesmo tempo, o volume de vendas apresentou uma descida de 81,2% face ao mesmo mês de 2019, indica a associação.
E as perspetivas são pouco animadoras, já que a região será particularmente afetada pela decisão das autoridades inglesas de não incluir Portugal na lista de países considerados "seguros" no âmbito da pandemia de Covid-19, e que dispensam quarentena no regresso dos viajantes, em particular turistas, a terras de Sua Majestade. Recorde-se que o Reino Unido representa para a região cerca de 6,4 milhões de dormidas por ano, ou seja, um terço do total, bem como um terço dos turistas e perto de metade dos passageiros que desembarcam no aeroporto de Faro (Expresso, texto da jornalista  Sónia M. Lourenço)

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