sábado, julho 04, 2020

Nota: A falsa "ajuda" de Londres ao turismo madeirens


Foi o ministro dos negócios estrangeiros, Santos Silva, a revelar que afinal a pretensa "ajuda" dos ingleses à Madeira e aos Açores, e ao turismo insular, era um embuste, uma palhaçada.
Eu explico: no caso de Portugal - que ficou fora da lista das chamadas viagens admitidas por Londres, mas evitáveis, segundo o próprio site do governo britânico - era aberta uma excepção para a Madeira e os Açores, como existem excepções em relação a outros países europeus.
O problema é que ao contrário do que uma primeira leitura - e primeiras notícias - indiciava, essa "ajuda" inglesa, para o turismo que no caso da Madeira (mais do que uma tradição centenária continua em valores importantes, apesar da quebra que o Brexit originou) era uma farsa mentirosa.
Vamos a factos.
O problema principal que se coloca aos potenciais turistas ingleses - para além, da confiança a ter ou não nos países de destino - tem a ver com a obrigatoriedade de uma quarentena de 14 dias, imposta a todos os que visitam o país ou regressam ao Reino Unido. O mesmo se aplica, por exemplo, a emigrantes que pretendam visitar a RAM e regressar ao Reino Unido.
Ora se no caso de Portugal - excluído da lista divulgada por Londres - a interpretação imediata e plausível é a de que Londres nem recomenda aos seus turistas que escolham o nosso país para férias (falo do Continente), o que cria problemas gravíssimos ao Algarve, já no caso da Madeira e dos Açores, a Inglaterra admite que os turistas visitem as ilhas portuguesas, mas não os exclui a obrigação de uma quarentena no regresso.
Perante tudo isto, pergunta-se: alguém acha que os turistas ingleses que estejam dispostos a escolher a Madeira como destino de férias, estarão igualmente disponíveis para se sujeitarem no regresso a uma quarentena de 14 dias, ainda por cima sujeita a penalizações financeiras duras?
O peso do turismo inglês na RAM
No caso do turismo inglês para a Madeira, e considerando os valores de final de 2019 - já que 2020 é um ano atípico - visitaram a Madeira 294.009 turistas (18,4% do mercado), mas mesmo assim com uma   queda de 7,4% relativamente a 2018, ano em que a Madeira foi visitada por 317.553 turistas ingleses, 19,7% do mercado. No caso das estadias em alojamentos hoteleiros, elas totalizaram em 2019 as 1.833.639 dormidas, 22,5% do total, mesmo assim menos que as 1.970.750 dormidas registadas em 2018, 23,6% do total, registando-se uma queda de 7% entre os dois anos.
O que diz o governo britânico
O que diz o governo inglês afinal no seu site institucional e que não deixa dúvidas a ninguém, embora muitos não se tenham a percebido disso?
É referido isto:
"Summary: From 4 July, Madeira and the Azores are exempt from the FCO advice against all non-essential international travel. This is based on the current assessment of COVID-19 risks.
From 4 July, Madeira and the Azores are exempt from the FCO advice against all non-essential international travel. This is based on the current assessment of COVID-19 risks.
However, the requirement to self-isolate on return to the UK from Portugal, including Madeira and the Azores, remains in place. See guidance on entering or returning to the UK".
Londres não deixa dúvidas, confirmando as declarações do MNE português que obviamente não ia inventar: “o requisito de auto-isolamento no regresso de Portugal ao Reino Unido, incluindo a Madeira e os Açores, continua em vigor. Consulte as orientações sobre como entrar ou retornar ao Reino Unido”.
O caricato – ou não - é que o mesmo site que aplica estas restrições, mais abaixo, nas diversas sugestões deixadas a potenciais turistas ingleses, não esquece a Madeira e as suas levadas: “Walking the levadas (ancient irrigation channels) is a popular activity in Madeira, but the walks can be challenging if you are inexperienced.  See Madeira”
E agora?
Julgo que o GRM deve insistir junto do governo de Lisboa, e acompanhar as exigências que estão a ser feitas junto de Londres, para que estas restrições se alterem. Não sei mesmo se não seria devida uma palavra ao representante diplomático inglês na capital portuguesa, alertando para o potenciar. Impacto negativo que a imposição da obrigação da quarentena terá no fluxo turístico para a Madeira. Mas isso é matéria que cabe, não a uma qualquer Agência de Promoção que não tem competências para se envolver nestas matérias políticas, mas ao próprio GRM e ao titular da Secretaria do Turismo, porque a continuar esta situação francamente duvido que a Madeira possa ter uma mão cheia de turistas ingleses de visita. E nem falo no impacto social e económico daí resultante. Toca a trabalhar rapidamente. Muito sinceramente acho que este dossier assume grande prioridade para quem tem a responsabilidade de, nestes tempos dificeis de contradições e sacanagens - muitas delas ligadas a patifarias entre destinos turísticos numa concorrência descontrolada e com muito lobbing à mistura - gerir uma aéra tão sensivel e perigosa, pelo impacto social e económico, como o turismo -  (LFM)

Sem comentários: