terça-feira, maio 05, 2020

Covid-19: Reduzir lugares nos aviões a 2/3 não é economicamente rentável e encarecerá bilhetes

Limitar a lotação dos aviões a 2/3, como pretende fazer Portugal, não é viável economicamente e as companhias aéreas vão preferir manter os aviões em terra. Bruxelas já disse que o caminho da aviação não será por aí. Com limitações bilhetes vão ficar mais caros. Oregresso da sociedade a uma certa normalidade, com o fim do estado de emergência, começa a dar os primeiros passos, e a aviação, um dos sectores mais afetados pela pandemia, não é exceção. A aviação tem novas regras e uma delas a aplicar por Portugal será, em princípio, a limitação da lotação das aeronaves a 2/3 da ocupação. Mas voar com as aeronaves com lugares vazios dá prejuízo, se a opção for esta, e não houver subsidiação, o mais provável é que o modelo atual dos bilhetes baratos acabe. As companhias aéreas que operam em Portugal, representadas pela RENA, olham para a medida com desconforto e apelam a uma harmonização das regras na União Europeia.
A regra dos 2/3 tem algumas exceções, ou seja, casos em que não é aplicada. É o que acontece, por exemplo, nos voos de repatriamento, os jatos que transportam menos de 19 pessoas ou nos voos táxi.

Será sempre uma medida de limitação temporária, e, nesse sentido, com os dias contados. É que voar com os aviões com lugares vazios não é economicamente viável, e vai fragilizar ainda mais um sector cuja sobrevivência está já dependente dos apoios de Estados, que têm chegado aos milhares de milhões um pouco por todo o mundo. Ainda hoje a Comissão Europeia autorizou França a apoiar a Air France/KLM com 7 mil milhões de euros, em empréstimo. O objetivo é dar-lhe liquidez. É o que tem estado a acontecer a várias companhias internacionais.
A regra da limitação a 2/3 da lotação de passageiros por aeronave que Portugal já está a aplicar, e admite manter em vigor, é vista com alguma apreensão pelas companhias aéreas que operam em Portugal e estão representadas na RENA, já que estão em contradição com o que está a ser discutido em Bruxelas. As transportadoras apelam a que haja uma harmonização das regras na Europa nesta matéria, ainda que saibam que é uma medida transitória, avança António Moura Portugal.
Em declarações ao Expresso o diretor executivo da RENA sublinha que este sábado a Comissária Europeia dos Transportes veio dizer que o futuro da aviação não passa pela limitação da lotação de passageiros. E defende, nesse contexto, que não faz sentido Portugal estar em contraciclo com as orientações europeias, como de resto o Ministro da Economia já sinalizou.
"É também essa a convicção das companhias aéreas, que confiam que a atual legislação seja revogada em breve e que estão a trabalhar em conjunto com a Comissão para oferecer soluções que sejam seguras e eficientes no combate à pandemia", esclarece António Moura Portugal. E lembra ainda que não é a primeira vez que as transportadoras enfretam uma situação com algumas semelhanças. "A aviação já deu mostras no passado de que consegue responder a este tipo de ameaças, como sucedeu com a introdução de regras restritivas em matéria de transporte de líquidos após o 11 de Setembro", defende.
Máscaras deverão ser obrigatórias na retoma dos voos
Bruxelas abordou o assunto no final da semana passada, admitindo que aviões possam viajar cheios, desde que o uso de máscara seja obrigatório. Espera-se que haja uma orientação da Comissão Europeia nos próximos dias. A Comissária Europeia dos Transportes, Adina Valean, reconheceu que andar de avião em tempos de covid-19 será sempre "um risco que a pessoa assume, apesar de tudo".
A Comissão Europeia defende que passe a ser exigido o uso de máscaras de proteção aos passageiros, quando os voos comerciais forem retomados. Ainda não se sabe quando tal acontecerá, mas as companhias estão a preparar-se para retomar os voos com alguma regularidade, ainda que de forma tímida, em junho. O arranque deverá ainda dar-se em maio.
Ao contrário do que tem sido adotado por alguns países - incluindo Portugal - Bruxelas não quer impor uma redução da lotação dos aviões para evitar o contágio da covid-19 por reconhecer que isso afeta a viabilidade económica das operações das companhias aéreas. Viajar com os voos mais vazios não é uma opção para a maioria das companhias, que, sem compensações estatais vão preferir deixar os aviões em terra do que voar com prejuízos.
"A aviação é cada vez mais um negócio de escala. E se houver países em que não há limitações de passageiros por aeronave é para lá que as rotas se irão deslocar", disse ao Expresso fonte do sector. As companhias vão preferir deixar os aviões em terra e reestruturar, despedindo e reduzindo custos, do que ter prejuízo com voos mais vazios.
A Comissária Europeia dos Transportes, Adina Valean, salientou na entrevista à Lusa que na reabertura da circulação aérea "deve ser uma das condições utilizar equipamentos de proteção – máscaras, em particular". "É o mínimo que podemos fazer para nos protegermos a nós e aos outros ao pé de nós". A Comissão Europeia está a ultimar um conjunto de recomendações.
"Temos de garantir o equilíbrio entre a viabilidade económica de um voo e o número de passageiros e claro que é mais difícil manter grandes distâncias, pelo que é um risco que a pessoa assume, apesar de tudo", defendeu a comissária europeia. Questionada pela Lusa sobre a eventual colocação de assentos vazios entre passageiros para garantir o distanciamento social, Adina Vălean afastou esta medida como regra. "Não recomendo, como norma, manter espaços livres [entre passageiros]", disse (Expresso, texto da jornalista Anabela Campos)

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