terça-feira, maio 12, 2020

Cofina ainda não desistiu da TVI mas a Prisa desistiu da Cofina


O processo de venda de parte da Media Capital, proprietária da TVI, ao empresário Mário Ferreira pode ficar fechado na próxima semana, mas isso não impede que a Cofina tenha voltado de novo a jogo. A empresa liderada por Paulo Fernandes, sabe o Expresso, está a tentar manter contactos com os espanhóis da Prisa com o objetivo de adquirir o controlo da Media Capital, um negócio interrompido a 11 de março, já com a crise provocada pela pandemia por covid-19 em pano de fundo. Na segunda-feira ao fim do dia chegou às mãos da Prisa uma carta com uma nova oferta do grupo que detém o “Correio da Manhã”, CMTV, “Jornal de Negócios” e “Sábado”. A Cofina ofereceu, porém, um valor abaixo da última oferta que teve em cima da mesa, e que era de 123 milhões de euros por 95% do capital. É a segunda vez que a Cofina revê o preço inicial, já que o cortou em 50 milhões de euros em dezembro do ano passado, alegando falhas de informação por parte dos espanhóis. A Prisa, que tem um litígio com a Cofina precisamente por esta ter desistido da compra da TVI, ficou surpreendida com a nova investida. E, sabe o Expresso, já respondeu a Paulo Fernandes recusando a oferta. Fê-lo na quarta-feira. São pelo menos dois os argumentos dos espanhóis: estão em negociações exclusivas com Mário Ferreira, dono da empresa turística Douro Azul. E as relações ficaram crispadas quando, em março, a Cofina disse que afinal não iria avançar com o negócio.

COVID-19 E “VIOLAÇÕES CONTRATUAIS GRAVES”
A Cofina justificou o fim do negócio com a “inesperada e muito significativa degradação da situação financeira e perspetivas da Media Capital, especialmente agravadas pelo presente contexto de emergência causado pela pandemia covid-19”, assim como com o “comportamento da Prisa, que incorreu em violações contratuais graves e, por último, manifestou expressamente a intenção de não cumprir o contrato, o que afetou irremediavelmente a relação de confiança entre as partes”.
A Prisa parece agora recusar-se a sentar-se de novo à mesa com Paulo Fernandes, posição que caiu mal dentro da própria Cofina. Resta saber se este é um não definitivo. Nem a Prisa nem a Cofina quiseram fazer qualquer comentário. Não obstante, isto é um sinal de que o grupo liderado por Paulo Fernandes ainda não desistiu de adquirir o canal de Queluz. Na realidade, o caminho que a Cofina teria de fazer para concluir o negócio está praticamente todo feito, já tem a aprovação dos reguladores, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social — ERC, a Autoridade Nacional das Comunicações — ANACOM e a Autoridade da Concorrência (AdC), e Paulo Fernandes conhece as contas e cantos à casa. Os pressupostos do negócio mantêm-se, apesar de os espanhóis terem avançado com uma ação contra a Cofina, exigindo a caução de 10 milhões de euros pela interrupção do negócio. A retirada de campo do grupo de Paulo Fernandes em março deixou irritados os espanhóis, o que poderá tornar o caminho mais difícil. Para já, e até 15 de maio, decorrem negociações exclusivas da Prisa com Mário Ferreira, que iria ser parceiro da Cofina caso o negócio tivesse avançado. O proprietário da Douro Azul fez uma proposta para a compra de 30,2% da dona da TVI, TVI24, Rádio Comercial e da produtora Plural, um dos trunfos do grupo.
O renovado interesse da Cofina poderá estar relacionado com o facto de a televisão ter ganho um novo fôlego na sequência da pandemia e do confinamento a que os portugueses têm sido obrigados. Um processo que corre paralelo com a quebra expressiva das vendas dos jornais do grupo, nomeadamente do “Correio da Manhã” (Expresso, texto dos jornalistas ANABELA CAMPOS E JOÃO VIEIRA PEREIRA)

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