segunda-feira, julho 18, 2016

Opinião pessoal: Marcelo e a banalização do blá-blá para encher chouriço


Acho piada nesta ânsia presidencial de protagonismo mediático. Marcelo vive para a comunicação social, vive em função da comunicação social, depende da comunicação social. E percebe-se. Marcelo chegou a Presidente, depois de uma carreira política absolutamente sem significado, a reboque do espaço mediático que a RTP e depois a TVI lhe propiciaram - tal como fazem a outros políticos emprateleirados - com a agravante de ser exclusivamente ocupado por ele, sem contraditório. Aliás pelos debates na campanha eleitoral viu-se que Marcelo não gosta nada de debates a dois, não se sente bem, parece evidenciar receio de ser atacado ou criticado, enfim... Marcelo percebeu a dimensão e a importância da "oferta" televisiva e quando tomou, em silêncio consigo próprio, a decisão de avançar para  Belém,  passou a preparar a sua imagem pública, demasiado elitista para ser candidato fosse ao que fosse. Foi moldando essa imagem paulatinamente, foi adaptando a sua maneira de ser a uma nova realidade social, foi popularizando o seu discurso, foi aproximando-se daquilo que as pessoas queriam ouvir, sobretudo depois da crise de 2010. E com tudo isso foi ganhando espaço e apoios onde nunca tinha tido.

Tudo isso foi determinante para a sua decisão de ser candidato - inteligente como é, apenas revelou essa intenção quando Guterres anunciou que não seria candidato presidencial e quando percebeu que nunca entusiasmaria o PSD de Passos - e sobretudo para a sua eleição praticamente garantida até porque contou com a cumplicidade compreensível da comunicação social.  Não há que negá-lo.
MRS acabou por participar numa eleição presidencial desequilibrada perante os demais candidatos que nunca foram comentadores nem nunca tiveram espaço televisivo próprio. Neste contexto, mesmo depois de eleito, revela-se incapaz de separar o Marcelo-Presidente do Marcelo-comentador, este a razão de ser daquele. Vai daí MRS comenta tudo, fala de tudo o que deve e não deve, dá notícias aos jornalistas, anuncia notícias que acontecerão e que são da competência do governo ou organismos governamentais (veja-se o exemplo recente da situação na CGD e a execução orçamental que é da responsabilidade da DGO), enfim mesmo quando diz tontices ou banalidades. E não vale a pena falar na forma como feriu o dossier das sanções a Portugal, sobre as quais perorou dia-sim, dia-sim, quando afinal Bruxelas aprovou sanções que por si só, custando milhões de euros ou zero, não deixam de ser uma vergonha para  Portugal, algo que MRS desvaloriza.
Basta ver um amontoado de operadores de imagem ou repórteres fotográficos e ele corre para junto deles. Provavelmente sente-se um entre os seus pares, o que se percebe e compreende.
A propósito do golpada na Turquia MRS tinha que dizer qualquer coisinha, mesmo que uma banalidade. Acho que MRS começa a ser um Presidente com a tendência a se banalizar, diga ou não banalidades apenas para encher chouriço.
Vejamos o que perorou MRS quando lhe pediram a sua opinião sobre a golpada de Erdogan na Turquia:
  • "O Ministro dos Negócios Estrangeiros já referiu a posição portuguesa e a posição do Presidente é a de esperar que vença a causa da paz, estabilidade, unidade e do respeito pelos princípios do Estado de Direito democrático e dos direitos fundamentais das pessoas";
  • "Felizmente, não temos notícia de portugueses envolvidos, a qualquer título, no sentido de atingidos. Acompanhamos a situação, esperando que - sendo um país membro da Aliança Atlântica e parceiro da União Europeia, importante em termos geopolíticos, económicos e estratégicos - seja uma evolução serena, calma".

Marcelo dixit (LFM)

1 comentário:

Jorge Figueira disse...

Eu realmente não votei nele.
A simbiose que MRS tinha (tem) com a comunicação social fizeram-no perder dois votos. Um deles perdido à última da hora quando se armou em cabeleireiro.
Eleições é assim vale tudo, desde que, emocionalmente, as mentiras colham na cabeça dos eleitores. Não vou ter a veleidade de explicar o Padre Nosso ao Vigário!
Porém não estou tão pessimista quanto à prestação do PR Marcelo Rebelo de Sousa.