terça-feira, março 01, 2016

Opinião: a política e as minhas divagações

Vivemos hoje tempos que são difíceis para a política em geral e para os partidos e os políticos em particular. Há quem diga que é o sistema que se esgotou, há quem reclame mudanças no sistema político, há quem ache que a política não pode ficar refém de um sistema partidário caduco, fechado num casulo e que parou no tempo.

O que é facto, e temos percebido isso cada vez mais, é que as pessoas responsabilizam a política e políticos por tudo o que de mal tem sucedido ao país e a este povo; acusam os partidos de terem e defenderem interesses que são apenas e só os que lhes dizem respeito; sustentam que os políticos foram perdendo credibilidade e deixaram  de ser credores de respeito na sociedade portuguesa. Os cidadãos radicalizaram o seu discurso crítico, reforçaram o distanciamento expresso nos resultados eleitorais globais, limitam-se a viver o dia-a-dia, preocupados com tudo o que lhes tem acontecido, com as patifarias impostas pela corja que andou estes 4 anos e meio a gerir o país, cometendo de forma diligente as tais "maldades" que um patético ex-secretário de estado veio ao Funchal um dia destes reconhecer que foram cometidas.
Maldades...tardias
Nunca o vi afirmar tal enquanto foi governante, nunca teve a dignidade de lutar para que essas "maldades" fossem travadas em tempo útil, nunca sequer percebi que tenha alguma vez exigido que não se metesse no mesmo saco todos os cidadãos, sacrificando os mais pobres e vulneráveis, os desempregados, os jovens sem trabalho, os doentes cada vez mais privados por razões financeiras do acesso à saúde, o segregacionismo financeiro na educação que condicionou (e condiciona) o acesso ao ensino e o aproveitamento escolar, etc. Nunca vi este antigo secretário de estado "corajoso", e que veio agora ao Funchal falar em "maldades" contra os portugueses, defender o estado social, as linhas orientadores constitucionalmente definidas. Vi um oportunista que fez parte da geringonça que foi o governo de Passos e do CDS de Portas julgar que o povo tem memória curta e que pelo facto de já não ser governante isso lhe dá a legitimidade para falar como fala. Agora é fácil falar, como se o tempo apagasse a memória, mesmo quando os povos sofrem de uma lamentável memória curta. É fácil perorar balelas tontas na suposição de que o povo se esqueceu dessa corja de bandalhos, independentemente das pessoas votarem depois da forma que votam.  A fidelidade eleitoral dos cidadãos não tem nada a ver com o sentimento que os eleitores sentem pelos governantes. Tem apenas e só a ver com a preservação de uma fidelidade partidária, se quiserem uma relação sentimental e afectiva que construíram durante 40 anos de democracia com este ou aquele partido.
A corja e os tempos difíceis
Não são fáceis estes tempos, indiscutivelmente.
Os cidadãos, depois de 4 anos de austeridade criminosa, de quatros anos de roubalheira institucionalizada, de quatro anos de descarado gamanço fiscal imposto pela corja de bandalhos que nos governou - entre os quais esse execrável Gaspar que fugiu do governo para se refugiar no FMI e ganhar mais de 20 mil euros mensais sem pagar impostos, os mesmos que esse tipo aplicou aos portugueses provocando a desgraça de milhares de pessoas e de famílias penhoradas.
Não acredito que esta corja de bandalhos que roubou durante 4 anos e meio às pessoas para encher a pança do sistema financeiro, que roubou salários e pensões para salvar bancos e lá meter mais de 10 mil milhões de euros, que roubou nas reformas e nas pensões para  salvar-nos (?) das patifarias de uma corja de corruptos de colarinho branco, que deviam estar todos presos, ou para tapar o rasto de corrupção e de gamanço próprio de sistemas corruptos que deram cabo da banca, com os resultados de todos conhecidos, alguma vez julgasse que podia representar o povo. Qual povo qual carapuça!
A "representatividade" depois do gamanço...
Estamos a falar de uma coligação partidária que representa cerca de 19% da população de Portugal, que obteve 38,8% dos votos expressos a 4 de Outubro de 2015 mas que não passa dos 20,5% do total de eleitores inscritos e que não tem o direito nem a legitimidade - nem ela nem mais nenhum outro partido, onde estes indicadores ainda são mais insignificantes - de falar em nome do povo ou de reclamar qualquer estatuto indevido de "representação" desse povo que não lhes passou mandato nenhum.
Obviamente que estes não podiam ter a veleidade de julgar que representam a maioria dos cidadãos portugueses porque não os representa coisa nenhuma. A coligação PSD-CDS que por mero oportunismo eleitoral e instinto de sobrevivência política foi constituída de forma célere e com enormes cedências ao CDS, apesar de ter tido mais votos, não foi a que ganhou de facto as eleições porque não consegue ter condições políticas e parlamentares para governar. No fundo acontecendo exactamente o mesmo que viria a ocorrer, depois, quer em Espanha quer mais recentemente na Irlanda. Essa coligação, na qual nunca votaria, acabou por bater contra a parede e confrontar-se com uma solução de esquerda, frágil, inconsequente, contraditória, complexa, inconstante, insegura,  incoerente, confusa, incongruente e sem garantias da estabilidade que todos precisamos. Por muito que os protagonistas desta nova geringonça, que sucedendo à geringonça anterior, tudo façam para sobreviver e impedir o recurso a eleições antecipadas que também os penalizariam. Mas a realidade é essa, doa a quem doer. O que importaria saber, por exemplo, foi o motivo porque chegamos a este ponto, quem nos conduziu a este beco-sem-saída, quem roubou, perseguiu e corporizou maldades e patifarias aos cidadãos e depois teve a suprema lata de sonhar que teria a mesma representação eleitoral que tinha tido em 2011 (graças a uma campanha eleitoral que foi um vergonhoso embuste de manipulação e mentira como documentalmente está provado), num país onde a abstenção bate recordes.
Desafios e exigências
De facto vivemos tempos que para a política e os partidos não são fáceis, tempos que alimentam projectos de novos partidos que entram no xadrez político reclamando a diferença, movendo-se sob a capa de uma "seriedade" diferente das seriedade dos restantes partidos e defendendo "valores" que rapidamente percebemos serem apenas e só resultado demagogia populista. Partidos novos com protagonistas velhos, partidos novos com pessoas que por causa de divergências sobre lugares abandonaram esses outros partidos, a que se juntam partidos que nem foram sequer capazes de cumprir as suas obrigações legais apesar do moralismo que difundiam a cada momento.
A bandalhice das redes sociais
As pessoas, sobretudo os mais atentos, têm uma enorme dificuldade, por exemplo, perante as constantes alterações legislativas, feitas pelos próprios partidos e pelos políticos eleitos, para que o controlo das contas partidárias seja colocado numa espécie de zona de conforto, furtando-se à experiência, competência, contundência, polémica e "agressividade" das fiscalizações do  Tribunal de Contas que regra geral foram sempre do desagrado dos políticos. Eu até admito que o TC pode alterar os seus procedimentos - para se denunciar eventuais ilegalidades não é preciso escarrapachar nos acórdãos os nomes de pessoas permitindo juízos antecipados sobre elas que depois não se confirmam - mas o mal estará feito - abrindo portas a que sejam rotuladas de tudo quando atiradas para esse talho popular, caracterizado pelos "julgamento" hipócrita e bandalho nas redes sociais onde o anonimato cobarde rapidamente toma conta da sequência de comentários e dos ataques ao carácter e à dignidade de qualquer cidadão. Porque há energúmenos que se sentem realizados comportando-se assim. Mas sem nunca darem a cara, provavelmente porque não passam eles próprios de bandalhos, ladrões ou corruptos. 
Escrutínio constante
Hoje as pessoas exigem dos partidos e dos políticos um escrutínio constante, um controlo eficaz. Os cidadãos são capazes de ignorar ou nem valorizar o maior aldrabão, o gatuno ou o maior corrupto que viva ao seu lado, no quadro de uma boa vizinhança, mas não perdoam nada aos partidos  e aos políticos. Querem responsabilização, querem contas controladas, querem os partidos colocados no seu devido lugar. Pouco importam as subvenções políticas ou os apoios financeiros do estado aos partidos. As pessoas sabem que elas são importantes numa democracia portuguesa onde os partidos sem esses apoios desapareciam, colocando em perigo todo o sistema político, em perigo perante as garras afiadas de interesses financeiros e capitalistas, de lobbies económicos que aspiram ao controlo do poder e dos processos de decisão e de escolha  ou mesmo de saudosismos políticos de inspiração totalitária. O que é fundamental é que haja um retorno disso, que a responsabilidade e a capacidade de realização e de cumprimento dos compromissos por parte dos políticos seja real e não apenas uma bandeira que se agita nas campanhas eleitorais mas que se atira para o caixote do lixo logo depois das eleições. (LFM)

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