domingo, agosto 16, 2015

"Mania de escrever": cartazes


Desastroso, uma espécie de IURD...
Gozado nas redes sociais

O processo de elaboração de um cartaz é essencialmente de natureza político. Não estamos a falar de uma estratégia para venda de sabonetes ou de perfumes.  Depois de definidos todos os parâmetros de enquadramento do trabalho, podem os partidos optar pelos seus próprios recursos - regra geral muito conservadores e limitados - ou contratar agências de comunicação que se revelem capazes de transporem as ideias acordadas politicamente para os "outdoores" ou para outros materiais de publicitação eleitoral e de apelo ao voto.
Incompetência e mentira
Mudança rápida de cartazes

Tudo tem a ver com a mensagem a difundir, com o público-alvo, com a estimativa da receptividade diferenciada entre residentes em zonas urbanos e os moradores (e eleitores) nas zonas rurais (ou não urbanas), com a idade dos potenciais consumidores e com os mecanismos mais adequados para a transmissão da mensagem.
Há sempre, na preparação e elaboração política de um cartaz de campanha, uma pequena equipa de operacionais partidários envolvidos. São eles - essa task-force em concreto - que debatem tudo isto com o envolvimento directo do candidato e/ou líder do partido. Dificilmente um líder partidário "vê" um cartaz de campanha, com ou sem a sua imagem, sem ter conhecimento prévio, pelo menos das ideias iniciais e das mensagens que dele constarão.

O regresso tardio do líder às ruas

Podem não tomar conhecimento do "layout" final. Admito - e dou de barato isso - que nem sempre o líder é confrontado previamente com o "layout" final produto a elaborar e distribuir pelos partido.
A questão de fundo, no caso dos cartazes do PS, tem a ver com a ausência de profissionalismo e com a absurda ignorância política de quem definiu a imagem principal. Nem falo na mensagem idiota que consegue colocar uma mulher a dizer-se desempregada desde os tempos em que...Sócrates e o PS estavam no poder! Recordo que um primeiro cartaz, catalogado imediatamente de "pró-IURD" e alvo de chacota pública nas redes sociais foi, grosso modo, desastroso porque mesmo sem recorrer à imagem de Costa, pretendeu passar uma patética mensagem de "salvação" à moda do PS, colocando o partido numa espécie de limbo (que tudo faz para apagar o que se passou com Sócrates entre 2005 e 2011), se quiserem encostando-se ao "lado bom" do debate político ao mesmo tempo que tudo fazia para empurrar a coligação para o "lado mau" desse debate bipolarizado. Esta primeira leva de cartazes absolutamente patéticos, apostou numa espécie de diferenciação entre o inferno e o paraíso, leia-se, entre o PS e a coligação PSD/CDS.
Pirosos, graficamente idiotas, mensagem fácil de sem retida

Depois seguiu-se uma outra opção desastrosa (por causa dos efeitos dela resultantes)  - mas neste caso concreto não dou por adquirido que Costa tenha tido conhecimento integral da estratégia de comunicação adoptada - que até podia ter resultado, caso fosse executada de forma competente e profissional, mas que acabou por constituir um fracasso, um autêntico tiro-no-pé dos socialistas com o  PS a se espalhar ao comprido particularmente na pretensão de contar histórias sociais verdadeiras (desemprego, emigração, ausência de apoios sociais do Estado, etc), socorrendo-se da mentira e da inadequada associação de cidadãos à mensagem, sem que os fotografados tenham sido previamente avisados e dado a sua anuência.

Coligação também gozada nas redes sociais. Incontornável e com dedo socialista

Estamos a falar da utilização de fotografias obtidas numa Junta de Freguesia (socialista) e de uma história tonta, contada sem que os mentores tenham procurado saber da existência de correspondência com a real situação social e profissional dos fotografados. Não vamos colocar um empregado a dizer que está desempregado, não vamos colocar num cartaz um tipo que todos os dias toma uma bica no café aa esquina a dizer que foi obrigado a emigrar, etc. Um desastre!
Bloco de Esquerda entra na polémica "picando" o PS com os moralismos da treta do costume

É sabido que, de uma maneira geral, e numa primeira fase, os partidos usam nestes cartazes exteriores pessoas que são militantes e simpatizantes de base dos próprios partidos - quase sempre cidadãos anónimos, desconhecidos da opinião pública - que aparecem como veiculadores de uma mensagem política com fins eleitorais, mas que acabam por disfarçar a dimensão redutora de um círculo politico subjacente à campanha comunicacional. Ou seja, se um partido não for capaz de escolher a mensagem política, definir os temas a privilegiar na campanha política, se não for capaz de ir ao encontro da realidade social - e isso tem que ser previamente estudado não por uma agência de comunicação, mas por pessoas com responsabilidades políticas consistentes e credíveis - e puxar para cima as reais preocupações das pessoas, então o fracasso é inevitável. Apelar ao voto não é com o vender sabonetes.
Mas este tipo de campanhas tem outro riscos, os de confundirem as pessoas que ainda se deixam "influenciar" pelos cartazes e pela mensagem deles constantes. Por exemplo, o desemprego tem duas perspectivas de análise, uma do poder e outra da oposição, perfeitamente opostas, quando na realidade estamos a falar de um valor estatístico concreto, que é único e que serve de base à própria análise que dele fazem as duas partes. A própria emigração de jovens e demais cidadãos para o estrangeiro também pode ser usada como mensagem política com intencionalidades diferentes. Quer isto dizer que há temas que podem ser usados como bandeiras pela oposição que pretende ganhar eleições e chegar ao poder, mas que podem obviamente ser usadas também como bandeiras de propaganda, de sinal oposto, por parte de um poder que quer sobreviver como tal.
Por exemplo, qual a diferença entre uma potencial mensagem da oposição PS sustentando que um desemprego da ordem dos 12,5 a 13% é uma má herança de 4 anos de governação e a mensagem da coligação no poder que pode difundir a ideia de que foi capaz de travar o agravamento do desemprego, e que apesar de tudo, o baixou dos 17 ou 18% existentes quando recebeu o país do "socretismo" socialista, com um país falido, sem dinheiro, com austeridade negociada e com a troika cá dentro, para os valores actuais, etc? A velha teoria do copo meio-cheio ou do copo maio-vazio, conforme melhor nos convier...
Mais.
Para os cidadãos eleitores o que será mais importante: saber se foi bom ou mau para os portugueses que a troika tenha saído (?) do país em Maio do ano passado ou lembrar porque razão a "troika" desembarcou em Lisboa e quem foram os causadores dessa situação, quem faliu Portugal em 2011 e quem foi a correr a pedir ajuda externa?
Repito, o que se passou foi apenas uma descarada falta de profissionalismo e de competência de quem foi contratado e uma omissão do responsável pela campanha eleitoral do PS e dos seus mais directos colaboradores. Depois da "bronca" era impossível que o director de campanha do PS - que mesmo assim resistiu dois ou três dias até tomar essa decisão - continuasse em funções. Nada mais. Pretender fazer do que se passsou com os cartazes do PS um "caso" ou dar-lhe uma amplitude que em meu entender não tem - sobretudo quando sabemos como se estruturam os partidos envolvidos em campanhas eleitorais e como funcionam esses esquemas internos, o processo de decisão ao nível das "task-forces" eleitorais - ou procurar responsabilizar os próprios líderes dos partidos pelo que se passou, é pura idiotice. Os cartazes da coligação, apesar de estarem numa linha diferente, assente na apologia do auto-elogio - repetindo no essencial a propaganda do governo de Passos e do CDS - são em termos visuais, de estrutura gráfica, um desastre, apesar de aceitar que a mensagem política deles constantes possa ser mais facilmente "retida" pelos cidadãos. Basicamente, e neste caso, não se nota diferença entre a coligação e o governo de coligação.
Claro que todos percebemos as causas de tudo isto. O PS, na oposição, tem um trabalho político e eleitoral dificultado pelas conturbadas mudanças internas, sem os efeitos (sondagens) pretendidos, tem muita gente stressada, tem a ameaça de uma descrença interna num sucesso eleitoral que todos admitiam no passado recente ser inquestionável e muito mais ampla, depois de anos de austeridade e de roubalheira, tem mais recentemente indicadores que, manipulados (?) ou não, são repetidamente veiculados pelos média e em nada ajudam a estratégia de contestação que Costa e seus colaboradores mais directos querem adoptar.
Bem vistas as coisas o PS tem ainda outros dois problemas: o primeiro um Presidente da República que lhes deu sempre sopa recusando todas as pressões feitas para a dissolução do parlamento - a ideia era realizar eleições mais cedo do que Outubro de 2015... - e depois  uma estranha diferença entre a alegada popularidade de Costa e a dimensão da receptividade do PS expressa nas sondagens.
Finalmente, pela experiência que tenho acumulada, tenho a certeza que erros destes dificilmente são cometidos - em ter,mos de estrutura e de mensagem política - quer pelo PCP, quer pelo Bloco de Esquerda, havendo neste caso uma equipa de criativos ao serviço das acções politicas dos bloquistas com recurso a cartazes simples, contundentes e com mensagens políticas agressivas. Resta saber se há retorno eleitoral, expresso em votos, de tudo isso. O PCP, depois de um desaire em eleições legislativas anteriores, parece continuar em vantagem, em grande medida devido ao trabalho realizado por Jerónimo Sousa, algo que Costa decididamente não conseguiu ainda igualar, tendo por isso uma necessidade tremenda de "pegar" o  PS pelos cornos - como se costuma dizer - algo que anda não conseguiu depois de tudo o que se passou, e como se passou, com António José Seguro.

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