quinta-feira, setembro 18, 2014

Opinião: "O referendo que pode abalar a Europa"



"O que começou de modo algo displicente desembocou numa guerra de nervos e termina hoje no clímax de uma votação que envolve pouco mais de 4,2 milhões de eleitores. Um número reduzido de votos para o que está em causa no resultado do referendo escocês: o futuro da Escócia, em primeiro lugar, condicionando o do Reino Unido (que, caso vença o “sim”, se fragmentará pela segunda vez na sua história), mas também o futuro da Europa. Se nos Balcãs ou no Leste europeu o redesenhar das fronteiras do pós-guerra tem vindo a fazer-se à custa de mudanças globais (a queda do muro de Berlim, o fim da União Soviética) ou combates sangrentos (ex-Jugoslávia, Ucrânia), na Europa a reunificação da Alemanha e a ampliação da União Europeia apontavam no sentido de um fortalecimento dos Estados, como refere nesta edição Carlos Gaspar. No entanto, a porta que se abre com o referendo escocês, seja qual for o seu resultado, é a da fragmentação. Razões históricas ou de circunstância, baseadas em cálculos oportunistas acerca das vantagens de poderes fraccionários emergentes, servem de adubo à vaga de potenciais secessões em países de fronteiras estáveis, embora com problemas internos na relação dos respectivos poderes centrais com estados autonómicos ou similares. Não por acaso, o referendo escocês tem vindo a reanimar, em maior ou menor grau, desejos independentistas não só no Reino Unido (Irlanda do Norte, País de Gales) mas também em Espanha (Catalunha, País Basco), na Bélgica (Flandres), na Itália (Tirol do Sul, Veneza e o Veneto), na França (Bretanha, Córsega) ou na Alemanha (a Baviera). O caso catalão é o mais “incendiário” no curto prazo, mas ardem nos outros pequenas chamas que só uma rejeição clara da independência na Escócia aplacará, sem contudo aniquilar. Porque a porta que se abriu na Escócia não se fechará tão cedo. E, em nome do “direito à escolha”, a Europa pode ver tremer o que imaginava mais seguro" (editorial do Público, com a devida vénia)