Li no Observador: "As urnas de voto abriram na Escócia às 7h desta
quinta-feira, 18 de setembro, que pode entrar para a História, caso os 4,3
milhões de escoceses que são chamados às assembleias de voto digam ‘sim’ à
independência do país face ao Reino Unido. Mas essa não parece ser a conclusão
das mais recentes sondagens, que dá ao ‘não’ 52% dos votos, batendo o ‘sim’ por
quatro pontos percentuais. Também nas casas de apostas o otimismo pela
independência mudou subitamente nas últimas horas. Depois de semanas em que o
‘sim’ seguia à frente nas preferências dos apostadores britânicos, entre terça
e quarta-feira a grande maioria das casas registou um grande aumento das
apostas na vitória do ‘não’ face a uma descida das apostas no ‘sim’. Tudo está
dependente dos indecisos, que segundo todos os estudos de opinião, representam
entre 5 a 6% do eleitorado, tendo assim o poder efetivo para mudar o resultado
deste referendo, de que só haverá novidades durante a madrugada de sexta-feira,
uma vez que as urnas só encerram às 22h de quinta. Os apoiantes do ‘não’ sabem
da importância das pessoas que ainda não se decidiram e, por isso, nos últimos
dias, têm-se multiplicado em esforços de apelo à união, repetindo o slogan
“Better together” (estamos melhor juntos, em tradução livre) e fazendo
promessas consideradas históricas, como é o caso do “juramento” de David
Cameron, Ed Milliband e Nick Clegg, líderes dos principais partidos britânicos,
que asseguraram que, caso os escoceses queiram permanecer no Reino Unido, o seu
parlamento terá poderes reforçados. “Vamos dizer às pessoas que ainda têm
dúvidas e estão hesitantes, pessoas que estavam a pensar votar ‘sim’ ontem e
que podem ser convencidas hoje – vamos falar-lhes dos riscos reais” da
independência, disse Gordon Brown, ex-primeiro-ministro britânico, num discurso
inflamado do último dia de campanha. Os “riscos” da independência estão bem
identificados pelos apoiantes do ‘não’. Segundo Gordon Brown, eles têm que ver
principalmente com fatores económicos: a incerteza relativamente à moeda que
uma Escócia independente utilizaria; aumento exponencial da inflação; aumento
das taxas de juro; um défice que continuaria a precisar de ser controlado; o
potencial desemprego de cerca de um milhão de escoceses que têm funções
relacionadas com a união. Para o lado do ‘sim’, o último grande apoio veio do
tenista escocês Andy Murray, a quem já se vinha pedindo uma tomada de posição
há semanas. Murray escreveu na rede social Twitter que esta quinta vai ser “um
grande dia para a Escócia”. Também Alex Salmond, primeiro-ministro da Escócia,
aproveitou as últimas horas da campanha para escrever uma carta aberta aos seus
cidadãos na qual refuta os argumentos apresentados pelos apoiantes do ‘não’,
classificando-os de “tática do medo”. “Para cada tática para meter medo, há uma
mensagem de esperança, oportunidade e possibilidade. A oportunidade do nosso
Parlamento ganhar reais poderes de criação de emprego, a possibilidade de
preservar o nosso querido Serviço Nacional de Saúde e a construção de uma
relação renovada de respeito e equidade com os nossos amigos e vizinhos da
restante união”, escreveu Salmond no site do seu partido, o Partido Nacional
Escocês. Esta quinta-feira marca o fim de um longo caminho, iniciado nos anos
1970, quando o Partido Nacional Escocês (SNP) conseguiu, pela primeira vez,
levantar o debate sobre a pertença da Escócia no Reino Unido, que dura há 307
anos, desde que James VI, rei da Escócia, se tornou também rei de Inglaterra
por Isabel I de Inglaterra não ter deixado herdeiros. O Guardian preparou este
vídeo para que as pessoas não-britânicas percebam exatamente o que se está a
passar na Escócia.
Campanha até ao último minuto
Este jornal inglês, à semelhança de quase todos os outros jornais, tomou
uma posição clara contra a independência da Escócia, argumentando que o Reino
Unido “merece uma segunda oportunidade” – uma posição que, aliás, mereceu a
desaprovação de vários jornalistas do Guardian, que não se reveem na posição
editorial do matutino. Mas a posição contra a independência foi assumida por
quase todos os meios de comunicação britânicos; apenas o Sunday Herald se
mostrou abertamente a favor. Assumir uma posição relativamente a questões desta
natureza é uma tradição dos meios de comunicação anglo-saxónicos, mas até isso
está a ser posto em causa numa campanha muito emotiva. “O facto de muitos
escoceses, criticados por todos os quadrantes como tolos, fraudes e ingratos,
terem-se recusado a ser intimidados é, por si só, um triunfo político. Se
votarem pela independência, fá-lo-ão desafiando não apenas o consenso de
Westminster mas também o dos seus apoiantes: as pessoas complacentes que alegam
falar em seu nome”. Foi desta forma, algo violenta, que George Monbiot,
jornalista do Guardian, demonstrou a sua oposição ao jornal para o qual
escreve. A intimidação de que fala sentiu-se ao longo de todo o processo
eleitoral, de parte a parte. Mas parecem ser os apoiantes do ‘não’ aqueles com
mais motivos de queixa. Segundo uma sondagem online feita para o BuzzFeed, 46%
das pessoas que se manifestaram contra a independência dizem ter sido ameaçadas
pessoalmente pela campanha do ‘sim’, enquanto apenas 24% dos ‘aye’ diz o mesmo
dos ‘nay’. A campanha faz-se até ao último minuto e recorrendo a todas as
táticas. Ainda agora, quando as votações já decorrem, estão montados stands à
porta de muitas assembleias de voto onde se distribuem autocolantes e outros
materiais propagandísticos – o Observador está junto a uma, em Edimburgo"