quinta-feira, setembro 18, 2014

Escócia. Sondagens aumentam dúvidas sobre futuro do Reino Unido



Segundo o Jornal I, "Too close to call." Era assim que ontem se definiam os resultados das últimas sondagens sobre o lado para que cairia o referendo à independência escocesa, que se realiza hoje, e que tinham no máximo quatro pontos de diferença entre os dois lados. No entanto, a tendência nos quatro estudos apresentados era sempre a mesma: a vitória do "não". A curta diferença de resultados levou o "sim" e o Better Together a reforçarem a campanha no último dia, com grandes marchas em Glasgow, que pretendiam convencer os indecisos, que acabam por ser a chave do desfecho do referendo, que, qualquer que seja o resultado, será histórico. Os apoiantes do sim à independência invadiram ontem em massa o centro de Glasgow, a Praça George, com os apoiantes da união a marcharem a uma curta distância, num último esforço inspirado pelas sondagens, embora se tema que os resultados não sejam fiáveis. O estudo da Ipsos-MORI, para a televisão STV, publicado ontem à tarde, dava 49% para o "sim" e 51% para o "não". A sondagem da Panelbase, divulgada de manhã, dava 48% ao "sim" e 52% ao "não", os mesmos valores do estudo do "Daily Telegraph", conhecido ainda na terça-feira. No entanto, os responsáveis das várias empresas temem que este referendo seja uma catástrofe para as próprias sondagens. Primeiro, porque não há um referendo semelhante para comparar resultados e, segundo, porque se admite que haja uma certa timidez dos escoceses em assumir o voto pelo "não", o que levaria a que a manutenção da ligação ao Reino Unido possa ter uma vitória mais expressiva do que os estudos previam ontem. Martin Boon, especialista em sondagens da ICM, disse esta semana à BBC que as empresas esperam conseguir "evitar a bala" e refere que o referendo pode mesmo representar um Waterloo das sondagens, o maior falhanço desde 1992, quando as previsões apontava para a vitória do trabalhista Neil Kinnock, mas John Major acabou eleito com uma margem de 7%. "Não seria uma surpresa, mas espero que as empresas acertem pelo menos na área do resultado final. O melhor que podemos esperar é escapar por pouco, mas é possível que sejamos atingidos em cheio." E Stephen Fischer, da Universidade de Oxford, no site da What Scotland Thinks, considerou também ser "provável que os números das sondagens nos jornais estejam a sobrestimar, e não a subestimar, o voto pela independência". No meio do clima de dúvida, Alex Salmond pedia aos escoceses para votarem e para se "esquecerem dos políticos", enquanto que Gordon Brown, escocês, apelava à história que há três séculos une as quatro nações: "Lutámos juntos em duas guerras mundiais. Não há um cemitério europeu onde um escocês, um gales, um irlandês e um inglês não estejam lado a lado e quando lutaram juntos não perguntaram de onde vinham". O trabalhista, ex-primeiro-ministro britânico, afirmou que "votar pelo não vai permitir que a mudança chegue mais depressa, seja mais segura e seja melhor". Por seu lado, David Cameron, sublinhou que este referendo não é sobre a sua governação, mas "sobre se a Escócia quer fazer ou não parte do Reino Unido". O líder do governo britânico admitiu estar nervoso com o resultado do referendo, porque o divórcio seria "doloroso". "peço-vos: não partam esta família. Não vai haver regresso impossível e isso significaria que deixaríamos de partilhar a mesma moeda, que as forças armadas que construímos em conjunto, ao longo de séculos, se iam separar. Sei que o campo do sim descreveu uma Escócia melhor a todos os níveis, mas quando uma coisa parece ser boa demais para ser verdade, esse é, normalmente, o caso". Cameron acrescentou ainda que não se arrepende de ter acedido a que o referendo fosse realizado: "Se não o fizesse, penso que o apoio à independência seria ainda maior". Com a certeza que depois deste referendo nem o Reino Unido, nem a União Europeia voltarão a ser os mesmos, os analistas admitiam que iam ser os residentes não escoceses e os indecisos, entre 8% e 14% dos votantes, a fazer a diferença. A Escócia tem uma população de cerca de pouco mais de cinco milhões de pessoas, sendo que 4,3 milhões serão chamados hoje a votar, incluindo cidadãos do resto do Reino Unido que residam no país, da União Europeia e da Commonwealth, enquanto que os cerca de 800 mil escoceses que residem no estrangeiro não poderão participar na consulta"