Segundo o Jornal I, "Too close to
call." Era assim que ontem se definiam os resultados das últimas sondagens
sobre o lado para que cairia o referendo à independência escocesa, que se
realiza hoje, e que tinham no máximo quatro pontos de diferença entre os dois
lados. No entanto, a tendência nos quatro estudos apresentados era sempre a
mesma: a vitória do "não". A curta diferença de resultados levou o
"sim" e o Better Together a reforçarem a campanha no último dia, com
grandes marchas em Glasgow, que pretendiam convencer os indecisos, que acabam
por ser a chave do desfecho do referendo, que, qualquer que seja o resultado,
será histórico. Os apoiantes do sim à independência invadiram ontem em massa o
centro de Glasgow, a Praça George, com os apoiantes da união a marcharem a uma
curta distância, num último esforço inspirado pelas sondagens, embora se tema
que os resultados não sejam fiáveis. O estudo da Ipsos-MORI, para a televisão
STV, publicado ontem à tarde, dava 49% para o "sim" e 51% para o
"não". A sondagem da Panelbase, divulgada de manhã, dava 48% ao
"sim" e 52% ao "não", os mesmos valores do estudo do
"Daily Telegraph", conhecido ainda na terça-feira. No entanto, os
responsáveis das várias empresas temem que este referendo seja uma catástrofe
para as próprias sondagens. Primeiro, porque não há um referendo semelhante
para comparar resultados e, segundo, porque se admite que haja uma certa
timidez dos escoceses em assumir o voto pelo "não", o que levaria a
que a manutenção da ligação ao Reino Unido possa ter uma vitória mais
expressiva do que os estudos previam ontem. Martin Boon, especialista em
sondagens da ICM, disse esta semana à BBC que as empresas esperam conseguir
"evitar a bala" e refere que o referendo pode mesmo representar um
Waterloo das sondagens, o maior falhanço desde 1992, quando as previsões
apontava para a vitória do trabalhista Neil Kinnock, mas John Major acabou
eleito com uma margem de 7%. "Não seria uma surpresa, mas espero que as
empresas acertem pelo menos na área do resultado final. O melhor que podemos
esperar é escapar por pouco, mas é possível que sejamos atingidos em
cheio." E Stephen Fischer, da Universidade de Oxford, no site da What
Scotland Thinks, considerou também ser "provável que os números das
sondagens nos jornais estejam a sobrestimar, e não a subestimar, o voto pela
independência". No meio do clima de dúvida, Alex Salmond pedia aos
escoceses para votarem e para se "esquecerem dos políticos", enquanto
que Gordon Brown, escocês, apelava à história que há três séculos une as quatro
nações: "Lutámos juntos em duas guerras mundiais. Não há um cemitério
europeu onde um escocês, um gales, um irlandês e um inglês não estejam lado a
lado e quando lutaram juntos não perguntaram de onde vinham". O
trabalhista, ex-primeiro-ministro britânico, afirmou que "votar pelo não
vai permitir que a mudança chegue mais depressa, seja mais segura e seja
melhor". Por seu lado, David Cameron, sublinhou que este referendo não é
sobre a sua governação, mas "sobre se a Escócia quer fazer ou não parte do
Reino Unido". O líder do governo britânico admitiu estar nervoso com o
resultado do referendo, porque o divórcio seria "doloroso". "peço-vos:
não partam esta família. Não vai haver regresso impossível e isso significaria
que deixaríamos de partilhar a mesma moeda, que as forças armadas que
construímos em conjunto, ao longo de séculos, se iam separar. Sei que o campo
do sim descreveu uma Escócia melhor a todos os níveis, mas quando uma coisa
parece ser boa demais para ser verdade, esse é, normalmente, o caso".
Cameron acrescentou ainda que não se arrepende de ter acedido a que o referendo
fosse realizado: "Se não o fizesse, penso que o apoio à independência
seria ainda maior". Com a certeza que depois deste referendo nem o Reino
Unido, nem a União Europeia voltarão a ser os mesmos, os analistas admitiam que
iam ser os residentes não escoceses e os indecisos, entre 8% e 14% dos votantes,
a fazer a diferença. A Escócia tem uma população de cerca de pouco mais de
cinco milhões de pessoas, sendo que 4,3 milhões serão chamados hoje a votar,
incluindo cidadãos do resto do Reino Unido que residam no país, da União
Europeia e da Commonwealth, enquanto que os cerca de 800 mil escoceses que
residem no estrangeiro não poderão participar na consulta"