Li no Observador que “Berwick-upon-Tweed é uma pequena
vila inglesa, a mais setentrional de todas, situada a apenas três quilómetros
da Escócia. Segundo o Wall Street Journal, os habitantes desta localidade estão
mesmo à beira do debate da independência escocesa e no centro da crise
identitária da Grã-Bretanha. Ao longo da sua história, Berwick-Upon-Tweed trocou
entre a Inglaterra e a Escócia, alternadamente, num total de 13 vezes, tendo
passado para o lado inglês no século XV. Mas no dia-a-dia dos habitantes não há
grandes diferenças. A equipa de futebol local pertence à Liga Escocesa. Quando
as equipas escocesas jogam contra Berwick-Upon-Tweed e os jogadores irritam-se
com aqueles a quem chamam “os sacanas dos ingleses”, John Bell, dos Berwick
Rangers, não percebe porquê. Afinal, muitos dos jogadores são escoceses, diz ao
Wall Street Journal. Os cerca de 13 mil residentes de Berwick-Upon-Tweed
deslocam-se frequentemente ao outro lado, sendo que alguns nasceram nos
hospitais escoceses e muitos acabam por ser cremados na Escócia. No referendo
de quinta-feira, os habitantes de Berwick não podem votar, uma vez que são
ingleses, e apesar de estarem divididos quanto à independência da Escócia,
concordam num ponto. Também eles se sentem alienados dos políticos de Londres e
da sua visão do Reino Unido. Ao jornal norte-americano, um historiador local
disse que a campanha levantou questões entre os cidadãos sobre o que é
exatamente a nacionalidade. Para exemplificar o que quer dizer, Jim Herbert diz
que não tem vergonha de ser britânico, mas que tem orgulho em ser da região de
Northumberland. Alan Beith, que representa Berwick no Parlamento do Reino
Unido, teme que uma “cortina de xadrez tartã” se imponha entre a Escócia e a
Inglaterra caso o “Sim” saia vitorioso, o que dificultaria as deslocações dos
residentes ao novo país para procurar tratamento nos hospitais escoceses ou
para comprar uma casa do outro lado da fronteira. Mas, como revela o Wall
Street Journal, alguns habitantes estão a aproveitar as oportunidades que este
momento histórico lhes propicia. Como David Blackburn, um vendedor de gelados
que espera atrair mais turistas. Blackburn criou, inclusive, a Frente Popular
para a Libertação de Berwick. O objetivo? Trata-se de um golpe publicitário
para atrair atenção mediática internacional, disse o vendedor de 60 anos ao
jornal norte-americano. E depois, quem sabe, “invadir a Guildhall and the
Greggs”, uma padaria local. Talvez Blackburn esteja certo relativamente quanto
à possibilidade de atrair os meios de comunicação internacionais. Nas últimas
semanas, Berwick já recebeu jornalistas franceses, holandeses e alemães – todos
queriam saber a opinião dos locais quanto ao referendo. E Jim Herbert, o
historiador, deverá aparecer este fim de semana num programa na televisão
chinesa. Mas não percebe porquê. “Não temos nenhum poder de decisão”, disse
Herbert ao Wall Street Journal. E se no dia 18 a Escócia disser que “Sim” à
independência? O que acontece aos Berwick Rangers? Serão expulsos da Liga
Escocesa? John Bell ainda não fez nenhum contacto oficial para perceber como
poderia resolver esta situação. “Se isso acontecer teremos de jogar noutro
sítio qualquer”, diz”