terça-feira, dezembro 17, 2013

Kim Jong-un reaparece em público enquanto são apagados arquivos

Segundo o Público, num texto da jornalista Maria João Guimarães, "o  líder norte-coreano estará a construir o seu próprio círculo de influentes, promovendo líderes civis em detrimento dos militares.Depois de ter estado ausente de cerimónias públicas durante mais de duas semanas, o líder norte-coreano Kim Jong-un reapareceu numa série de visitas, abrindo o caminho para as cerimónias desta terça-feira, que assinalaram o aniversário da morte do seu pai, há dois anos. O reaparecimento de Kim acontece na semana seguinte à execução do seu tio e mentor, Jang Song Taek, uma acção inédita nas últimas décadas de poder da família Kim. Normalmente, os membros do regime eram afastados discretamente – e alguns até voltavam a cargos importantes (isso aconteceu até com o próprio Jang, no tempo do pai do actual líder). E seria preciso recuar muito para encontrar um afastamento de um membro da família, muito menos uma execução. Vários sinais se têm vindo a somar de uma atitude especialmente dura de Kim Jong-un, dureza quem nem no seu avô, fundador do estado e da dinastia, nem no seu pai tinham sido vistas. A revista Foreign Policy publica uma fotografia do funeral de Kim Jong-il com sete conselheiros a acompanhar, junto de Kim Jong-un, o carro fúnebre do pai. Em menos de dois anos do mais jovem Kim no poder, só dois restam. Seis foram afastados ou despromovidos, e outro foi muito publicamente acusado de uma série de crimes, de traição e infidelidade, e executado por pelotão de fuzilamento. Acompanhando a dimensão do gesto que foi o fuzilamento do tio (e a raríssima implícita admissão de que mesmo uma pessoa de um escalão tão alto podia falhar), observadores notaram uma limpeza em grande escala dos arquivos dos media estatais. O retirar do tio executado de imagens oficiais tinha já começado a ser feito, mas o que foi entretanto relatado é algo muito diferente: os media estatais retiraram praticamente todos os arquivos online desde a execução de Jang. Nunca antes a agência oficial KCNA nem o jornal Rodong Sinmun tinham apagado tantos artigos, nota o diário britânico The Guardian. Não era claro, acrescentava o jornal, se foram retirados para sempre, ou se reaparecerão, provavelmente editados. O NK News, um site dedicado à Coreia do Norte, foi quem notou a acção. “Havia 35 mil artigos datados de 2013 ou de antes, na KCNA, em coreano. Mesmo se deixaram alguns, apagaram 98% a 99% destes artigos”, explicou um programador. No passado, tinha já acontecido desaparecerem 20 ou 30 artigos. “Mas nada com esta escala”, declarou o fundador do NK News, Chad O'Carroll. “Vai ser interessante ver se continuam apagados.” Durante o fim-de-semana e na segunda-feira, os media estatais repetiam fotografias de Kim em várias deslocações de “orientação” na capital, Pyongyang. Mas, sob o sorriso do líder, a especulação sobre o que será o seu estilo de mandar fervilhava. Analistas consideram que mandar matar o tio foi uma decisão arriscada. Mais ainda se somada ao afastamento de outros quatro dos seus conselheiros, a maioria militares (restaram dois de 80 anos, que não serão vistos como uma ameaça). Analistas notam que Kim está a construir o seu próprio círculo, deixando de lado o velho, e fazendo subir líderes das fileiras civis do partido em detrimento dos militares. Resta saber se essa será uma sábia escolha. No artigo na Foreign Policy, Nicholas Ebersadt, do American Enterprise Institute, questiona se terá o jovem líder (estima-se que tenha 30 anos) noção do radicalismo e implicações das suas acções. E, mesmo que tenha, num país já conhecido por provocações (que Kim também elevou, com um terceiro teste nuclear e ameaças à Coreia do Sul), quem será o conselheiro que, arriscando-se a ser considerado traidor, ousará questionar uma decisão de Kim?, pergunta Eberstadt"