Escreve a jornalista do Jornal I Sílvia Caneco, que “o então consultor jurídico da PT, que reportava directamente a Rui Pedro Soares, foi ouvido na fase de inquérito pela procuradora Teresa Almeida, mas escapou a uma acusação porque a intervenção que terá tido junto dos administradores executivos do Taguspark terá sido apenas de “secretário qualificado” e de “mero mensageiro”. A contribuição de Penedos não era “nem indispensável nem determinante para a concretização do negócio”, concluiu o Ministério Público. Porém, a proximidade profissional e partidária a Rui Pedro Soares, um dos três arguidos do processo, transformou-o na principal testemunha de acusação. Ouvido na fase de inquérito, não foi tão taxativo como em julgamento: não disse com todas as letras que a Taguspark tinha sido utilizada para que a campanha de Sócrates contasse com o apoio de Figo, mas esteve longe de passar um atestado de inocência aos visados. O apoio ao PS Segundo a acusação, Rui Pedro Soares terá pedido a Penedos que elaborasse uma minuta de contrato de cedência de direitos de imagem a 10 de Junho de 2009 e esse contrato terá sido assinado a 1 de Agosto. Uma semana depois, Figo deu uma entrevista ao “Diário Económico” a expressar apoio a Sócrates. A 25 de Setembro foi filmado para o vídeo promocional do Taguspark, vídeo que só viria a ser divulgado a 15 de Fevereiro de 2010, data em que foram feitas as buscas no pólo tecnológico. Questionado sobre a entrevista do ex-futebolista ao “Diário Económico”, Penedos acabaria por estabelecer uma relação com o apoio ao PS. Disse à procuradora lembrar-se de que Rui Pedro Soares lhe tinha falado de uma entrevista de Figo “na altura certa”. Acrescentou ainda saber que como o apoio de Figo na entrevista àquele jornal não tinha “sido expressamente um sentido de voto”, o PS viria a tomar diligências “para que houvesse na fase final da campanha uma evidência mais clara desse apoio”. Recorde-se que a 25 de Setembro, último dia da campanha eleitoral, Figo tomou um pequeno-almoço público com o líder do PS.
Escutas telefónicas
Embora em julgamento tenha dito várias vezes não conseguir traçar uma linha do tempo, o cruzamento entre as declarações na fase de inquérito e as escutas telefónicas evidencia que o contrato com a Taguspark terá sido posterior à decisão de Figo de apoiar o Partido Socialista. Numa das escutas telefónicas, Penedos conta que Rui Pedro Soares estava muito contente por ter conseguido que Figo apoiasse Sócrates, e que depois lhe teria ligado a pedir que elaborasse um contrato de patrocínio para a Fundação Luís Figo, por 250 mil euros por ano. Penedos viria a confirmá-lo no inquérito, quando diz que foi sondado por Rui Pedro Soares para preparar uma minuta uns dias depois de este lhe ter falado do apoio de Luís Figo na campanha para as legislativas.
O caminho parecia ser outro
Paulo Penedos começou por dizer no Tribunal de Oeiras não acreditar que figuras como Luís Figo dessem apoio partidário pro bono. Recusou a deixa lançada pelo procurador Luís Eloy, sobre o facto de em Espanha Figo ser chamado “Pesetero”, mas viria a repetir que, ao contrário de Rosa Mota ou Carlos Lopes, que terão apoiado Mário Soares sem qualquer contrapartida, não acreditava que Luís Figo fizesse o mesmo. “Não acredito que Luís Figo se tenha um dia levantado de manhã e decidido apoiar alguém”, afirmou. Tudo parecia encaminhado para que o homem que deu origem ao Processo Taguspark – por ter sido apanhado nas escutas telefónicas do Processo Face Oculta a falar sobre o caso – apoiasse as suspeitas do Ministério Público: ou seja, que haveria uma relação entre o contrato de cedência de imagem de Figo ao Taguspark por 750 mil euros e o apoio que o ex-futebolista deu a José Sócrates na campanha para as legislativas de 2009. Mas a resposta foi outra.
Uma no cravo outra na ferradura
Interrogado sobre se essa afirmação significava que Luís Figo tinha tido contrapartidas para apoiar o PS, Penedos negou, dizendo ter a certeza de que uma coisa não era consequência da outra. “Quando alertei o Rui Pedro Soares para a confusão que essa relação poderia causar, essa relação foi-me negada categoricamente”, afirmou. Questionado sobre se sabia estar a ser celebrado um contrato com o Figo e ao mesmo tempo estar a ser prestado apoio ao PS, Paulo Penedos respondeu que “essa concomitância só soube depois”. E voltou a descartar a hipótese de uma coisa ser contrapartida da outra. À saída da sessão, questionado pelo i sobre se as suas declarações não tinham ilibado os três arguidos do processo, respondeu apenas: “Não me compete a mim julgar isso.”
Escutas telefónicas
Confrontado com a conversa telefónica que teve com Marcos Perestrello, então membro do secretariado do PS, a 10 de Junho de 2009, em que terá usado a expressão “pornográfica” a propósito do encontro de Rui Pedro Soares e Figo em Milão, Penedos esclareceu que o que achava pornográfico era o valor do contrato (750 mil euros). “Achava que era um disparate total e por isso é que disse que era pornográfico. Se me dissessem que o George Clooney ia fazer uma campanha para o Taguspark não achava caro, agora o Figo acho.” O procurador insistiu: “Então quando diz que a coisa era pornográfica não estava a falar de apoio partidário?” E Penedos respondeu: “O valor é que sim, o contrato não tinha nada de pornográfico.” Questionado sobre o porquê de não ter dito a Perestrello que já tinha avisado que aquilo podia “dar asneira”, limitou-se a afirmar que “uma pessoa quando está a ser escutada não está a falar para o Diário da República”. Ficou por explicar a escuta telefónica de 9 de Junho, à noite, com Rui Pedro Soares. Nessa conversa, Rui Pedro Soares dizia que estavam a ser feitas quatro coisas, mas era necessário fazer um contrato para que Figo fosse a imagem do Taguspark. Soares acrescentava que até Thomati já tinha entrado no espírito, acrescentando que deveria ter pensado o mesmo que eles naquela segunda de manhã. Nessa segunda-feira era notícia a derrota estrondosa do PS nas Europeias. “Vitória do PSD faz tremer Sócrates” era uma das manchetes do dia”