sábado, fevereiro 23, 2013

Os dias do fim de Sócrates contados por Mário Soares

Segundo o Sol, “José Sócrates festejou a derrota de Manuel Alegre nas presidenciais de 2011 e estava a ponderar uma aliança com o PSD, pouco tempo antes de os sociais-democratas chumbarem o PEC IV. São factos revelados por Mário Soares em entrevistas a Joaquim Vieira, autor da biografia Mário Soares – Uma Vida, ontem posta à venda. A euforia de Sócrates com a derrota nas presidenciais de 23 de Janeiro de 2011 chocou Soares, apesar de este estar então de relações cortadas com Alegre. O antigo Presidente da República recorda a conversa com Sócrates nestes termos: «No dia seguinte à vitória do Cavaco, chamou-me lá [à residência oficial]. Eu chego e o gajo estava radiante, bem-disposto. E a primeira coisa que diz foi: ‘Ó Mário, acabámos com aquele [insulto]’. E eu disse: ‘Eh pá, não gosto disso». Na ocasião Soares também desaprovou a nova táctica do primeiro-ministro, que após celebrar a derrota definitiva do rival planeava «uma grande aproximação aos gajos do PSD». O fundador do PS entendeu que o chefe do Governo já não tinha estratégia e navegava à vista. «‘Ó Sócrates, eu acho que você tem grandes méritos. Mas não pode continuar a fazer buracos, porque você anda a tapar buracos».
Em relação à crise, Sócrates manteve-se em negação. «Não percebeu a crise senão no fim, ou quase no fim», conta Soares, referindo-se a mais uma conversa tida em S. Bento. «Estive toda a manhã a discutir com ele. Nunca o vi tão irritado, não comigo mas com a situação. Não queria por força que viesse a coisa [o resgate internacional]».
O livro de 851 páginas, editado pela Esfera dos Livros, conta os mais de 70 anos de vida política de Soares. Nas conversas entre o autor e o biografado mantém-se «o tom desabrido, com recurso ao calão e até, ocasionalmente, ao vernáculo com que o fundador do PS falou». Joaquim Vieira explica que decidiu não alterar a «linguagem habitualmente praticada por Soares no quotidiano».
As presidenciais são capítulos férteis em revelações. Nas últimas em que Soares se candidatou, contra Cavaco Silva, em 2006, o socialista conta que foi incentivado a avançar por diversas figuras da esquerda. Como Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, o dirigente do PCP Domingos Abrantes e o líder do BE, Francisco Louçã. «Procuraram-me, separadamente, claro, por diversas vezes, na Fundação [Mário Soares], para me incitar a candidatar-me, embora me dissessem sempre que na primeira volta apresentariam candidatos próprios». Soares avançou também porque achava Alegre inapto para candidato oficial do PS. «Sócrates nunca gostou do Alegre, e eu achava que ele não tinha nenhuma espécie de condições para ser Presidente. Eu posso ser amigo de um tipo, mas não quer dizer que apoie as asneiras que faça», explica”.