domingo, fevereiro 24, 2013

As coisas não correram como eles previam: 2012 não marcou o fim da crise

Segundo a jornalistra do Jornal I, Ana Sá Lopes, “o mundo mudou desde que, em Novembro de 2011, o governo jurava que haveria crescimento em 2013 e 2012 seria o ano-chave para o fim da crise. Para o ministro das Finanças, “2012 será o ano crucial para que a economia volte a crescer em 2013”. Este é o lead de uma notícia antiga – aquela que foi feita a propósito da intervenção de Vítor Gaspar na 7ª Conferência Anual da Ordem dos Economistas, em Novembro de 2011. O problema com este género de notícias antigas é que parecem vindas do outro mundo. É também o caso de uma notícia não tão antiga assim – afinal, data do Verão do ano passado – quando, na euforia de uma festa de Verão do PSD no Algarve, o primeiro-ministro anunciou que “2013 será o ano da inversão na actividade económica”. A famosa “inversão” deixou de constar nas previsões do governo e é para evitar a implosão total que Vítor Gaspar anunciou agora que vai pedir mais um ano à troika.
Não foi o mesmo Vítor Gaspar que ontem se penitenciou relativamente aos fantasmas das previsões passadas que nesse longínquo Novembro de 2011 dizia que “o nível da actividade económica irá recuperar em 2013 e a taxa de desemprego começará a descer”. E até aquilo que hoje parece uma alucinação: “2012 aparecerá como a antecâmara da recuperação económica”. Ou outra alucinação, à luz dos conhecimentos hoje adquiridos: “Neste momento não há qualquer necessidade de medidas adicionais de austeridade”. Por essa altura também o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, mostrava em toda a pujança o seu optimismo com as previsões governamentais naquele tempo: “2012 irá marcar o fim da crise e será o ano da retoma para o crescimento de 2013 e 2014”.
Estas contradições entre aquilo que o governo esperava dos indicadores económicos e aquilo que efectivamente aconteceu foram ontem naturalmente evocadas pela oposição. O líder parlamentar do PS desafiou o primeiro-ministro a “dar a cara” pelo “falhanço” das previsões. “Falharam e, por isso, é necessário retirarem todas as consequências disso. O Partido Socialista marcou um debate de urgência. Porque há outro caminho e há uma alternativa”, afirmou Carlos Zorrinho. “Em nome da democracia, o senhor primeiro-ministro vai-se esconder de novo, não vai, mais uma vez, dar a cara pelo falhanço das vossas políticas? Ou, pelo contrário, o senhor primeiro-ministro, terá a dignidade de estar aqui neste parlamento para se comprometer em inverter a política e para se comprometer para que não haja mais nenhuma medida de austeridade e nenhuma medida pró-cíclica neste governo que possa continuar a afundar Portugal como tem estado a ser afundado?”, perguntou Zorrinho em desafio ao governo.
Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, afirmou, relativamente aos números divulgados ontem: “Não foi uma derrapagem, foi um trambolhão para o dobro”, trambolhão que faz com que “as previsões do Banco de Portugal” fiquem agora “mais optimistas do que as do governo”. O PCP afirmou que o governo acabou, ao contrário do que sempre defendeu, a recorrer a uma reestruturação parcial da dívida: “É evidente que, politicamente, a reestruturação parcial da dívida tem como contrapartida um corte adicional de 4 mil milhões sobre o qual o senhor, infelizmente, perante esta casa, continua a não se querer alongar, nem em termos gerais, lamentavelmente”, disse o deputado Honório Novo, dirigindo-se ao ministro das Finanças”