Temo que os 40 anos do 25 de Abril, que pouco ou nada diferem dos 20 ou dos 30 anos, se transformem numa espécie de realização telenovelesca, pensada e executada por muito oportunismo político à mistura - ainda por cima inserida no quadro de uma contestação social e política que uma certa esquerda precisa muito de hipervalorizar e incentivar, até por estarmos me vésperas de eleições... - e assente em pilares construídos sobre um saudosismo doentio que nos dias que correm, de profunda crise e de austeridade, não diz rigorosamente nada à sociedade portuguesa, aos nossos jovens, aos nossos idosos, aos nossos desempregados, aos portugueses em geral. Isto nada tem a ver com a importância do 25 de Abril. Eu até sou daqueles que nem aceito que se questione os méritos libertadores e democráticos da revolução portuguesa. E nem sequer discuto a influência que o 25 de Abril teve para a autonomia regional da Madeira e dos Açores - sem a revolução provavelmente não tínhamos chegado onde chegamos, com o nossos erros e decisões porventura mal pensadas - para o poder local e para a dignificação de um povo e de um país.