Futebolista tem vindo a preparar futuro fora dos relvados com carteira diversificada de participações em empresas. As áreas envolvidas são muito variadas: cristais e porcelanas, jornais, revistas e canais de televisão, hotéis e edifícios para habitação, clínicas de implantes capilares, águas, ginásios, roupa interior. Cristais e porcelanas, jornais, revistas e canais de televisão, hotéis e edifícios para habitação, clínicas de implantes capilares, águas, ginásios, roupa interior. O império empresarial de Cristiano Ronaldo (ou CR7, como é também conhecido) vai engrossando à medida que a sua conta bancária aumenta com o ordenado milionário que recebe do Al-Nassr, o clube saudita que o contratou no final de 2022.
São €200 milhões por temporada, que incluem salário, direitos de imagem e acordos comerciais, num contrato que vai até junho de 2025, mas que poderá ser renovado até junho de 2026, a tempo de o jogador, hoje com 39 anos, ainda participar no Mundial de 2026, que se realiza no Canadá, Estados Unidos da América (EUA) e México. A hipótese de CR7 ainda vir a representar Portugal após o Euro 2024 foi deixada em aberto pelo selecionador nacional, Roberto Martínez, na semana passada.
O próprio CR7 não fecha a porta a continuar a representar a seleção portuguesa. Em entrevista ao Now, canal de notícias da Medialivre (ex-Cofina Media, que detém o “Correio da Manhã” e a CMTV, entre outros meios, e da qual o jogador passou a ter 30%), disse: “O que quero é poder ajudar a seleção”, aludindo à Liga das Nações, cuja fase final decorre na primeira semana de junho de 2025, e à fase de qualificação para o Mundial.
E à medida que se aproxima o fim da sua carreira futebolística, os sinais de que Ronaldo terá uma vida preenchida no mundo dos negócios não param de se avolumar. O jogador, questionado sobre o seu futuro após ‘pendurar as chuteiras’, disse que não se vê a seguir uma carreira de treinador. “Vejo-me a fazer outras coisas fora do futebol, mas o futuro só Deus sabe”, afirmou na entrevista ao Now. “Como vocês sabem, tenho investimentos em várias áreas e aquilo que mais quero é continuar”, adiantou.
É uma máquina a jogar à bola e é também uma máquina a fazer dinheiro, como o comprova o lançamento do seu canal de YouTube, UR Cristiano (lê-se “you are Cristiano”, ou seja, “tu és Cristiano”), a 21 de agosto: tornou-se o canal de YouTube que mais depressa atingiu um milhão de subscritores e até ao fecho desta edição já superava os 50 milhões.
CR7 S.A. 99,9% DE CRISTIANO RONALDO
Dados públicos consultados pelo Expresso mostram que há 12 empresas onde o futebolista e investidor tem pelo menos 50% do capital, a maioria criada recentemente (sete têm menos de dois anos de atividade). Mais do que duplicou o número de organizações em que é maioritário neste período.
Depois existem outras nove empresas em que a empresa-mãe de Cristiano, a CR7 SA, tem participações menores. Aqui, a sua posição varia entre os 0,01% na alemã MPN Marketplace Network até aos 33% na Insparya International. No total, a holding agrega posições em 21 companhias diferentes.
No ano passado, a CR7 SA obteve um lucro de mais de €640 mil, uma queda face aos €899 mil registados em 2022. Nestes dois anos foi interrompida uma série de pelo menos três anos com prejuízos acumulados de quase €300 mil.
Em muitas destas organizações os dados contabilísticos não foram ainda divulgados, uma vez que têm pouco tempo de existência. De todas as empresas em que detém pelo menos 50%, a imobiliária Ponta de Lança, com sede no Funchal, é a mais antiga, e teve um prejuízo de mais de €115 mil no ano passado.
No universo da CR7 SA, o ativo total registado em 2023 ascendia a €88,5 milhões, suportado principalmente pelos investimentos financeiros (€74 milhões) e pelo dinheiro em caixa (€14,7 milhões).
FUTURO RISONHO
Até onde pode este império crescer? Até onde Cristiano quiser, responde-nos Daniel Sá, diretor executivo do IPAM — Instituto Português de Administração de Marketing. A marca CR7 é planetária e não se esgota na presença de Ronaldo nos relvados, bem pelo contrário.
O IPAM começou a acompanhar a marca CR7 quando o jogador estava no Real Madrid e interrompeu essa análise em 2018. Em 2011, data da primeira edição do estudo, o valor era de €24,5 milhões, em 2017 estava nos €120 milhões e numa prospeção feita no final de 2022 já ultrapassaria os €200 milhões.
“Estamos a assistir desde 2022 à entrada num ciclo diferente, uma transição do modelo de negócio a partir do momento em que Cristiano Ronaldo vai para a Arábia Saudita, a preparação do momento em que vai deixar os relvados”, explica o especialista, autor do livro “Marketing Desportivo — Mais do que um Jogo”.
EMPRESA DE RONALDO LUCRA MAIS DE €1,5 MILHÕES EM DOIS ANOS
Resultado líquido da CR7 SA, em euros
Considerando que CR7 “é o maior exemplo do mundo ao nível da maximização de receitas” no contexto desportivo, Daniel Sá lembra que a marca está registada e considera que a duração do grupo empresarial que está a ser construído depende da vontade do jogador. “Poderá durar para sempre se ele assim o entender, chegou a um patamar tão alto que é conhecido em todo o mundo. Quando deixar de aparecer na televisão a jogar futebol, a visibilidade irá desaparecer, mas o conjunto de participações que tem vai levar a que a marca continue a ser determinante, ajudando a promover os negócios”, acrescenta
As duas facetas cruzam-se. O universo empresarial beneficia naturalmente da marca, e por isso é de esperar que CR7 vá continuando a aparecer a dar a cara por algumas empresas. A novidade é que tenderão a ser marcas nas quais investe. Ao longo dos últimos anos foi possível vê-lo em anúncios da Nike (com a qual tem um contrato milionário vitalício) ou dos champôs Linic, mas também marcas tão variadas como Armani, Tag Heuer, Louis Vuitton, Herbalife, PokerStars, Samsung e ainda a portuguesa Meo, da Altice.
Deu também a cara por roupa interior e perfumes da sua marca, CR7. Mais recentemente, o seu rosto começou a ser visto a representar empresas das quais o próprio se tornou acionista. Aconteceu com as clínicas Insparya, por exemplo.
Mas algumas das campanhas em que participou não correram de feição. É o caso da publicidade à Binance, uma das maiores empresas de criptomoedas do mundo, com origem na China, que o levou a tribunal nos EUA, num processo em que os queixosos exigem uma indemnização total de €915 milhões. De acordo com a BBC, a entrada de CR7 na Binance fez disparar a procura pelos produtos em 500%, tendo originado grandes perdas financeiras. O processo abriu uma semana depois de a justiça norte-americana ter multado a Binance em €3,9 mil milhões por, alegadamente, facilitar a movimentação de dinheiro entre criminosos e terroristas. O fundador da empresa foi obrigado a afastar-se.
Daniel Sá acredita que os clubes desportivos têm ainda um longo caminho de receitas por explorar, que também pode ser seguido pelos próprios desportistas. “Um clube de futebol tem três fontes de receitas: direitos de transmissão de TV, bilhetes e patrocínios. O modelo de negócio está perto do fim, o grande potencial está fora do futebol, nos centros de entretenimento. Podemos vir a ter, por exemplo, um crédito de habitação do Real Madrid, ou uma casa do Sporting, ou ainda um automóvel da marca CR7. O mercado está todo por explorar, ainda só vimos um bocadinho do que o futuro nos reserva.”
E CR7 está bem lançado para aproveitar este novo mundo. “Ele soube muito bem profissionalizar os seus investimentos”, conclui o especialista em marketing desportivo. O Expresso tentou falar com os representantes de Cristiano Ronaldo na área empresarial, mas não obteve qualquer resposta (Expresso, texto dos jornalistas Diogo Cavaleiro, Gonçalo Almeida, Pedro Lima e Jaime Figueiredo)
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