sábado, agosto 26, 2023

Jornal "A Bola" inicia rescisões amigáveis e não afasta despedimentos

O novo dono do desportivo “A Bola”, o grupo suíço Ringier, deverá começar em breve a propor aos trabalhadores do jornal rescisões amigáveis. E não afasta outras medidas como despedimentos na reestruturação. O jornal desportivo “A Bola” prepara-se para iniciar um processo de rescisões amigáveis e não afasta despedimentos mais à frente. Depois da aquisição em junho do jornal e da revista AutoFoco pela Ringier Sports Media Group (RSMG), a empresa suíça de media e de comércio digital deverá começar a contactar trabalhadores do meio de comunicação nos próximos dias, propondo-lhes a saída dos quadros, soube o Expresso.

Contactado pelo Expresso, o RSMG diz que, num encontro com trabalhadores em junho após a aquisição, “os colegas de ”A Bola" foram informados sobre os desafios iminentes e a necessidade de mudanças para manter o seu estatuto de líder dos media desportivos". O grupo suíço garante que “está empenhado em preservar o seu legado enquanto garante o seu futuro. E mudanças são inevitáveis para este propósito”.

Interrogados sobre se admite a possibilidade de despedimentos, a Ringier não as confirma, mas também não as exclui: "O RSMG pretende estabelecer uma base sólida para o crescimento sustentável de A Bola e potenciar a sua presença digital (…) Embora não possamos partilhar mais detalhes devido à complexidade contínua dos processos de avaliação e tomada de decisão, asseguramos que toda a equipa de ”A Bola" será informada em primeiro lugar, assim que as decisões forem tomadas".

Ao Expresso, Luís Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas (e jornalista d'"A Bola") diz não ter informação oficial, mas que “o sindicato está a acompanhar a situação” e que agendaram uma reunião com a administração depois de “relatos de trabalhadores preocupados”. E diz “acreditar que querem contar com a vitalidade, experiência e conhecimento acumulado de quem trabalha há muito num jornal de referência”.

AVALIAÇÃO ANTES DE RESCISÕES

A provocar particular apreensão na redação está uma avaliação, feita no fim de julho, com base em questionários automatizados, quando já circulava a possibilidade de redução dos quadros de pessoal.

Este assessment foi feito com base em ferramentas como a SHL TalentCentral, uma plataforma digital de avaliação e gestão de quadros. O questionário implicou testes de raciocínio e de personalidade, e desafios práticos como redação de notícias ou concepção de conteúdos audiovisuais.

A avaliação incluía também uma entrevista final, que poderia ser feita, consoante a escolha do trabalhador, com um avaliador humano por videochamada ou automatizado. A redação teme que os resultados de um sistema de avaliação parcialmente assente em Inteligência Artificial (IA) sirvam para sustentar decisões sobre quem deve ficar e sair no jornal.

O RSMG recusa liminarmente essa ideia: "Gostaríamos de salientar que o assessment em curso de toda a equipa de A Bola NÃO se baseia no uso de ferramentas de Inteligência Artificial, mas sim em ferramentas comprovadas de avaliação de recursos humanos e gestão”.

SINERGIAS ENTRE MEIOS

O Ringier AG, dono da subsidiária RSMG, é um grupo suíço com meios de comunicação, plataformas de venda de bilhetes, e sites de classificados no seu portefólio. Segundo a página da empresa, está presente em 19 países na Europa e em África através de 140 empresas, e emprega 6400 trabalhadores. O grupo entrou em Portugal este ano através da aquisição dos títulos “A Bola” (que inclui o diário em papel, o site do jornal, e o canal de televisão "A Bola TV") e a revista para o setor automóvel “AutoFoco”.

Segundo dados do portal da Transparência da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), o anterior dono, a Sociedade Vicra Desportiva, é uma entidade controlada em 90,2% pela Vicontrol SGPS, uma empresa de Mário Jorge de Melo Arga e Lima, líder do conselho de administração.

O passivo da Sociedade Vicra Desportiva ascendia, em 2021, aos 14,6 milhões de euros; tendo registado receitas de 8,7 milhões de euros e lucros de 356,7 mil euros.

Após a compra, “o RSMG pretende estabelecer uma base sólida para o crescimento sustentável de ”A Bola" e potenciar a sua presença digital. O nosso newsroom [redação] integrado vai unir estratégias de conteúdo para jornal, digital e televisão, visando uma maior e mais capaz sinergia", frisam ao Expresso (Expresso, texto do jornalista Pedro Carreira Garcia)

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