Julgo que a direita
portuguesa, melhor dizendo a área ideológica do centro-direita, atravessa um
problema grave de identidade e de afirmação social e eleitoral. Quando
assistimos a proliferação de novos partidos, ainda sem expressão eleitoral e
pouco conhecidos, e por isso sem que possamos ter sobre eles qualquer opinião
ou perspectiva do que possam valer, isso significa que há claramente uma crise
de identidade e que há partidos que deixaram - ou correm esse risco - de ocupar
um espaço social e eleitoral que aparentemente lhes pertencia.
Se em Portugal a
confusão e a degradação de valores e princípios ideológicos no centro-direita
começou com essa essa idiotice que meter no mesmo caso europeu (Partido Popular
Europeu) dois partidos diferentes, e prosseguiu com essa patética coligação
protofascista Passos-Portas que não apenas ridicularizou a política como
ofendeu a nossa inteligência, na medida em que CDS e PSD - apesar de próximos
espacialmente, porque situados no centro-direita onde para além deles não
existia mais nada, e só por isso - têm programa, valores e princípios
diferentes, incluindo um discurso político que até em termos do seu conteúdo
não se pode confundir, ou melhor dizendo, não se podia confundir.
Esta progressiva
perda da identidade do PSD - graças a uma corja de bandalhos que ofenderam e
distorceram o legado dos fundadores do PSD e o transformaram num "albergue
espanhol" (nota para evitar confusões: "Era frequente nos albergues
espanhóis reinar grande confusão, portanto, havia muita falta de organização e
uma grande barafunda. Ser um albergue espanhol onde impera a barafunda, a
confusão...") onde toda a trampa e oportunismo saloio e hipócrita cabe -
levou a que a área ideológica do centro-direita se fosse desfazendo aos poucos,
atingindo de uma forma mais directa o PSD - muito menos o CDS - com o aparecimento
de novos projectos de partidos cujo sucesso estará ainda por avaliar (e neste quadro
lembro-se do ex-PRD associado a Ramalho Eanes, partido que acabou por ter uma existência
efémera, sobretudo quando as pessoas perceberam que deixou de fazer sentido, se
é que alguma vez fez sentido no espectro partidário nacional já que na
realidade tratou-se de um projecto de poder pessoal sem bases seguras para
existir).
A Aliança de Santana
A Aliança de
Santana Lopes - figura emblemática do PSD, polémica e muito raramente levada a
sério – pode constituir uma ameaça ao PSD e ao CDS, mas sobretudo porque podem
entrar na imensa multidão de eleitores flutuantes, sem vínculo partidário certo,
e que variam o seu sentido de voto em função da conjuntura e da conjugação de
vários factores que mudam de eleição para eleição. A Aliança, dizem alguns especialistas
no fenómeno eleitoral pode vir a revelar-se uma surpresa, também pelo espaço mediático
que é garantido (estranhamente) por uma certa comunicação social que acha que
Santana Lopes é uma referência da política nacional, quando não é nem nunca
foi. Tal como Marcelo foi Presidente a reboque da comunicação social e do
vergonhoso espaço de opinião onde apenas imperava a sua opinião, sem contraditório,
e onde a invenção, a ficção (muitas vezes mentirosa e...) especulativa se cruzava
com opiniões pessoais e alguns factos verídicos, também Santana aposta neste
domínio, apesar do seu discurso redondo, sem conteúdo, vago, disperso e insonso,
já que se trata do político que (por ser o vice de Barroso no PSD, quando este
abandonou o governo para ir para Bruxelas) viria a estar na origem da ascensão
do “socratismo” e com este à falência do
país e à troika. Dessas responsabilidades políticas ele não se livra (nem do
fracasso de todas as tentativas de ser eleito para a liderança do PSD, no fundo
o seu sonho político sempre adiado e derrotado) o que explica o recente ataque
político feito no congresso da Aliança a Jorge Sampaio e à decisão de
dissolução da Assembleia da República.
Ventura e o Chega
André Ventura, um
desconhecido político que Passos desenterrou algures para se candidatar à
Câmara de Loures – e que desde cedo se queimou com um discurso radical próximo
da extrema-direita, racista e xenófobo, mudou de direcção e ao abandonar o PSD resolveu
criar um partido novo, o Chega, com um discurso identificado com o pensamento
daquele político ultra-conservador e que usa também o seu espaço mediático de
comentador desportivo na CMTV, totalmente colado ao Benfica, como uma eventual
mais-valia, passível de o beneficiar nas eleições (nas autárquicas de 2017 foi derrotado
apesar de ter sido eleito vereador cargo que abandonou).
Ventura foi
terceiro em 2017, encabeçando uma coligação PSD e PPM (o CDS recusou integrá-la
devido ao radicalismo de Ventura) que teve quase 19 mil votos, 21,6%e 3 eleitos
para a edilidade (em 2013 a coligação PSD, PPM e MTP tinha obtido 16%, pouco
mais de 13 mil votos e 2 mandatos). Este resultado acabou por estimular Ventura
para a aventura em que ser encontra agora envolvido, embora estejamos a falar de
um universo eleitoral muito limitado (Loures e quase 87 mil eleitores
inscritos, contra pouco mais de 82 mil em 2013, confirmando-se Loures como um
dos "dormitórios" de Lisboa na
cintura da capital).
Este comentador-político
desportivo poderá obter já nas europeias a resposta para esta sua aventura, seja
para um lado, seja para o outro, ou seja, para a continuidade do projecto até
as legislativas de Outubro, seja para a sua dissolução. Jogo claramente nesta
segunda hipótese.
É neste contexto que me interrogo sobre qual o papel que estes partidos novos e pequenos podem desempenhar também na Madeira – sobretudo nas regionais de Setembro às quais
a Aliança já anunciou que vai concorrer – quer cativando a seu favor eleitores
que engrossaram a abstenção nos últimos anos, quer também eleitores que
habitualmente votam nos partidos do centro-direita e que recusam qualquer voto
útil a favor do PS ou de partidos mais à esquerda. Julgo que depois das
europeias seremos todos obrigados, ou não, a fazer (novas) contas e partidos
como o PSD e o CDS poderão ter que olhar para este fenómeno de outra forma, no
fundo também os partidos da esquerda que podem ver goradas algumas expectativas
que alimentam, incluindo as que não assumem para não serem depois apontados a
dedo em caso de frustração política ou fracasso eleitoral. Por exemplo, uma Aliança
com 4 a 5% dos votos e 3 mandatos no parlamento regional – para isso precisa de
uma lista de pessoas conhecidas e que possam dar votos ao partido já que nomes
desconhecidos comprovadamente (e o PSD-M que o diga depois do desastre
eleitoral que aconteceu em 2015) não dão votos - poderá ser fundamental no
pós-regionais de 2019. Isto promete (LFM - o quadro publicado refere nas eleições seleccionadas, o somatório dos votos PSD+CDS)
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