domingo, fevereiro 17, 2019

Nota: a crise política e de identidade no centro-direita poderá representar desafios novos também na Madeira?

Julgo que a direita portuguesa, melhor dizendo a área ideológica do centro-direita, atravessa um problema grave de identidade e de afirmação social e eleitoral. Quando assistimos a proliferação de novos partidos, ainda sem expressão eleitoral e pouco conhecidos, e por isso sem que possamos ter sobre eles qualquer opinião ou perspectiva do que possam valer, isso significa que há claramente uma crise de identidade e que há partidos que deixaram - ou correm esse risco - de ocupar um espaço social e eleitoral que aparentemente lhes pertencia.
Se em Portugal a confusão e a degradação de valores e princípios ideológicos no centro-direita começou com essa essa idiotice que meter no mesmo caso europeu (Partido Popular Europeu) dois partidos diferentes, e prosseguiu com essa patética coligação protofascista Passos-Portas que não apenas ridicularizou a política como ofendeu a nossa inteligência, na medida em que CDS e PSD - apesar de próximos espacialmente, porque situados no centro-direita onde para além deles não existia mais nada, e só por isso - têm programa, valores e princípios diferentes, incluindo um discurso político que até em termos do seu conteúdo não se pode confundir, ou melhor dizendo, não se podia confundir.
Esta progressiva perda da identidade do PSD - graças a uma corja de bandalhos que ofenderam e distorceram o legado dos fundadores do PSD e o transformaram num "albergue espanhol" (nota para evitar confusões: "Era frequente nos albergues espanhóis reinar grande confusão, portanto, havia muita falta de organização e uma grande barafunda. Ser um albergue espanhol onde impera a barafunda, a confusão...") onde toda a trampa e oportunismo saloio e hipócrita cabe - levou a que a área ideológica do centro-direita se fosse desfazendo aos poucos, atingindo de uma forma mais directa o PSD - muito menos o CDS - com o aparecimento de novos projectos de partidos cujo sucesso estará ainda por avaliar (e neste quadro lembro-se do ex-PRD associado a Ramalho Eanes, partido que acabou por ter uma existência efémera, sobretudo quando as pessoas perceberam que deixou de fazer sentido, se é que alguma vez fez sentido no espectro partidário nacional já que na realidade tratou-se de um projecto de poder pessoal sem bases seguras para existir).
A Aliança de Santana
A Aliança de Santana Lopes - figura emblemática do PSD, polémica e muito raramente levada a sério – pode constituir uma ameaça ao PSD e ao CDS, mas sobretudo porque podem entrar na imensa multidão de eleitores flutuantes, sem vínculo partidário certo, e que variam o seu sentido de voto em função da conjuntura e da conjugação de vários factores que mudam de eleição para eleição. A Aliança, dizem alguns especialistas no fenómeno eleitoral pode vir a revelar-se uma surpresa, também pelo espaço mediático que é garantido (estranhamente) por uma certa comunicação social que acha que Santana Lopes é uma referência da política nacional, quando não é nem nunca foi. Tal como Marcelo foi Presidente a reboque da comunicação social e do vergonhoso espaço de opinião onde apenas imperava a sua opinião, sem contraditório, e onde a invenção, a ficção (muitas vezes mentirosa e...) especulativa se cruzava com opiniões pessoais e alguns factos verídicos, também Santana aposta neste domínio, apesar do seu discurso redondo, sem conteúdo, vago, disperso e insonso, já que se trata do político que (por ser o vice de Barroso no PSD, quando este abandonou o governo para ir para Bruxelas) viria a estar na origem da ascensão do “socratismo” e com  este à falência do país e à troika. Dessas responsabilidades políticas ele não se livra (nem do fracasso de todas as tentativas de ser eleito para a liderança do PSD, no fundo o seu sonho político sempre adiado e derrotado) o que explica o recente ataque político feito no congresso da Aliança a Jorge Sampaio e à decisão de dissolução da Assembleia da República.
Ventura e o Chega
André Ventura, um desconhecido político que Passos desenterrou algures para se candidatar à Câmara de Loures – e que desde cedo se queimou com um discurso radical próximo da extrema-direita, racista e xenófobo, mudou de direcção e ao abandonar o PSD resolveu criar um partido novo, o Chega, com um discurso identificado com o pensamento daquele político ultra-conservador e que usa também o seu espaço mediático de comentador desportivo na CMTV, totalmente colado ao Benfica, como uma eventual mais-valia, passível de o beneficiar nas eleições (nas autárquicas de 2017 foi derrotado apesar de ter sido eleito vereador cargo que abandonou).
Ventura foi terceiro em 2017, encabeçando uma coligação PSD e PPM (o CDS recusou integrá-la devido ao radicalismo de Ventura) que teve quase 19 mil votos, 21,6%e 3 eleitos para a edilidade (em 2013 a coligação PSD, PPM e MTP tinha obtido 16%, pouco mais de 13 mil votos e 2 mandatos). Este resultado acabou por estimular Ventura para a aventura em que ser encontra agora envolvido, embora estejamos a falar de um universo eleitoral muito limitado (Loures e quase 87 mil eleitores inscritos, contra pouco mais de 82 mil em 2013, confirmando-se Loures como um dos "dormitórios" de Lisboa na  cintura da capital).
Este comentador-político desportivo poderá obter já nas europeias a resposta para esta sua aventura, seja para um lado, seja para o outro, ou seja, para a continuidade do projecto até as legislativas de Outubro, seja para a sua dissolução. Jogo claramente nesta segunda hipótese.
É neste contexto que me interrogo sobre qual o papel que estes partidos novos e pequenos podem desempenhar também na Madeira – sobretudo nas regionais de Setembro às quais a Aliança já anunciou que vai concorrer – quer cativando a seu favor eleitores que engrossaram a abstenção nos últimos anos, quer também eleitores que habitualmente votam nos partidos do centro-direita e que recusam qualquer voto útil a favor do PS ou de partidos mais à esquerda. Julgo que depois das europeias seremos todos obrigados, ou não, a fazer (novas) contas e partidos como o PSD e o CDS poderão ter que olhar para este fenómeno de outra forma, no fundo também os partidos da esquerda que podem ver goradas algumas expectativas que alimentam, incluindo as que não assumem para não serem depois apontados a dedo em caso de frustração política ou fracasso eleitoral. Por exemplo, uma Aliança com 4 a 5% dos votos e 3 mandatos no parlamento regional – para isso precisa de uma lista de pessoas conhecidas e que possam dar votos ao partido já que nomes desconhecidos comprovadamente (e o PSD-M que o diga depois do desastre eleitoral que aconteceu em 2015) não dão votos - poderá ser fundamental no pós-regionais de 2019. Isto promete (LFM - o quadro publicado refere nas eleições seleccionadas, o somatório dos votos PSD+CDS)

Sem comentários: