quarta-feira, novembro 21, 2018

Madeira: o turismo precisa de um consenso alargado, de prioridades, de diálogo entre todos os protagonistas e de muita promoção

Confesso que quando li esta notícia apanhei um susto. Duplo, melhor dizendo. Por um lado porque o turismo é um dos sectores mais importantes para a nossa economia - um peso que se acentuou depois da queda, expectável e inevitável, registada na construção e obras públicas nos anos da crise (2010-2015) que marcou o país e a RAM. Em segundo lugar porque estamos longe de um consenso generalizado entre os vários protagonistas, para que sejam definidas linhas-mestras estáveis de actuação e definidas prioridades que superem as deficiências e a Madeira, particularmente na promoção e nos transportes, possa inverter um cenário de dificuldades em crescendo que a prejudica.
Isto para não falar da pressão de destinos turísticos nas proximidades da Europa, que parecem estar a recuperar a procura, depois de terem registado quebras acentuadas devido à instabilidade social e política nesses países, nomeadamente no norte de África e Médio Oriente.
Fui a correr tentar perceber o que dizem as estatísticas oficiais - só uso estatísticas oficiais, não o faz-de-conta de folhas de excel, feitas hoje por uma entidade, amanhã por outra, só porque lhe convém para determinadas projecções ou estudos. Fiquei desiludido porque apenas estão disponíveis no site da Secretaria de turismo as estatísticas reportadas a Julho, quando é importante saber qual o comportamento registado pela Madeira nos meses seguintes, nomeadamente Agosto e Setembro, época de maior procura do chamado turismo nacional e período também negativamente marcado por convulsões no aeroporto do Funchal.

Se a questão da promoção, em termos financeiros, parece resolvida com a garantia deste reforço de mais 2 milhões de euros atribuídos pelo Turismo de Portugal, já subsistem por consensualizar formas de actuação noutros domínios não menos essenciais que assegurem a rentabilidade do sector globalmente entendido, desde a hotelaria aos restaurantes, passando pela imensidão de pequenas e médias empresas que fornecem serviços associados à indústria turística e hoteleira regional.
No caso das estatísticas do INE reportadas a Setembro de 2018, retirei as seguintes conclusões em termos nacionais mas com alusões à Madeira:
  • Dormidas de não residentes continuaram a diminuir - Os estabelecimentos hoteleiros e similares registaram 2,2 milhões de hóspedes e 6,2 milhões de dormidas em setembro de 2018, correspondendo a variações de +0,2% e -1,3%, respetivamente (+1,0% e -1,3% em agosto, pela mesma  ordem). As dormidas de residentes aceleraram e registaram um crescimento de 9,0%, enquanto as de não residentes  diminuíram 4,9% (+5,6% e -4,7% em agosto, respetivamente). No 3º trimestre de 2018 as dormidas de residentes  aumentaram 5,4% (-0,2% no 2ºT e +10,6% no 1ºT) e as de não residentes diminuíram 4,7% (-4,3% no 2ºT e +6,0% no 1ºT).
  • A taxa-líquida de ocupação-cama (63,2%) recuou 1,6 p.p. (-1,5 p.p. no mês precedente). Os proveitos desaceleraram, tendo no total apresentado um crescimento de 1,2% (+3,6% em agosto) e atingido 420,2  milhões de euros. Os proveitos de aposento cresceram 2,7% (+3,7% em agosto), ascendendo a 314,1 milhões de euros.
  • Dormidas mantiveram redução  - Em setembro de 2018, a hotelaria registou 2,2 milhões de hóspedes, que proporcionaram 6,2 milhões de dormidas, refletindo-se em variações de +0,2% e -1,3% (+1,0% e -1,3% em agosto, respetivamente). Nos primeiros nove meses do ano, os hóspedes aumentaram 1,3% e as dormidas recuaram 0,5%. As dormidas em hotéis (69,1% do total) diminuíram 0,7%. Destacou-se o crescimento de 4,4% registado nos  apartamentos turísticos, sendo ainda de referir a evolução positiva (+1,2%) nos aldeamentos turísticos. Nas demais  tipologias, ocorreram reduções.
  • Mercado interno com aceleração - Em setembro, o mercado interno contribuiu com 1,8 milhões de dormidas, acelerando para um crescimento de 9,0% (+5,6%  em agosto). Os mercados externos registaram uma diminuição de 4,9% em setembro (-4,7% em agosto) e corresponderam a 4,5 milhões de dormidas. Considerando os resultados do 3º trimestre, verificou-se uma diminuição de 1,7% no total de dormidas (-3,2% no 2ºT e +7,3% no 1ºT), com as dormidas de residentes e de não residentes a apresentarem variações de +5,4% e -4,7%, respetivamente, sucedendo a -0,2% e -4,3% no 2ºT e a +10,6% e +6,0% no 1ºT, pela mesma ordem. Nos primeiros três trimestres do ano, as dormidas de residentes aumentaram 4,6% enquanto as de não residentes  diminuíram 2,5%.
  • O mercado britânico (23,1% do total de dormidas de não residentes) recuou 10,5%. Nos primeiros nove meses do ano, este mercado registou um decréscimo de 9,7%.As dormidas de hóspedes alemães (13,9% do total) decresceram 5,3%. Desde o início do ano, este mercado recuou 4,1%. O mercado francês (9,4% do total) registou uma redução de 6,3%. No conjunto dos primeiros três trimestres de 2018, este mercado recuou 2,2%. No mercado espanhol (9,0% do total) verificou-se um aumento de 7,7%. Nos primeiros nove meses do ano, este  mercado cresceu 0,9%.Em setembro, destacou-se o crescimento registado pelo mercado norte-americano (+10,6%). Nos primeiros nove meses do ano, o realce vai para os mercados norte-americano (+20,6%), canadiano (+16,8%) e brasileiro (+11,0%). 
  • Dormidas de residentes com crescimento significativo no Algarve - Em setembro, o Norte, o Alentejo e a RA Açores foram as únicas regiões que registaram acréscimos nas dormidas (+3,6%, +3,2% e +0,5%, respetivamente). As reduções mais significativas nas dormidas ocorreram no Centro (-8,7%) e na RA Madeira (-3,9%). Nos primeiros nove meses do ano, o realce vai para os crescimentos de 4,7% no Norte (região com um peso de 13,2%  nas dormidas totais acumuladas) e de 3,2% no Alentejo (quota de 3,2% no mesmo período). 
  • Em termos de dormidas de residentes, em setembro verificaram-se aumentos em todas as regiões com exceção da RA Açores (-1,3%). O Algarve evidenciou-se com um crescimento de 19,7%, secundado pelo Alentejo (+9,7%). No período de janeiro a setembro, no que respeita a residentes, o destaque vai para o Algarve (+9,8%) e Centro (+5,0%). 
  • As dormidas de não residentes, em setembro, registaram crescimentos apenas no Norte (+3,1%) e RA Açores  (+1,4%). Os decréscimos mais acentuados registaram-se no Centro (-19,4%), Algarve (-6,1%) e Alentejo (-5,8%). Desde o início do ano, salienta-se o crescimento de dormidas de não residentes no Alentejo (+7,2%) e no Norte (+5,8%) e, em sentido contrário, o decréscimo no Centro (-12,0%). Estada média reduziu-se devido aos não residentes - A estada média (2,78 noites) decresceu 1,5%, em consequência da redução da estada média dos não residentes (-2,2%), dado o aumento (+3,1%) no caso dos residentes. A RA Madeira, Norte e AM Lisboa registaram aumentos nas estadas  médias (+2,1%, +1,3% e +0,2%, respetivamente). As reduções mais pronunciadas ocorreram no Centro (-5,1%) e no  Algarve (-4,2%). Este indicador ascendeu a 5,54 noites na RA Madeira e a 4,38 noites no Algarve.
  • A taxa líquida de ocupação-cama (63,2%) reduziu-se 1,6 p.p. em setembro (-1.5 p.p. em agosto). Apenas no Norte e no Alentejo se registaram aumentos neste indicador, ainda que ligeiros (+0,7 p.p. e +0.1 p.p., respetivamente),  sendo que as maiores reduções ocorreram no Centro (-4,7 p.p.) e RA Madeira (-2,7 p.p.). As taxas de ocupação mais expressivas foram observadas na RA Madeira (75,8%) e AM Lisboa (68,9%).
  • Proveitos repetem tendência de abrandamento - Os proveitos totais atingiram 420,2 milhões de euros e os de aposento 314,1 milhões de euros, abrandando para crescimentos de 1,2% e 2,7% em setembro (+3,6% e +3,7% em agosto, respetivamente). Entre as várias regiões, destacaram-se os aumentos de proveitos no Norte (+9,0% nos proveitos totais e +9,3% nos de aposento) e na RA Açores (+7,1% e +10,6%, respetivamente). O rendimento médio por quarto disponível (RevPAR) situou-se em 71,5 euros em setembro, o que se traduziu num  aumento de 1,4% (+2,6% em agosto). A AM Lisboa registou o RevPAR mais elevado (104,5 euros). Neste indicador são de destacar os crescimentos na RA Açores (+8,0%) e Norte (+6,5%). A evolução do RevPAR foi globalmente positiva entre as diversas tipologias em setembro. Os maiores aumentos verificaram-se nos aldeamentos turísticos (+3,7%) e nos hotéis-apartamentos (+3,0%). As pousadas e os hotéis registaram os valores mais elevados neste indicador (104,5 euros e 77,9 euros, respetivamente). (LFM)

Sem comentários: