terça-feira, fevereiro 02, 2016

Uma recandidatura que é sinónimo agarrado ao poder: Vices do PSD surpreendidos por Passos definir estratégia sem ouvir direcção

Pedro Passos Coelho surpreendeu a direcção do PSD ao divulgar um vídeo no Facebook a anunciar o ‘slogan’ da sua recandidatura - “Social Democracia, sempre -, com o qual pretende descolar-se da imagem liberal. 
A recandidatura de Passos ao PSD vai ser anunciada quinta-feira e a partir dessa data o líder do PSD vai iniciar um périplo pelas estruturas do partido para ‘vender’ uma imagem social-democrata. Mas a estratégia não foi concertada com a direcção do partido, a Comissão Permanente, que foi apanhada de surpresa, como confirmaram ao Diário Económico alguns vices do partido. Nos bastidores defende-se que a decisão de Passos de não consultar, ouvir ou informar os vice-presidentes do PSD enquanto Comissão Permanente indicia que o líder pretende deixar o sinal de que após a reeleição vai renovar a direcção. 
Fonte próxima de Passos Coelho explicou ao Diário Económico que o líder não reuniu a Comissão Permanente do PSD para debater a estratégia, nem o ‘slogan’, porque se trata “de uma candidatura individual” à liderança do partido e não de um acto enquanto líder do PSD. Certo é que é enquanto presidente do partido e único candidato à sua sucessão que Passos definiu a nova estratégia da “Social Democracia, sempre” e a ausência de diálogo com a Comissão Permanente, sabe o Diário Económico, criou mal-estar e incómodo na São Caetano à Lapa. 
O Diário Económico tentou perceber junto do gabinete de Passos Coelho em que dimensões e acções se vai corporizar o novo discurso social-democrata mas as mesmas fontes próximas do líder afirmam que “não há mudanças, nem recentramento do partido” mas apenas “o reforço da social-democracia”. Ou seja, Passos vai dizer às distritais do país - e à sociedade civil - que o ‘seu’ PSD nunca deixou cair a social-democracia - como acusam vários notáveis e históricos do partido -, apenas não a pôde aplicar em toda a sua dimensão porque teve de cumprir um programa de assistência financeira. 
O PSD nega que o novo ‘slogan’ signifique uma mudança na agulha e reitera que o Governo de Passos “sempre foi social-democrata”, dando como exemplos “a protecção das pensões baixas” durante o período do resgate. Mas o politólogo António Costa Pinto não tem dúvidas em afirmar que o novo ‘slogan’ de Passos para a campanha interna à liderança tem apenas “o significado político” de colocar o partido ao centro e tentar afastar o ex-primeiro-ministro da imagem liberal que lhe ficou colado durante os quatro anos de governo. “Estamos plenamente convictos que não deixámos a social democracia para trás, este ‘slogan’ é apenas o reforçar dessa social democracia”, justifica uma fonte próxima do presidente do PSD, garantindo que o anterior Governo manteve a social-democracia “quando fez uma revolução silenciosa nos condicionalismos industriais e empresariais” que existiam no país, criando “novas elites” e “acabando com a promiscuidade entre Estado e banca”. 
O PSD admite que a estratégia servirá de contraponto ao “radicalismo” do PS colado agora “à extrema-esquerda”. José Adelino Maltez acredita mesmo que só acenando com a social-democracia Passos conseguirá “aquecer” o partido.
Após apresentar a recandidatura quinta-feira, Passos Coelho vai reunir com todas as distritais do PSD para começar a lançar a nova imagem social-democrata e recolher contributos para a moção estratégica que terá de apresentar até dia 23 de Fevereiro. 
As directas no partido são a 5 de Março e Passos é o único candidato, não se esperando que surjam outras candidaturas, ainda que no PSD já se comece a colocar a hipótese de Passos não aguentar caso o Governo PS vingue e o líder não consiga, precisamente, recentrar o partido, isto é, reafirmar a social-democracia. Mas, para já, não existe oposição e os politólogos são unânimes em considerar que não existe espaço para que surjam. Por isso, a estratégia do líder o PSD - que surge depois de o próprio Marcelo Rebelo de Sousa ter deixado implícito durante a campanha a Belém que o PSD tinha de reinventar-se ao centro - passa por tentar descolar-se da imagem ultraliberal e de austeridade, propondo agora uma agenda de cariz mais social e “combate às desigualdades”. Uma tarefa que o próprio PSD e os analistas consideram difícil dada o posicionamento que Passos assumiu desde sempre e, sobretudo, nos últimos anos (pela jornalista do Económico, Inês David Bastos)

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