segunda-feira, fevereiro 22, 2016

Opinião: o primado da comunicação política (ou do aproveitamento mediatico dos média?) António Costa, Carlos Pereira e a confusão (PSD) com difusão de notícias

José Sócrates terá sido, especialmente no primeiro mandato - 2005 a 2009 - um mestre da comunicação política. Muitos acharam então que essa terá sido a principal "arma" do antigo dirigente socialista para ganhar as eleições legislativas de 2005 com maioria absoluta, postura que manteve ao longo do mandato. A oposição sentiu reconhecidamente enormes dificuldades, já que tudo o que ela dizia em termos públicos tinha rapidamente uma resposta política ao mesmo nível, quer por via do próprio governo, quer através do PS. Foram mais de 2,5 milhões de votos e 120 deputados em 2005, o que por si só explica a dimensão do sucesso eleitoral e de uma vitória esmagadora.
Diz quem sabe que apesar de dispor de uma vasta equipa de colaboradores para a área da comunicação, política e institucional, o próprio Sócrates chamava a si o visionamento de tudo o que ia acontecer, sendo famoso o video em que parecia mais preocupado com a pose televisiva quando minutos depois ia anunciar o resgate do país e a vinda da troika. Recordo esse momento:

A estrutura comunicacional socialista respondia eficazmente ao que era preciso e não constituiu surpresa para ninguém que Sócrates e o PS tenham voltado a ganhar as legislativas de 2009 embora sem maioria absoluta - pouco mais de 2 milhões de votos mas apenas 97 deputados - facto atribuído a factores que começavam a dar os primeiros sinais - lembro que a crise bancária começou nos EUA em 2008 - que fugiam ao controlo da governação socialista, como se confirmou em 2011. 
Este segundo mandato de Sócrates revelou-se catastrófico para ele também em termos da comunicação política e institucional, com pessoas da equipa anterior a abandonarem e com Sócrates a liderar um governo de claro acomodamento e que começou a perder o controlo da situação, perante a gravidade crescente da mesma.
Foi neste segundo mandato, logo em 2009/2010 que surgiu a polémica em torno do alegado negócio de compra da TVI, envolvendo a PT e um banco privado, tudo isto com o apadrinhamento de Sócrates. Um processo polémico que inclusivamente deu origem a uma comissão parlamentar de inquérito que pouco ou nada de seguro, consistente e privado revelou. Foi neste período que se falou na ingerência do governo socialista que terá exigido mudanças na direcção do Público, Foi neste período, como recentemente foi noticiado, que o governo de Sócrates terá tido então um envolvimento na escolha da direcção do Jornal de Notícias que, verdade seja dita, até hoje nunca foi provado.
Foi em 2011 que Sócrates perdeu a noção do pragmatismo que marcou o seu primeiro mandato, quando resolveu recandidatar-se a um novo mandato, depois da falência do pais, do pedido de resgate e da entrada da troika em Portugal. Sócrates cometeu o grave erro de desvalorizar a situação, apesar de ter resistido relativamente bem às eleições, apesar de as ter perdido - estamos a falar de 1,5 milhões de votos, apesar de tudo e de 74 deputados, quando até se poderia ter esperado muito mais perdas.
Vem tudo isto a propósito das reconhecidas dificuldades comunicacionais de António Costa - insuficências que são agora mais evidentes, porque as exigências são maiores relativamente ao que lhe era colocado como presidente da Câmara de Lisboa. Acresce que Costa tem tomado opções, neste domínio da comunicação política e institucional, que se revelam as menos adequadas, diria mesmo desastrosas. O exemplo mais evidente foram uns vídeos explicativos (?) do orçamento que para além de tecnicamente pouco atractivos (cor, gestos de Costa com as mãos excessivamente em movimento, a uma dificuldade em seguir o tele-ponto colocado à sua frente), apresentam um conteúdo político chato e por isso longe de atrair a atenção que o PS esperaria (das 15 mil visualizações no youtube no 1º video passou-se para uma média de 400 a 500 nos últimos vídeos publicados). Videos com uma mensagem política muito repetitiva, sem qualquer novidade, sem apoio gráfico, no fundo dizendo o que um deputado ou um dirigente do PS repetidamente já disse antes. Veja-se o primeiro desses vídeos:
Há claramente uma lacuna complicada neste domínio da comunicação e o PS nacional ou resolve o problema rapidamente ou vai continuar a ter dificuldades, cada vez mais acrescidas, sobretudo quando decidir provocar eleições antecipadas, se para tal Costa tiver a certeza que consegue "roubar" o eleitorado ao PC e ao Bloco que ele tanto deseja e que precsuará para sair vitorioso dessa estratégia de alto risco.
Costa reconhecidamente parece não ter perfil para o cargo tanto mais quando é sabido que construiu uma solução governativa arriscado e vulnerável só possível no quadro parlamentar maioritariamente de esquerda e ideológicamente pouco consistente. Uma solução política que parece ter servido mais os seus interesses pessoais, políticos e partidários - travou o pedido de demissão reclamado por alguns sectores do PS logo na noite da derrota eleitoral de 4 de Outubro de 2015 e impediu que Costa fosse obrigado a uma penosa travessia do deserto que poderia muito bem dificultar um futuro regresso à ribalta - do que garantir uma estabilidade para uma Legislatura. Seria uma surpresa se isso acontecesse.
Estamos a falar de um risco permanente que se mantém porque depois do complexo processo de elaboração de uma proposta de orçamento para 2016, que ninguém sabe bem o que quer e onde aposta, seguir-se-á a sua fase de execução e com ela o potencial acumular de divergências com o PCP e o Bloco, parceiros parlamentares do PS, mas que nunca hesitam em distanciar-se do governo, o tal "governo do PS" como Jerónimo de Sousa repetidamente sublinha. Há a convicção de que, independentemente das estratégia de comunicação que venha a ser dinamizada pelos socialistas - e há muito por fazer quanto a isso - o grande problema deste orçamento de estado para 2016 assenta na sua execução e na elaboração de um programa de reformas que a Comissão Europeia quer que lhe seja apresentada em Abril ou Maio deste ano, do qual inevitavelmente constarão reformas que PC e Bloco dificilmente subscreverão. É certo que os receios da esquerda, a sua desesperada luta pela sobrevivência política e, neste quadro, a recusa de eleições antecipadas no imediato, são factores que conjugados podem gerar milagres.

Madeira: CP tenta minimizar a ausência com recurso à comunicação política exagerada
Ao invés de Costa, o líder do PS na Madeira aposta quase exclusivamente na comunicação política e no aproveitamento do espaço que as redes sociais lhe proporcionam – por exemplo, é vê-lo aproveitar-se do facebook e do espaço que alguns blogues lhe propiciam para publicar textos de opinião partidários que produz diariamente, etc - na expectativa de que, por essa via, lhe seja capaz disfarçar o que parece estar a ter dificuldade em conseguir controlar no terreno, a sua ausência. É sabido que Pereira está praticamente de 3ª a 6ª feira na Assembleia da República, em Lisboa, distante do partido na RAM que começa a pensar nas autárquicas de 2017, havendo já movimentações relacionadas com essa disputa. Previsivelmente o outro deputado do PS eleito para Lisboa praticamente “desapareceu” da agenda política – repito, era previsível que assim fosse - e tenho muitas dúvidas que constitua uma mais-valia de facto quando o debate político na Madeira se acentuar. CP tem que decidir o que fazer neste domínio porque a fobia de protagonismo que caracteriza a sua postura tem marginalizado o seu companheiro de bancada, facto que poderá colocar um problema acrescido quando CP for obrigado – porque vaia ser – a suspender o mandato em Lisboa e centrar a sua atenção na Madeira. Penso aliás que este excessivo protagonismo mediático de CP pode ser-lhe prejudicial e pode inclusivamente afastar o PS de qualquer quadro eleitoral mais aliciante, e não passará disso, que seja imaginado pelos actuais dirigentes socialistas locais. Alguma coisa terá que mudar neste domínio, o da estratégia política propriamente dita.
Não acredito que Carlos Pereira acredite que vai alcançar facilmente, nas autárquicas de 2017 e nas regionais de 2019, qualquer sucesso continuando estando ausente da Região. É fácil e lógico admitir que um mau resultado nas autárquicas de 2017 poderá colocar em causa a sua própria continuidade até 2019.
Aliás, não tenho tanta certeza que ele consiga uma efectiva mais-valia só porque está na Região, o que implicaria a suspensão do mandato na Assembleia da República e a retoma do mandato no parlamento regional onde inevitavelmente estará centrado o debate político. Mantendo-se tudo como agora - o que não é plausível venha a acontecer - ou seja mantendo o PS local e CP a actividade política centrada nos fins-de-semana, desconfio que isso garanta eficácia.
Por outro lado, e fazendo fé no que tem sido publicado, curiosamente nos mesmos espaços de opinião aberta que CP aproveita nas redes sociais, o poder socialista local terá a seu tempo, muito curto tempo, um problema complicado para resolver envolvendo a candidatura do PS (?) no Funchal, e sobretudo o futuro de Paulo Cafofo – desde logo no próprio PS... - já que parecem existir divergências não confirmadas (e que não se percebe bem se pessoais ou se políticas) com o actual edil do Funchal, eleito no quadro de uma coligação alargada (CP esteve contra esta solução que acabou por ser vitoriosa, mais por demérito do PS do que por mérito da coligação em causa) que, embora de menor dimensão, fracassou em toda a linha nas regionais de 2015.
CP tenta essencialmente manter-se visível, quer por via de notícias que habilmente elabora e melhor ainda consegue difundir - sempre por via das mesmas fontes e usando canais onde parece mover-se com facilidade - mas isso não reduz o impacto negativo, nem da sua ausência da RAM nem o potencial risco de um crescente distanciamento relativamente ao PS local e a alguns sectores internos, cuja força desconheço, que se queixam todos os dias junto de meios de informação desses riscos e da particularidade da situação (bem vistas as coisas passou-se o mesmo com José Manuel Rodrigues e o CDS local durante algum tempo).
Relativamente ao confronto com o Governo Regional e o PSD regional há claramente uma aposta de CP no sentido de tudo fazer para se antecipar a tudo o que diga respeito à Madeira e possa envolver o GRM. Há vários exemplos disso, sempre em cumplicidade com alguns meios de comunicação social que parecem ser os "pontas-de-lança" escolhidos por CP neste confronto com o GRM e Miguel Albuquerque.
Apoiante de Costa na última disputa interna pela liderança nacional do PS - quando Vítor Freitas, então líder do PS-M, apostou em António José Seguro de quem é amigo pessoal e foi correlegionário da JS - reconheço que o líder do PS-Madeira tem fortes possibilidades de manter-se activo em Lisboa, de promover reuniões com ministros, secretários de estado, adjuntos de secretários de estado, etc, tudo para chegar primeiro que qualquer membro do governo regional, fazendo disso notícia e reclamando os louros de qualquer decisão favorável que venha a ser tomada por Lisboa.
Confesso que não vejo mal nenhum nisso, provavelmente no lugar dele faria rigorosamente o mesmo, tentando assumir um papel de "ponte" e desvalorizando ao mesmo tempo eventuais conquistas que negociações directas entre o GRM e o Governo da República do PS possam propiciar, e neutralizando a eventual reclamação de êxitos por parte do PSD-Madeira. O pior que pode acontecer a CP - depois da experiência política altamente penosa e negativa vivida aquando da polémica com a lei de finanças regionais em 2007 e que lhe causou e ao PS uma profunda derrota política e eleitoral da qual ainda não recuperaram - é ser mantido à margem de qualquer processo negocial entre a Região e a República, quando o governo central é socialista.
Mas esta estratégia comunicacional tem riscos políticos a uma escala regional, numa primeira fase, que podem muito bem ser exportáveis para o plano político nacional. Falo de um problema - que curiosamente PC e Bloco parecem ainda não ter percebido - que é o de, aos olhos da opinião pública regional, o PS-M nesta disputa à esquerda, dar do PC e do Bloco a ideia de "desnecessidade" pura e simples, que caso seja repetidamente “vendida” pode ter um complicado impacto eleitoral nestes dois partidos, paradoxalmente os garantes do governo do PS na Assembleia da República. Não sei como é que o Bloco e o PCP locais vão gerir isto, nem sequer sei se terão possibilidade de contrariar esta tendência ou ignorar esta realidade por muito mais tempo. Mas que existe esse risco, neste contexto e nesta conjuntura política nacional, dos madeirenses construírem dos comunistas e dos bloquistas essa imagem de "desnecessidade" na resolução dos assunto que interessam à RAM, pode levá-los a perder eleitores.

O problema de CP são os riscos que pode correr nesta acelerada vertigem comunicacional e na gestão da sua liderança que, repito, faça o que fizer, não disfarça a sua ausência semanal nem constitui uma solução recomendável em período eleitoral. Por enquanto até pode gerir o momento presente da forma que o vem fazendo. Mas, repito e insisto: quando o debate político regional se acentuar, e vai acentuar-se, centralizado na Assembleia Legislativa, quando a agressividade partidária inevitavelmente crescer, CP não pode estar ausente. Julgo que ele tem a consciência disso e provavelmente já estabeleceu para si próprio um calendário político destinado a resolver esse problema que manterá reservado.
Os cuidados das maiorias
Julgo que há no PSD-Madeira alguma confusão, que nem sequer é de hoje nem dos actuais dirigentes, entre a comunicação institucional - até o PS pode recorrer a ela sem que o seu líder seja obrigado a vir à RAM - a fuga controlada de informação e de notícias para certos meios de comunicação social, aproveitando proximidades privilegiadas e canais de contacto que já existiam em anos anteriores e noutras frentes e o discurso político, se preferirem a comunicação política propriamente dita. Uma coisa é a divulgação de notícias favoráveis, outra coisa é o retorno político decorrente desse procedimento. Ou seja a comunicação política nada tem a ver com a comunicação institucional, do Governo, dos secretários regionais, do PSD-M, nem é propaganda, porque as pessoas já mostraram que reagem mal a ela. Comunicação política não se pode confundir com marketing político que é outra coisa totalmente diferente e que tem mais a ver com as campanhas eleitorais ou com momentos específicos em que os partidos e os seus líderes estão com as suas imagens mais acentuadamente desgastadas ao ponto de precisarem de bóias de salvamento que viabilizem a recuperação aos olhos da opinião pública. Há quem ache que é tudo o mesmo, comunicação, marketing, propaganda, etc. Recuso alinhar nessa teoria.
A mensagem constante de uma opção propagandística pura e dura ou a estrutura da mensagem elaborada no quadro de uma qualquer campanha de marketing político, nada têm a ver com o conteúdo do discurso no âmbito da comunicação política propriamente dita. Relativamente ao alegado retorno propiciado pela gestão e “controlo” de canais de informação construídos com alguma comunicação social, julgo que os resultados eleitorais de 2015 não deixam dúvidas quanto aos riscos de hipervalorização desses procedimentos inconsistentes, inconsequentes e quase sempre ineficazes.
A comunicação política a que me refiro tem a ver com a estrutura e conteúdo do discurso político, com o que é valorizado e com a garantia de que é sempre dada uma resposta política adequada e imediata à oposição, sempre que necessário, evitando problemas para um partido com as autárquicas de 2017 à porta. Se elas não correrem bem, se porventura existirem dificuldades eleitorais - apesar de ter a convicção de que o que se passou em 2013 não se repetirá em 2017 - então isso quererá dizer que as regionais de 2019 poderão estar em causa, mais não seja em termos da dimensão da representação parlamentar.
Há quem julgue que o "truque" de tudo isto é fazer uns telefonemas a uns tantos jornalistas devidamente seleccionados, passar-lhes notícias ou dar-lhes dicas que servirão de base à elaboração de notícias e que tudo está resolvido. Pois é...
O que se passou com as regionais de Março de 2015 e depois se confirmou com as legislativas de 2015 - o PSD apesar de ter ganho obteve os piores resultados de sempre, beneficiando claramente do facto de se ter registado uma abstenção recorde nos dois actos eleitorais, outro sinal que devia ser ponderado - deixou alertas muito claros de que a demagogia populista e as teorias inconsistentes em torno da política muitas vezes pouco ou nenhum impacto têm. Não foi o PSD-M quem avançou com a redução em 40% as verbas transferidas pelo parlamento regional para os partidos no pressuposto que isso era um tema de interesse generalizado e não circunscrito, como de facto estava e está, a uma dúzia de comentadores anónimos de blogues e das redes sociais, e a um ou outro partido que, timidamente, se colam ao tema na expectativa de que eleitoralmente ganhem alguma coisa? O PSD-M beneficiou, em termos eleitorais, com essa sua iniciativa? Nada. Nem sequer conseguiu inverter o aumento da abstenção. Nem o PSD nem qualquer dos outros partidos.

As prioridades das pessoas não são as prioridades dos partidos, dos políticos e dos média. O que pode interessar à agenda política e mediática pode não dizer rigorosamente nada à esmagadora maioria dos cidadãos. Esta confusão entre a árvore e a floresta, acaba sempre por trazer riscos e penalizar os que insistem, por pura demagogia populista e oportunismo idiota, num discurso que todos percebem forçado (LFM)

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