sexta-feira, novembro 20, 2015

Mania de escrever: JMC, a agente de execução e uma oportunidade

José Manuel Coelho comete erros, comete frequentemente excessos, nem sempre é capaz de separar águas nem de estabelecer, no seu próprio discurso, uma espécie de linha vermelha que separe a denúncia pura e simples de factos de outras considerações, muitas delas insultuosas e especulativas que neste caso acabam por reverter-se contra ela. Uma coisa é a defesa da verdade, outra coisa é confundi-la com  a insinuação por, vezes torpe, ou com a especulação para fins eleitoralistas.
A realidade política tem sido madrasta para JMC nos últimos tempos. Com três deputados e um grupo parlamentar eleito em 2011, passou em 2015 para apenas um deputado, ele próprio, no quadro de uma coligação com o PS que acabou por ser claramente a sua salvação. Estou convencido que JMC poderia ter problema complicados caso o PTP concorresse sozinho. Coelho tem que perceber que na política há sempre um tempo para tudo, que houve um tempo terminado em 2015, provavelmente já antes disso, que hoje deixou de fazer sentido. Aliás isto aplica-se a outros partidos e políticos.
O conceito do protesto e da insatisfação é algo muito complicado. Veja-se o que se passou em 4 de Outubro com a coligação PSD-CDS que roubou salários e pensões, que facilitou despedimentos, que obrigou os jovens a emigrar, que atacou de forma criminosa o chamado estado social e as responsabilidades constitucionais do Estado para com os mais pobres e carenciados, incluindo os desempregados atirados para o abandono depois de um determinado tempo e que, mesmo assim e apesar de tudo, foi a mais votada nas legislativas nacionais.
Vem isto a propósito do facto de JMC ter visto subscrita, anos depois de ter iniciado essa espécie de cruzada, as suas acusações ao comportamento de uma agente de execução, Maria João Marques, confrontada com suspeitas de desvio de verbas nalguns dos cerca de quatro mil processos de cobrança de dívida que na Madeira, estavam a seu cargo.
De facto foi confirmado este mês no Funchal - depois de declarações feitas semanas antes pelo próprio Juiz Paulo Barreto a manifestar-se preocupado com potenciais ilegalidades - haver uma investigação em curso, conforme foi assumido pelo bastonário da Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução e pelo presidente da Delegação Regional de Lisboa da Ordem.
Segundo um deles, “nos casos em que reconhecidamente nos apercebemos que o tratamento dos dinheiros não foi próprio e adequado, nós agimos e participamos ao Ministério Público. O caso de Maria João Marques revelou-se de uma maior gravidade porque a agente de execução em causa tinha um número de processos muito grande na Madeira”, disse um deles, negando contudo a possibilidade de qualquer protecção corporativa à referida agente. Aqueles dirigentes revelaram que no caso de comprovada corrupção - “e há alguns que estão presos e outros são julgados" - "nós não queremos que esses colegas continuem na profissão a desonrar o bom nome de todos os outros, porque estamos a falar de uma minoria e de casos meramente pontuais”.
O que é essencial neste caso é que, pelo menos dois anos depois - ou mais, não posso precisar - de ter iniciado a cruzada contra esta fulana, que inclusivamente desencadeou processos judiciais contra José Manuel Coelho, o que demonstra alguma hipocrisia da estrutura de justiça (que ao ter conhecimento destes factos deveria ter recusado avançar com qualquer julgamento até que seja provada ou não a culpabilidade, da ordem dos milhões de euros, da referida agente). Como é que alguém acusada de desviar milhões de euros que não devolveu aos executados, ter a lata, a suprema lata diria eu, de ir para tribunal queixar-se de ofensas à sua honra e dignidade por parte de um político ou de qualquer cidadão em geral.
Mas qual honra e dignidade?! Até que seja provada a sua inocência - algo que parece não ser provável - essa fulana não tem direito a ter sequer um pingo de honra e de dignidade. Nem o direito sequer a ser atendida pelos tribunais, já que é de justiça que falamos.
É por isso que não posso deixar de sublinhar o empenho de JMC na denúncia desta situação, embora reconheça que nunca foi levado a sério exactamente devido aos excessos, à forma como abordou o assunto, às insinuações, suspeições e ataques permanentemente efectuados, provavelmente sem que ele tivesse em seu poder qualquer documento que desse sustentação ao que dizia. Limitava-se a ampliar denúncias de queixas que lhe chegavam. Mesmo assim, e neste caso em concreto, acho que José Manuel Coelho venceu esta cruzada, acabou por ver provadas as denúncias efectuadas o que certamente não deixa de constituir um sucesso pessoal e político.
Repito e insisto, se fosse capaz de alguma contenção, se fosse capaz de estrutura um discurso e denúncia e de protesto sem misturar os factos com a mera suspeição, a manipulação e as acusações e ataques pessoais, só porque lhe apetece ser assim, se perceber que passou de 3 para 1 deputado e que votações recentes do PTP deixam no ar dúvidas quanto ao que lhe pode acontecer a curto prazo, talvez JMC volte a reencontrar espaço e o seu lugar próprio. Evitando problemas pessoais complicados, que acabam por envolver a própria família. Este desfecho com a agente de execução poderia ajudá-lo. Deveria também constituir uma oportunidade para repensar a sua postura política nestes casos em concreto, sem beliscar a sua postura de denúncia e de protesto, uma espécie de imagem de marca pessoal da qual não é possível dissociar-se.

1 comentário:

Anónimo disse...

O facto é que essa senhora, agora é Advogada... o que também acho uma loucura, como é que a Ordem dos Advogados a integrou, tendo em conta que o Advogado deve ser um homem médio.... Mas a justiça é só para alguns, se eu for apanhado a furtar uma maçã no Pingo Doce, vou preso, mas a esta.... nada.