sábado, novembro 21, 2015

Mania de escrever: imaginem que Cavaco não tinha estudado todos os cenários...

Imaginem o que não aconteceria se Cavaco Silva, como ele próprio afirmou, não tivesse estudado todos os cenários pós-eleitorais possíveis.... Passados quase 50 dias depois das eleições, só falta que Cavaco convide os protagonistas  de todas as bandas desenhadas que conhecemos para irem a  São Bento.
O homem que afirmou que não se deixa pressionar, afinal a que é que se sujeita - se não ser pressionando - quando convida banqueiros, antigos ministros das finanças e não sei quem mais a Belém?!
Deixe-mo-nos de tretas.
Cavaco está deliberadamente a demorar, está vergonhosamente a gozar com os portugueses, faz declarações patéticas como as que fez no Funchal - ainda por cima nem acertou, como sempre, nos exemplos dados. É uma personagem em final de mandato, que já não conta para nada, que percebeu os erros cometidos, erros graves diga-se em abono da verdade, ao longo deste processo, e que todos desejamos que faça as malas rapidamente e se ponha a andar ainda mais rapidamente para ver se consegue preservar alguma dignidade. Foi uma perda de tempo lamentável de quem há uns anos falou no "Monstro" mas esqueceu-se - tadinho - que foi com ele e os seus governos que a dívida pública portuguesa mais cresceu relativamente ao PIB.
Tenho para mim que Cavaco é um homem isolado, sem alternativas, pressionado pelos factos e agora temendo três situações concretas:
- por um lado a crítica caso opte por um governo de gestão que todos recusam e que apenas agravaria ainda mais a crise social e política e não agradaria aos nossos credores, ou seja, originando uma situação que nada tem a ver com a lógica defendida por Cavaco;
- a recusa, porque seria desastroso para a sua imagem e para o seu mandato, em atirar para o futuro PR uma solução política que Cavaco constitucionalmente não pode ter, perspectiva que já foi directamente criticada por Marcelo Rebelo de Sousa, para irritação do PSD e do CDS que continuam a manter Marcelo "refém" de chantagem política não formalizando oficialmente o seu apoio;
- o receio de sujeitar-se a uma pressão de rua, já que a Intersindical, claramente um braço armado do  PCP, anunciou que se Costa não for convidado a formar governo o país vai confrontar-se com manifestações e greves. Aliás é neste quadro que se insere a pressão do PCP, que leva o Bloco a reboque, visando a reversão do processo de privatização das empresas do sector dos transportes, porque este é um dos sectores de actividade onde as estruturas sindicais, controladas pela Intersindical e pelo PCP, mais força assumem, dado que podem paralisar o país, caso queiram.
Cavaco cometeu dois erros graves nos últimos meses - e nem sequer falo na colagem excessiva ao governo de direita - que condicionaram muito a sua postura e o remetem agora para uma posição complicada em que se exige uma decisão rápida, que não me espanta nada que venha a ser anunciada logo no início da semana. Quais foram esses erros?
- Não se ter imposto a Passos e Portas e decidido convocar eleições legislativas para Junho, por forma a dar tempo e espaço a que fossem tomadas todas as decisões, incluindo a dissolução do parlamento e a convocação de novas eleições, caso se verificasse este  desfecho eleitoral e parlamentar. Cavaco acabou por perder autoridade, fez um frete a Passos e meteu água, sendo ele a causa de tudo o que se passou, porque sabia que ao convocar eleições para Outubro corria este risco e podia, como aconteceu, o de também não conseguir resolver um problema complicado com Bruxelas relacionado com o processo de elaboração e envio de um "draft" do Orçamento de Estado para 2016, algo impensável que fosse feito por um governo condenado a ser derrubado;
- o conteúdo desastroso, concretamente a segunda parte, do discurso feito quando convidou Passos a formar governo, sabendo de antemão que esse executivo estava condenado ao fracasso devido às posições assumidas pelo PS e demais partidos à sua esquerda. Cavaco no dia em que o PS reuniu a sua Comissão Nacional apelou à revolta dos deputados socialistas - penso que estaria a pensar nos 14 deputados conotados com Seguro - para que recusassem o voto contra o programa do governo da coligação de direita, estratégia deliberada que acabou por gerar exactamente uma resposta diferente, a unidade de todos os deputados socialistas e o reforço da posição de Costa no final dessa reunião da Comissão Politica Nacional do PS no mesmo dia em que discursou.
Já durante o processo pós-eleitoral, Cavaco cometeu aquele que em meu entender poderá ter sido o erro - ou provocação? - político mais grave, ao não chamar Costa a Belém, na qualidade de líder do maior partido da oposição, no mesmo dia em que convidou Passos, sabendo de antemão que dificilmente a coligação de direita teria sucesso no processo negocial com os socialistas. Ao ignorar deliberadamente Costa, ao desvalorizar o seu estatuto à luz do novo quadro parlamentar, Cavaco provocou claramente o líder socialista e poderá ter originado uma reacção política de recusa de qualquer entendimento com a coligação de direita ou mesmo apenas com o PSD - um cenário que chegou a circular nos corredores políticos lisboetas.
Chegamos a um ponto em que Cavaco é um pesadelo para o PS e aliados da esquerda, por temerem que ele coloque mais obstáculos ou dificulte a indigitação de Costa - cenário que não acredito seja muito plausível - mas é também uma esperança ténue para a direita, que acha que o PR deve dificultar a vida ao PS, que deve dificultar a vida a Costa, mesmo sabendo - porque PSD e CDS sabem disso - que ele não tem alternativa dada a configuração actual da Assembleia da República.
Cavaco tem um problema quando marcou eleições para Outubro e devia ter escolhido Junho: deixou constitucionalmente de poder dissolver a Assembleia da  República como tenho a certeza  que lhe apetecia e ficou impossibilitado de convocar  eleições legislativas, mesmo correndo o risco do desfecho ser igual,. ou até mesmo pior - atendendo aos desejos do Presidente - ao actualmente existente depois das eleições de 4 de Outubro.
Cavaco, se alimentar por muito mais tempo esta situação de indefinição e de impasse, vai sair mal da fotografia, pior do que já está.  Julgo que se não convocar o Conselho de Estado - e admito que o deveria ter feito, porque no fundo é esse órgão consultivo presidencial e não aquele desfilar de oportunistas e de vaidades corporativistas - admito que Cavaco queira tomar uma decisão já no início da próxima semana.
Não quero acreditar - nota final - que  Cavaco tenha optado por este procedimento de demorar mais de 50 dias a encontrar uma solução, por estar conivente com a direita e tentar que, à medida que se prolongasse a espera por uma decisão, os novos parceiros do PS, devido à formalização de iniciativas legislativas, pressionassem os socialistas ao ponto de colocar em causa a alegada solidez, que não existe, na alternativa liderada por Costa.
Certo certo é que  Cavaco tem poucas ou nenhuma alternativa e que é hoje um homem sozinho, em quem poucos são aqueles que acham piada ao que tem feito a esta falta de celeridade a estas contradições constantes a estas asneiras analíticas de um saloio pacóvio que rapidamente vai passar à história sem honra nem glória. Porque não as merece.  Decididamente (LFM)

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