Escreve o Observador: “Desalavancagem? Qual desalavancagem?” é título
do último “Relatório de Genebra”, um documento publicado esta segunda-feira que
vem alertar para o risco de uma nova crise económica global. O baixo
crescimento mundial e a incapacidade dos Estados e das empresas reduzirem os
níveis de dívida, ou seja, promover a desalavancagem, criam uma “mistura
venenosa” que pode perturbar gravemente a economia global. Para que esta
“mistura venenosa” não resulte numa nova crise económica global, os principais
bancos centrais mundiais têm de manter as taxas de juro baixas por “muito,
muito tempo”. Perante expetativas de um crescimento relativamente baixo nos
próximos anos, só com taxas de juro baixas será possível reduzir os níveis de
dívida, que continuam em recorde em várias partes do mundo apesar das políticas
de consolidação orçamental. O “Relatório de Genebra” é elaborado por um
conjunto de economistas de relevo, incluindo antigos líderes de bancos
centrais. É encomendado pelo International Centre for Monetary and Banking
Studies e surge num momento em que se acredita que a Reserva Federal dos EUA se
prepara para fazer a primeira subida de taxas de juro desde a crise financeira
de 2008. Quanto a isso, o relatório pede “cautela”.
“Periferia” da Zona Euro “extremamente vulnerável”
“O legado da crise ainda é um problema enorme para várias economias
desenvolvidas – especialmente na periferia da Zona Euro – que continuam numa
situação extremamente vulnerável”, pode ler-se no documento assinado por
economistas de renome como Luigi Buttiglione, Philip Lane, Lucrezia Reichlin e
Vincent Reinhart. Os economistas detetam um “círculo vicioso de endividamento e
tentativas políticas de promover a desalavancagem e, por outro lado, um
crescimento económico nominal mais lento”. O que cria condições para que possa
ocorrer “uma de duas situações: um processo de desalavancagem lento e doloroso
ou uma nova crise, desta vez possivelmente com origem nas economias emergentes
(com a China a representar o risco mais grave)”. Segundo os cálculos da equipa
de economistas, o montante total em dívida pública e privada (quando expurgada
a dívida das empresas do setor financeiro) ascende a 212% do Produto Interno
Bruto (PIB) global. Era 160% em 2001. E a crise financeira global iniciada em
2008 levou este rácio a aumentar em 38 pontos percentuais, um “ritmo
implacável”, diz o “Relatório de Genebra”.”Ao contrário do que se acredita um
pouco por todo o lado, o mundo ainda não começou a reduzir a dívida e o rácio
global de dívida face ao PIB ainda está a crescer, fixando novos máximos
históricos”, pode ler-se no relatório. Os autores recomendam às autoridades
internacionais a adoção de medidas mais diretas de diminuição da dívida”