quarta-feira, outubro 08, 2014

Os meninos ricos de Teerão irritam os conservadores e desafiam o regime

Escreve o DN de Lisboa: "A Página no Instagram já tem quase 50 mil seguidores. Mas não falta quem critique o estilo de vida pouco islâmico destes jovens que não hesitam em exibir os carros e as roupas de marca enquanto a economia iraniana enfrenta sanções. Numa edição recente, a revista The Economist garantia que a Porsche “vendeu mais carros em Teerão em 2011 do que em qualquer outra cidade do Médio Oriente”. Não espanta por isso que as imagens de jovens residentes da capital iraniana ao volante dos seus bólides sejam das mais comuns na página Rich Kids of Tehran ( Meninos Ricos de Teerão) no Instagram. Por ali não faltam também fotografias de jovens de minissaias, decotes profundos e maquilhagem pronunciada ou de outras vestidas de forma mais conservadora, com véu e tudo, antes de um almoço num dos restaurantes de luxo de Teerão. São jovens, bonitos, ricos e não hesitam em mostrar nas redes sociais este lado menos conhecido da vida no Irão, recuperando um glamour que a elite iraniana já exibia nos tempos do xá, antes de a revolução islâmica de 1979 vir impor o seu rigor à sociedade. As críticas, essas, também não faltam – vindas dos setores mais conservadores da sociedade ou do regime do país dos ayatollahs.
Perante as críticas de que têm sido alvo, os jovens que gerem a conta de Instagram decidiram usá- la para responder. E durante o passado fim de semana escreveram naquela rede social: “Todos os países do mundo têm ricos e pobres. Eu sei que pode ser emocionalmente desgastante para algumas pessoas que não têm acesso a este tipo de vida que é retratado nestas fotografias, mas ninguém vos obriga a seguir- nos.” Apesar da imagem de austeridade que passa para o exterior, o Irão não deixa de ser um país onde a juventude tem acesso fácil a álcool, drogas e sexo, se souber onde procurá- los. Mesmo se o medo de ser apanhado pelas autoridades os torna extremamente prudentes. Além disso, estes jovens das elites, habituados a ter tudo aquilo que querem e que o dinheiro lhes pode comprar, parecem pouco dispostos a obedecer às regras. Afinal, o Instagram, como outras redes sociais, é censurado no Irão. Mas a decisão de 2012 do Ministério das Telecomunicações para o bloquear continua à espera de ser aplicada, o que mostra bem que a rigidez neste país de maioria muçulmana xiita não é total. A verdade é que esta exibição de luxo por parte destes jovens de Teerão, muitos deles filhos da elite governante, já conseguiu atrair quase 50 mil seguidores no Instagram. Uma legião de fãs que acompanham as vidas destes privilegiados num país que é a segunda maior economia do Médio Oriente, com um PIB de 366 mil milhões de dólares e um PIB per capita de 4520 dólares. Mas onde pesam as sanções impostas pelo Ocidente em retaliação pelas ambições nucleares de Teerão. O desemprego continua acima dos 10% e promete ser um desafio para o governo.
Apesar de uma economia em recessão e da superinflação que se regista no país, os Meninos Ricos de Teerão – uma ideia que nada tem de original, inspirando- se em grupos americanos semelhantes em Beverly Hills ou Nova Iorque – representam aquele 1% da população que continua a viver uma vida de luxo e opulência. A revista US News & World Report compara- os mesmo aos oligarcas russos, “esses magnatas que no fim da era soviética conseguiram enriquecer através de meios pouco transparentes”. A maior parte desta riqueza, garante a mesma publicação, é acumulada por pessoas que trabalham no setor da banca, por tecnocratas e até por clérigos – “todos eles com ligações diretas ao regime”. Outros enriqueceram graças ao petróleo, e apesar das sanções. Tudo porque, explica o diário britânico The Guardian, “se o petróleo não pode ser vendido através dos canais habituais, existem outros pelos quais pode ser canalizado”.
Com a chegada ao poder, há pouco mais de um ano, do presidente Hassan Rohani – ele próprio um grande utilizador do Twitter – o Irão tem revelado maior abertura ao mundo. Empenhado em melhorar a imagem do seu país e em reconquistar a confiança da comunidade internacional – manchada pelos anos de poder do seu antecessor, Mahmoud Ah - madinejad, representante da linha dura do regime –, Rohani optou por uma abordagem mais moderada e pragmática. Um dos seus últimos tweets elogia a prestação das iranianas nos Jogos Asiáticos “enquanto mantiveram os valores islâmicos” e há algumas semanas saudou a atribuição da prestigiada Medalha Fields da Matemática à iraniana Maryam Mirzakhani, a primeira mulher a vencer o galardão. E até publicou uma fotografia da académica sem véu. Mas não se pense que esta abertura é partilhada por todas as instituições deste país multimilenar que já se chamou Pérsia. Em setembro, seis jovens foram condenados a 91 chicotadas por terem publicado no YouTube um vídeo seu a dançar a música Happy de Pharrell Williams"